O cineasta, de rosto facilmente reconhecível, principalmente pelos cabelos quase propositalmente desgrenhados, assim como os personagens protagonistas de alguns de seus filmes, de Edward Mãos de Tesoura (1992) a Frankenweenie (2012), explica que foi uma criança de gostos diferentes - ou esquisitos. Adorava filmes de terror e se identificava com a ideia do cientista louco que cria Frankenstein (a referência mais clara disso é no praticamente autobiográfico e já citado Frankenweenie). Era exatamente como aquele garoto do longa, morando em Burbank, subúrbio de Hollywood (com vista para a traseira do famoso letreiro), sem amigos, preso dentro do seu próprio mundo, realizando pequenos filmes e curtas metragens - espera-se, apenas, que ele não tenha tentado ressuscitar o cachorrinho como o personagem da animação em stop motion.
"Certa vez, um dos meus vizinhos chamou a polícia, porque achou que eu era um assassino perambulando pela vizinhança", ele diz, para embarcar em uma nova gargalhada. "Mas sempre me vi como esse cientista louco. Amo Frankenstein e coisas assim. Acho que, por isso, gosto de fazer filmes em stop motion, porque é algo meio digno de um cientista maluco, mesmo, algo que não existe mais, mas você segue ali, montando quadro por quadro, para fazer as coisas se moverem na tela."
Jasão e os Argonautas (1963), filme pioneiro na técnica, de Ray Harryhausen, está entre as referências de Burton durante o papo de Burton e outros três jornalistas, antes da sessão de fotos e um encontro com um auditório repleto de outros repórteres. Mas ele também revela adorar o trabalho de Zé do Caixão (chamado por ele na versão do nome do brasileiro em inglês, Coffin Joe). "Não assisto a seus filmes há muito tempo", diz. "Mas assisto a vários desses filmes estranhos.
Fã de filmes de terror, que flertam com o grotesco, Burton os assistia durante a infância. Sem medo algum. Não se vê, contudo, fazendo um longa como esse. "É, não sei se conseguiria fazer um filme de terror", ele diz, embora algumas de suas produções, como Os Fantasmas Se Divertem (1989) e Sweeney Todd (2010), beirem o terror, mesmo com altas doses de lúdico. "De alguma forma, esses filmes nunca me assustaram. O que me assustava, quando criança, era a vida real. Era ir para a escola, meus pais meus parentes. Isso, para mim, era aterrorizante."
O Mundo de Tim Burton, que fica no MIS até o dia 15 de maio, nasceu no MoMa, em Nova York, em 2009, passou por outras cidades do mundo até estrear na América Latina em São Paulo. "Jenny He (curadora da exposição desde a estreia nos Estados Unidos) passou anos revirando a minha minhas gavetas para encontrar essas coisas", ele lembra.
O Mundo de Tim Burton narra uma visita pela cabeça do diretor, passando por sentimentos como terror, alegria, felicidade, melancolia. "É isso que nos faz humanos, não é?", ele diz. Ainda assim, entre humanos, Burton se sente desconfortável ao ver obras tão pessoais, criadas em momentos de introspecção, expostas ali. Personagens como Edward Mãos de Tesoura, nasceram desses momentos. "Me sinto mais confortável sentado em um bar escuro, sem que as pessoas estejam prestando atenção em você", ele diz. "Não gosto de me sentir exposto.".