

O projeto nasceu quando Vandré Fernandes recebeu a oferta de imagens de um filme que Osvaldão fez como ator quando morava na antiga Tchecoslováquia. Eram cenas inéditas, com direito a fluência no idioma daquele país. A partir daí, Vandré reuniu a equipe e iniciou a elaboração do roteiro. “Tínhamos a marcação de que ele era um líder, um mito. Então, optamos por fazer a nossa narrativa”, explica.
Com 78 minutos, o longa apresenta um panorama cronológico do personagem. Começa em Passa Quatro, no Sul de Minas, onde ele nasceu, em 1938. Entre os entrevistados estão amigos de infância, familiares e colegas guerrilheiros. A estrutura é bastante convencional, formada por imagens de arquivo e depoimentos.
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De acordo com Vandré, nem os parentes de Osvaldão conheciam as imagens dele gravadas em Praga. Os sobrinhos nem sequer conheciam sua voz. “Para eles, foi uma surpresa e uma coisa muito importante. Isso começou a nos nortear”, detalha o diretor. As demais cenas históricas vieram do Arquivo Nacional e da Cinemateca Brasileira.
A família colaborou com cartas e fotos. Aí está outra curiosidade sobre o processo de produção do filme: na época da ditadura, o pai de Osvaldão guardou no porão todo o material sobre o filho. “Ele nunca falou sobre isso. Depois que morreu, foram reformar a casa e encontraram as fotos escondidas”, conta Fábio Bardella.
Responsável pela fotografia do longa, Bardella diz que uma das maiores dificuldades foi obter imagens de Osvaldão no Araguaia, onde o mineiro liderou o grupo de guerrilheiros do PC do B e se tornou figura lendária. Moradores lembram histórias fantásticas e contam que Osvaldão era imune a tiros e emboscadas.
O projeto original era rodar um curta-metragem sobre Osvaldo Orlando da Costa. Porém, a riqueza do material encontrado fez com que o filme chegasse a 78 minutos. Apesar da narrativa excessivamente linear, o documentário é outra bem-vinda reconstituição de um período da história do Brasil carente de registros.
• História do Brasil
» MAO
Com a missão de organizar a “guerra popular prolongada”, inspirada nas ideias de Mao Tsé-tung, Osvaldão foi o primeiro militante do Partido Comunista do Brasil (PC do B) a chegar ao Araguaia, em 1966. Em 1972, o grupo reunia 70 militantes, que usavam nomes falsos e se apresentavam como agricultores, barqueiros, curandeiros e mascates.
» INTERIOR
Para os guerrilheiros, o interior do Brasil era estratégico para a tomada de poder – de lá, a revolução se alastraria para os centros urbanos. O grupo articulado pelo PC do B resistiu a várias ofensivas do Exército, que chegou a mobilizar 5 mil homens para combatê-los.
» DERROTA
No Natal de 1973, o Exército prendeu e espancou moradores para chegar aos guerrilheiros. Eliminados na floresta, eles tiveram as cabeças arrancadas. Calcula-se que 59 militantes, no mínimo, perderam a vida. O Exército impôs lei de silêncio sobre o fato e sumiu com os corpos, até hoje reivindicados pelas famílias.
Fonte: História Viva