Nesta sexta, na 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, tem cardápio farto de longas-metragens. Vão ser exibidos cinco filmes: Planeta escarlate (MG), de Dellani Lima e Jonnata Doll; Jovens infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança (SP), de Thiago B. Mendonça; Geraldinos (RJ), de Pedro Saber e Renato Martins; Animal político (PE), de Tião; e Being boring (RJ), de Lucas Ferraço Nassif. O primeiro às 18h, o último às 24h. Gêneros variados (de ficções a documentários, passando por produções que misturam várias tonalidades narrativas), temas idem, todos são estreias e mostram o que fazem os novos diretores do cinema brasileiro.
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O filme afirma o que o diretor chama de cinema de interiores. Isto é: “Filmes feitos em cidades do interior e sobre a interioridade humana”, conceitua. A história é ambientada em Conceição de Ipanema (MG). “Vendo o mundo a partir do interior, descobre-se outro ritmo do tempo, medos, o estar ilhado em lugar e sem comunicação. Mesmo com internet, existem muitas cidades isoladas”, observa. “O mistério do planeta reverbera mais em lugares silenciosos, escuros, com muita mata, do que nas grandes cidades”, garante. A base da trama veio de conto de Jonnata Doll, que além de codiretor, atua como ator.
Dellani Lima foi o vencedor da Mostra Transições com o longa O tempo não existe no lugar que estamos (2015), cujo júri é formado por estudantes de no máximo 25 anos. Ele enfatiza filmes que revelam um olhar cinematográfico em construção. Ele é ainda músico, tem três discos lançados (o mais recente, Sem coração, de 2015, em que canta, compõe e toca vários instrumentos) e ator (está no elenco do filme Tropikaos, de Daniel Lisboa, exibido na mostra este ano). O diretor se define como artista multimídia. “O artista contemporâneo está virando alguém que mexe com tudo”, afirma. Senão, alguém que atua com várias mídias, observa, um criador que conhece várias atividades do meio eleito para se expressar.
FUTEBOL Quem gosta de futebol tem um filme para ver às 21h, no Largo das Forras, a praça central de Tiradentes: Geraldinos, de Pedro Asbeg e Renato Martins. Trata-se de documentário sobre o fim da geral no Maracanã. O nome remete ao apelido que o cronista esportivo Washington Rodrigues criou para os torcedores que ficavam na geral (os que ficavam na arquibancada ele chamou de Arquibaldos). “É filme também para quem não gosta de futebol, porque trata de um problema sério que ocorre no Brasil: a elitização dos espaços públicos”, explica Pedro Asbeg.
O filme soma imagens de arquivo com registro das 10 últimas partidas em que o Maracanã teve geral. “É o pior lugar do estádio para ver o jogo. Mas comemorar um gol na geral é inesquecível”, conta o flamenguista Pedro Asberg. Futebol, para ele, é tema importante da cultura brasileira. “É tão expressão do brasileiro quanto a música. Mobiliza, entretém, pode politicar ou alienar. É, para nós, mais do que um esporte”, afirma. Com relação à filmografia sobre esportes no Brasil, conta que, antes rarefeita, ela tem se expandido consideravelmente, com documentários realizados por emissoras a cabo especializadas no assunto.
A filmografia de Pedro Asbeg é toda voltada para o documentário. “É cinema que tem força própria porque traz o real, o concreto. O que está sendo mostrado, ocorreu ou está ocorrendo na sua frente”, argumenta. Trata-se, continua, de gênero complexo, pelo que cobra de pesquisa e investigação. O diretor começa a realizar, em março, longa sobre violência urbana e milícias filmado no Brasil, México e Colômbia.
Coprodução em debate
Estima-se que, nos últimos 10 anos, 96 filmes brasileiros foram produzidos internacionalmente. Isto é: produtores nacionais buscaram sócios de outros países para levantar recursos para as realizações, acesso a equipamentos e apoio técnico para a finalização dos filmes. E, especialmente, para conseguir melhor inserção possível de seus produtos no mercado internacional – Estados Unidos, Europa e América Latina. Novidade quando se considera que, há 20 anos, tal sistema de produção era praticamente inexistente.
“Existe interesse maior do Brasil no mercado internacional e do mercado na produção brasileira”, conta Paulo de Carvalho, de 54 anos, da produtora Autentika, um brasileiro que vive e trabalha há 25 anos na Alemanha. Ele é, ainda, o coordenador do Brasil Cine, encontro anual em Belo Horizonte (em outubro) que apresenta projetos brasileiros a agências financiadoras internacionais. Em cena, observa o produtor, a busca de retorno do capital investido, “que nunca se sabe se vem”. Mas, conta, o reconhecimento de um filme abre portas importantes.
Pesa no interesse do produtor de outros países pelo Brasil, observa Carvalho, a diversidade de abordagens e “o volume alto” de recursos destinados para o cinema. “A produção mais autoral tem menos recursos, mas é assim em todos os países”, explica o produtor. E, avisa, há produtores interessados em todos os tipos de filme, desde os comerciais até os experimentais. “O importante é buscar o coprodutor certo, que acredita no projeto de acordo com o perfil dele, e que participe da definição de estratégias para lançamento e venda das obras”. Projeto claro, bem definido, apresentado com objetividade e simplicidade é valorizado.
Para Paulo de Carvalho, a busca de coprodutores internacionais, pelos realizadores brasileiros tende a se manter e crescer. O motivo: “Há nova geração de produtores que encara de forma positiva a coprodução”. A Autentika, no momento, é coprodutora do filme Antes o tempo não acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, que está na sessão panorama do Festival de Cinema de Berlim. Participaram, ainda, do filme Girimunho, dos mineiros Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, que ganhou pencas de prêmios pelo mundo. Anda, também, sonhando em participar de novos projetos da dupla.