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"Certa vez, um dos meus vizinhos chamou a polícia, porque achou que eu era um assassino perambulando pela vizinhança", ele diz, para embarcar em uma nova gargalhada. "Mas sempre me vi como esse cientista louco. Amo Frankenstein e coisas assim. Acho que, por isso, gosto de fazer filmes em stop motion, porque é algo meio digno de um cientista maluco, mesmo, algo que não existe mais, mas você segue ali, montando quadro por quadro, para fazer as coisas se moverem na tela."
Jasão e os Argonautas (1963), filme pioneiro na técnica, de Ray Harryhausen, está entre as referências de Burton durante o papo de Burton e outros três jornalistas, antes da sessão de fotos e um encontro com um auditório repleto de outros repórteres. Mas ele também revela adorar o trabalho de Zé do Caixão (chamado por ele na versão do nome do brasileiro em inglês, Coffin Joe). "Não assisto a seus filmes há muito tempo", diz. "Mas assisto a vários desses filmes estranhos. Não gosto daqueles filmes que as pessoas consideram ótimos. Gosto de trash, como esses que eu faço."
Fã de filmes de terror, que flertam com o grotesco, Burton os assistia durante a infância. Sem medo algum. Não se vê, contudo, fazendo um longa como esse. "É, não sei se conseguiria fazer um filme de terror", ele diz, embora algumas de suas produções, como Os Fantasmas Se Divertem (1989) e Sweeney Todd (2010), beirem o terror, mesmo com altas doses de lúdico. "De alguma forma, esses filmes nunca me assustaram. O que me assustava, quando criança, era a vida real. Era ir para a escola, meus pais meus parentes. Isso, para mim, era aterrorizante."
O Mundo de Tim Burton, que fica no MIS até o dia 15 de maio, nasceu no MoMa, em Nova York, em 2009, passou por outras cidades do mundo até estrear na América Latina em São Paulo. "Jenny He (curadora da exposição desde a estreia nos Estados Unidos) passou anos revirando a minha minhas gavetas para encontrar essas coisas", ele lembra. São 500 artefatos, grande parte desenhos, rascunhos e ideias colocadas em práticas nas produções de Burton ou reservadas à sala dos projetos não realizados, chamada por ele como "a mais triste de todas". "Não me lembrava de parte dessas peças. Mas é tudo muito pessoal. E, por isso, o início da exposição, em Nova York, tenha sido tão aterrorizante" explica o diretor que explica não ter visitado museus até ultrapassar a casa dos 20 anos.
O Mundo de Tim Burton narra uma visita pela cabeça do diretor, passando por sentimentos como terror, alegria, felicidade, melancolia. "É isso que nos faz humanos, não é?", ele diz. Ainda assim, entre humanos, Burton se sente desconfortável ao ver obras tão pessoais, criadas em momentos de introspecção, expostas ali. Personagens como Edward Mãos de Tesoura, nasceram desses momentos. "Me sinto mais confortável sentado em um bar escuro, sem que as pessoas estejam prestando atenção em você", ele diz. "Não gosto de me sentir exposto."