Foi buscando um jeito de “fazer um dinheirinho” e entreter os moradores que o cinema chegou, pela primeira vez, na Tiradentes da década de 1960. A sala para 100 pessoas foi inaugurada pelo vendedor de joias Luíz José da Fonseca, de 86 anos, e seu cunhado, o dentista José do Nascimento, o Zé de Olinda, que faleceu aos 86 anos, em julho. “Fui ao cinema durante uma viagem e dei a ideia para eles fazerem uma sala aqui em Tiradentes”, lembra-se dona Josefina, de 81, respectivamente esposa e cunhada dos responsáveis pelo ato de ousadia que mudou a rotina dos fins de semana na cidade. “Foi um sucesso. Estava sempre lotado e o povo se divertia muito”, conta ela.
A doceira e confeiteira se lembra de que o dinheiro não estava farto na casa onde criava os quatro filhos e a bilheteria do cinema, embora não tenha resultado em um negócio lucrativo, era uma tentativa de aumentar a renda. Foi graças às economias do irmão que foi possível ir a Belo Horizonte comprar o equipamento usado que rodava os filmes e começar o negócio. “Cheguei para meu irmão e disse ‘Zé, por que você não cria um cinema, ajuda a gente e melhorar a cidade, que não tem nada?’. Ele gostou da ideia e começaram a fazer o cinema juntos”, diz.
Com a memória já não muito clara, Luíz Fonseca conta com a ajuda do filho, Luizinho Francisco da Fonseca, de 61, para trazer à tona as lembranças do Cine Tiradentes enquanto funcionou, entre 1965 e 1969, na sede do Aimorés Futebol Clube, time tradicional da cidade, fundado em 1929. Na famosa Rua Direita, 159, a sala ficava no segundo andar de um casarão do século 18. “A cidade não tinha nada, então, o propósito era trazer algo para entreter o pessoal no sábado e domingo à noite”, conta o filho, que na época era criança. Embora a vizinha São João del-Rei já tivesse salas fixas de exibição de filmes desde o início do século 20, muitos tiradentinos viram a imagem em movimento pela primeira vez na sede do Aimorés.
Carretel
“A tela era grande, cerca de 6m por 3,5m, com uma borda preta, as cadeiras individuais, de madeira, e o filme era de carretel”, lembra Luizinho. Alugados em Belo Horizonte, filmes de Grande Otelo, Mazzaropi e títulos como E o vento levou, Bonanza e Crepúsculo da tarde dividiam a programação com A vida de Cristo, que costumava ser projetado durante os feriados religiosos. “Teve uma vez que veio um pessoal da roça ver A vida de Cristo. Teve gente que ficou tão revoltada com o sofrimento de Cristo que brigava, chorava, falava que ele não merecia aquilo e tirava o revólver para atirar na tela. No dia seguinte, passou a reprise do filme e foram assistir de novo. No meio do filme, um senhor fala com o outro: ‘Não vou ver de novo, compadre! Ele é sem-vergonha. Por que tinha que voltar aqui hoje para apanhar de novo?’”, conta dona Josefina, caindo na risada.
Contemporânea dos precursoress da sétima arte na cidade e vizinha do antigo cinema, Maria José Moura, de 84, era frequentadora das sessões, sempre lotadas. “Naquela época não tinha nada na cidade. Ir ao cinema e esperar a chegada do trem eram as únicas diversões. Vestíamos roupa nova e íamos ver filme e namorar “, conta ela.
O cinema acabou quando Luíz da Fonseca foi nomeado prefeito e teve que abandonar o negócio. O cunhado não quis seguir sozinho e o prédio pediu uma reforma que não puderam fazer. “O prédio balançava muito com o grande movimento de pessoas”, conta Luizinho.
Depois de um hiato de quase 30 anos, em 1998, a cidade voltou a ter uma tela de cinema, no teatro do Centro Cultural Yves Alves, na mesma rua, bem em frente à antiga sala. Desconhecendo a existência do antigo espaço, Raquel Hallack, à frente da Universo Produção, inaugurou, em 1998, o cine-teatro para a primeira edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. “Com a morte do Yves Alves, proprietário e idealizador do espaço, criamos a mostra em parceria com a Fundação Roberto Marinho e a prefeitura, para reinaugurar o centro cultural”, conta. Administrado pelo Sesc, do Sistema Fiemg, atualmente o espaço oferece sessões semanais para os moradores, além de atender à mostra anualmente.
A doceira e confeiteira se lembra de que o dinheiro não estava farto na casa onde criava os quatro filhos e a bilheteria do cinema, embora não tenha resultado em um negócio lucrativo, era uma tentativa de aumentar a renda. Foi graças às economias do irmão que foi possível ir a Belo Horizonte comprar o equipamento usado que rodava os filmes e começar o negócio. “Cheguei para meu irmão e disse ‘Zé, por que você não cria um cinema, ajuda a gente e melhorar a cidade, que não tem nada?’. Ele gostou da ideia e começaram a fazer o cinema juntos”, diz.
Com a memória já não muito clara, Luíz Fonseca conta com a ajuda do filho, Luizinho Francisco da Fonseca, de 61, para trazer à tona as lembranças do Cine Tiradentes enquanto funcionou, entre 1965 e 1969, na sede do Aimorés Futebol Clube, time tradicional da cidade, fundado em 1929. Na famosa Rua Direita, 159, a sala ficava no segundo andar de um casarão do século 18. “A cidade não tinha nada, então, o propósito era trazer algo para entreter o pessoal no sábado e domingo à noite”, conta o filho, que na época era criança. Embora a vizinha São João del-Rei já tivesse salas fixas de exibição de filmes desde o início do século 20, muitos tiradentinos viram a imagem em movimento pela primeira vez na sede do Aimorés.
Carretel
“A tela era grande, cerca de 6m por 3,5m, com uma borda preta, as cadeiras individuais, de madeira, e o filme era de carretel”, lembra Luizinho. Alugados em Belo Horizonte, filmes de Grande Otelo, Mazzaropi e títulos como E o vento levou, Bonanza e Crepúsculo da tarde dividiam a programação com A vida de Cristo, que costumava ser projetado durante os feriados religiosos. “Teve uma vez que veio um pessoal da roça ver A vida de Cristo. Teve gente que ficou tão revoltada com o sofrimento de Cristo que brigava, chorava, falava que ele não merecia aquilo e tirava o revólver para atirar na tela. No dia seguinte, passou a reprise do filme e foram assistir de novo. No meio do filme, um senhor fala com o outro: ‘Não vou ver de novo, compadre! Ele é sem-vergonha. Por que tinha que voltar aqui hoje para apanhar de novo?’”, conta dona Josefina, caindo na risada.
Contemporânea dos precursoress da sétima arte na cidade e vizinha do antigo cinema, Maria José Moura, de 84, era frequentadora das sessões, sempre lotadas. “Naquela época não tinha nada na cidade. Ir ao cinema e esperar a chegada do trem eram as únicas diversões. Vestíamos roupa nova e íamos ver filme e namorar “, conta ela.
O cinema acabou quando Luíz da Fonseca foi nomeado prefeito e teve que abandonar o negócio. O cunhado não quis seguir sozinho e o prédio pediu uma reforma que não puderam fazer. “O prédio balançava muito com o grande movimento de pessoas”, conta Luizinho.
Depois de um hiato de quase 30 anos, em 1998, a cidade voltou a ter uma tela de cinema, no teatro do Centro Cultural Yves Alves, na mesma rua, bem em frente à antiga sala. Desconhecendo a existência do antigo espaço, Raquel Hallack, à frente da Universo Produção, inaugurou, em 1998, o cine-teatro para a primeira edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. “Com a morte do Yves Alves, proprietário e idealizador do espaço, criamos a mostra em parceria com a Fundação Roberto Marinho e a prefeitura, para reinaugurar o centro cultural”, conta. Administrado pelo Sesc, do Sistema Fiemg, atualmente o espaço oferece sessões semanais para os moradores, além de atender à mostra anualmente.