Ao mesmo tempo em que faz sucesso na Globo, em novelas como A regra do jogo e Avenida Brasil, Juliano Cazarré também demonstra interesse pelo cinema experimental ao participar do premiado longa-metragem pernambucano Boi neon. Ele é um dos protagonistas do filme dirigido por Gabriel Mascaro, que o levou ao Festival de Veneza.
No filme, o ator dá vida a Iremar, um vaqueiro que prepara o rabo dos bois nos bastidores das vaquejadas e ainda trabalha em um caminhão que transporta os animais, conduzido pela motorista Galega, interpretada por Maeve Jinkings (também presente na novela A regra do jogo). Além de trabalhar com gado, o personagem sonha em trabalhar na indústria da moda, já que gosta de costurar e desenhar roupas. Cazarré realmente consegue incorporar a identidade de um vaqueiro nordestino e ainda tem chamado atenção por causa de uma bonita cena erótica presente nos momentos finais de Boi neon.
ENTREVISTA // JULIANO CAZARRÉ
Você acha que o filme faz críticas ao mundo das vaquejadas ou isso vai depender das interpretações do espectador?
Acho que o filme não faz críticas à vaquejada. Mas o filme mostra um pouco do que acontece por trás de todo o glamour dos vaqueiros, o filme mostra o curral. E a gente vê que os bois realmente sofrem por ali. Mas acho que o filme não toma partido contra. A vaquejada é o pano de fundo para contar a história dessas pessoas. O foco são os seres humanos, sua graça, seus sonhos, suas esperanças.
Que tipo de sofrimento físico e emocional você precisou passar para interpretar o personagem?
Sofrimento mesmo apenas por ter períodos muito longos sem ver minha família. Como estávamos quase sempre hospedados em áreas rurais, a comunicação também ficava bastante complicada. Quanto ao físico, não diria que houve sofrimento, mas foi um filme que exigiu bastante do corpo, porque eram várias horas lidando com os animais, trabalhando em lugares sujos, etc. Pela intensidade e grande sensibilidade das cenas, o filme exigiu bastante emocionalmente, exigiu muita atenção também. Mas não houve sofrimento. O filme é lindo, é engraçado. As pessoas vão se divertir. Não é sofrimento, é poesia.
O que te deu mais prazer durante o processo de filmagem?
Poder falar com o sotaque e as expressões pernambucanos. Eu amo Pernambuco, amo os pernambucanos, são engraçados, são inteligentes, a linguagem é muito rica. Morar no sertão, com a calma e o silêncio, a solidão e as pedras, os cactos. Foi um período muito bonito. De desintoxicação tecnológica. Se não fosse a saudade da mulher e dos filhos, seria perfeito. Bolo de rolo, queijo coalho, carne seca, macaxeira, queijo manteiga, cuscuz...
O personagem te contaminava também fora do set ou você conseguia separar as coisas e apenas assumir a personalidade dele na hora de atuar?
Eu consigo separar bem. Mas como era um filme de mergulho, uma atuação mais intensa, e como eu não sou da região, eu passava sim várias horas do dia num estado que era um pouco Juliano, um pouco Iremar. Passava o tempo todo praticando meu pernambuquês, anotando expressões, brincando com meus amigos de curral.
Você acha que Boi Neon é um filme realista?
Não. É poesia pura. Mas é verossímil.
Por que você acha que o filme tem provocado tanto impacto e recebido tantos prêmios?
Em primeiro lugar porque é realmente um belo filme. Mas acho que o filme tem alguns ótimos acertos, ao questionar os estereótipos de masculino e feminino, do lugar do homem e da mulher. O filme também apresenta um Nordeste diferente do que nos acostumamos a ver, um lugar de tradição, mas que está em franca mudança, modernizando-se, industrializando-se, urbanizando-se...