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Oportunismo?

'Birth of a nation': filme sobre escravo herói pode ser usado para limpar a barra do Oscar

Direitos de distribuição do longa foram vendidos por quantia recorde; Hollywood investe pesado para afastar peso do racismo

Bossuet Alvim

Drama biográfico de um escravo rebelde na era pré-Guerra Civil dos EUA, Birth of a nation bateu recorde com o preço de venda para uma distribuidora em Sundance, maior festival de cinema independente do mundo.

Adquirido pela Fox Searchlight, o longa escrito, estrelado, dirigido e financiado por Nate Parker arrecadou R$ 71,8 milhões em disputa que ainda envolveu outros grandes nomes da indústria, como Paramount, Sony e Netflix. Pelo porte do investimento, a produção já é considerada uma das favoritas na corrida por indicações ao Oscar 2017, daqui a 13 meses.

 

O projeto dos sonhos de Parker entrou em pré-produção há dois anos e teve orçamento de R$ 41 milhões, com parte dos gastos custeados pelo próprio ator, conhecido no Brasil por papéis em longas como A vida secreta das abelhas (2008). O norte-americano ainda assina o roteiro de Birth of a nation, que conta a história de Nat Turner, negro transformado em mártir do movimento abolicionista. Escrita, dirigida e estrelada por Nate Parker, cinebiografia de escravo que liderou rebelião tende a ser usada para diminuir o tom das acusações de racismo contra Hollywood - Foto: DivulgaçãoInteresse secundário
A aquisição milionária dos direitos de distribuição de Birth of a nation é apontada por veículos especializados como uma tentativa de redimir Hollywood das acusações de racismo e segregação despertadas pelo mais recente Oscar, que entrega os troféus em 28 de fevereiro.

 

A premiação, que pelo segundo ano consecutivo indicou apenas pessoas brancas às principais categorias artísticas, encontra-se no centro de um debate que envolve boicote à cerimônia e uma reformulação pró-diversidade nos parâmetros de adesão à entidade julgadora.

A treze meses da próxima edição, a esperança da Academia pode residir no longa de Nate Parker. Para veículos como a revista Variety, o filme tende a ser usado para limpar a barra do Oscar 2017, tanto por méritos próprios — o crítico Justin Chang o descreve como "artisticamente modulado, mas intermitentemente exaustivo" — quanto pela conveniência de colocar, em meio a esta crise de imagem, um herói histórico do movimento negro sob os holofotes (brancos) da capital do cinema americano. Com direitos vendidos por quantia jamais alcançada no Festival de Sundance, 'Birth of a nation' tem pela frente, certamente, uma franca campanha rumo às indicações da Academia - Foto: DivulgaçãoHerói incontestável

O protagonista de Birth of a nation estrela há anos os sonhos de Nate Parker, que tomou como projeto pessoal levar às telas a trajetória real do personagem histórico. Nascido escravo no estado da Virgínia em 1800, Nat Turner foi alfabetizado para evangelizar outros prisioneiros e, mais tarde, enviado em uma viagem pelo país com a missão de espalhar ensinamentos bíblicos aos negros cativos de outros estados dos EUA.

 

Durante sua jornada, Turner tomou dimensão da crueldade constituída pela escravidão e tornou-se um ávido combatente das leis escravagistas.

De volta ao estado natal, liderou uma rebelião em 1831, que resultou na morte de pelo menos 200 pessoas negras e outras 50 brancas. Julgado por conspiração para rebelião e provocação de revolta, foi esfolado, decapitado e esquartejado, tornando-se uma figura icônica na luta dos escravos americanos.

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