O mundo compreendeu isso e o Brasil ainda não. O menino e o mundo venceu 44 prêmios internacionais, entre eles melhor direção e filme no Annecy International Animated Film Festival, considerado o mais importante voltado para essa linguagem. Foi vendido para 80 países.
Os números ajudam a explicar a surpresa quando o nome do brasileiro apareceu entre gigantes norte-americanos como Divertida mente, Anomalisa, Shaun: o carneiro e o japonês Quando estou com Marnie. “Sempre achei que uma indicação seria pouco provável. Só por um milagre. Mas, na manhã daquela quinta, acordei com a sensação de que existia essa possibilidade”, afirmou o diretor Alê Abreu na primeira entrevista coletiva depois que o nome de O menino e o mundo apareceu na seleta lista.
Alê se mantém confiante. “Acredito muito na mensagem universal do Menino. É o mais forte dele”, disse. A distribuidora norte-americana Gkids, especializada em animações independentes e sofisticadas, sempre soube que tinha um bom produto em mãos. Foi decisão do parceiro internacional esperar o momento certo para entrar em uma corrida pelo Oscar. Uma estratégia que deu certo.
O menino e o mundo faz um retrato de uma sociedade carente de novos valores. A história sobre um garoto que parte em busca do pai confronta a subjetividade de cada espectador. “Lida frontalmente com angústias de muitas pessoas, não só de jovens. Tem a questão do desemprego, para onde o mundo caminha. É um filme sem diálogo que comunica muito facilmente. Chega por uma outra porta do entretenimento”, sintetizou Alê Abreu.
A presença dele no Oscar – e em uma edição que promete ser polêmica – é a prova de que mesmo na meca do mercado há espaço para ideias originais. Qualquer espectador mais atento percebe que o diretor não faz qualquer concessão na forma com a qual narra a peregrinação do menino pelo mundo. O longa é ousado na história que conta e na escolha de cada uma das técnicas levadas para a tela. É o reconhecimento de um projeto autoral.
RESISTÊNCIA
O filme nasceu de uma paixão que o diretor teve pelas músicas de protesto nos anos 1960 e 1970, na época imerso em um projeto de animadoc (documentário de animação). “Foi feito sem roteiro. Ele é radicalmente diferente. Quero ser um outro caminho. O meio de construção desse filme é a mensagem dele”, afirma. Alê Abreu está seguro de que chegará um tempo em que as pessoas se cansarão da plasticidade padrão das animações mainstream.
Em O menino e o mundo, misturou técnicas, subverteu o papel da fala dentro de uma narrativa e até inventou idioma. Foram três anos daquilo que Alê chama de “exercício de ser completamente independente” com o orçamento de R$ 2 milhões. O que não é nada para os padrões de Hollywood chama ainda mais atenção para o produto. Agora, os cinéfilos – especialmente os fãs dos desenhos – querem saber: o que está ocorrendo na animação brasileira?.
Alê Abreu tem 44 anos e, desde os 13, está imerso nesse universo. Para ele, o desafio dos profissionais da área é a busca do que significa fazer “a animação brasileira”. “Mais do que sair fazendo filmes ou tentar mudar o que está sendo feito lá fora. Vamos transformando isso. O exercício é pensar: o que é ser um cineasta de animação no Brasil?”.
O diretor não tem a resposta. Sabe que países como Japão, França e o próprio Estados Unidos descobriram um jeito particular. “Não adianta a gente copiar. Sinto-me muito feliz de dar um pequeno passo em direção a isso”, disse. Alê Abreu brinca estar em meio à batalha de David e Golias (1960), o filme de Orson Welles. Não se abate. “Não acho que o Divertida mente seja um ótimo filme. É bom. Vamos tentar fazer o máximo. Fazer guerrilha em Hollywood.”
Parcerias à vista
Quando O menino e o mundo apareceu entre os gigantes no anúncio feito pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood, o diretor Alê Abreu estava recluso na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo. Viu a transmissão pelo YouTube. Está ciente de que terá uma batalha de marketing pela frente. “Nosso desafio é fazer com que o filme seja visto”, reconhece.
Mesmo com a disputa adiante, as energias do diretor estão focadas no novo projeto. O filme Viajantes do bosque encantado inaugura a parceria da produtora dele, a Filmes de Papel, com a Buriti Filmes, de Luiz Bolognesi. Há uma possibilidade de coprodução com o estúdio francês responsável pelo longa As bicicletas de Belleville (2003).
O desejo de Alê é poder se dedicar integralmente à tarefa de diretor. “A ideia é que eu me liberte e possa embarcar nessa viagem desapegado disso e possa dar tudo o que tenho de melhor para a criação do filme.” É sobre duas crianças-bicho perdidas em uma floresta onde ocorrem coisas estranhas. Uma é do reino do sol e a outra da lua, extremos em guerra. “Elas se encontram em um lugar neutro e têm o desafio de ficar amigas”, adianta.
O personagem de O menino e mundo também voltará às telas em uma série de animação francesa. É um projeto de animadoc, a mistura de documentário com ficção. “Vão usar o personagem para mostrar como é a vida de uma criança em vários lugares do mundo”, explica. O projeto terá a supervisão de Alê Abreu.
. Alê se mantém confiante. “Acredito muito na mensagem universal do Menino. É o mais forte dele”, disse. A distribuidora norte-americana Gkids, especializada em animações independentes e sofisticadas, sempre soube que tinha um bom produto em mãos. Foi decisão do parceiro internacional esperar o momento certo para entrar em uma corrida pelo Oscar. Uma estratégia que deu certo.
O menino e o mundo faz um retrato de uma sociedade carente de novos valores. A história sobre um garoto que parte em busca do pai confronta a subjetividade de cada espectador. “Lida frontalmente com angústias de muitas pessoas, não só de jovens.
A presença dele no Oscar – e em uma edição que promete ser polêmica – é a prova de que mesmo na meca do mercado há espaço para ideias originais. Qualquer espectador mais atento percebe que o diretor não faz qualquer concessão na forma com a qual narra a peregrinação do menino pelo mundo. O longa é ousado na história que conta e na escolha de cada uma das técnicas levadas para a tela. É o reconhecimento de um projeto autoral.
RESISTÊNCIA
O filme nasceu de uma paixão que o diretor teve pelas músicas de protesto nos anos 1960 e 1970, na época imerso em um projeto de animadoc (documentário de animação). “Foi feito sem roteiro. Ele é radicalmente diferente. Quero ser um outro caminho. O meio de construção desse filme é a mensagem dele”, afirma.
Em O menino e o mundo, misturou técnicas, subverteu o papel da fala dentro de uma narrativa e até inventou idioma. Foram três anos daquilo que Alê chama de “exercício de ser completamente independente” com o orçamento de R$ 2 milhões. O que não é nada para os padrões de Hollywood chama ainda mais atenção para o produto. Agora, os cinéfilos – especialmente os fãs dos desenhos – querem saber: o que está ocorrendo na animação brasileira?.
Alê Abreu tem 44 anos e, desde os 13, está imerso nesse universo. Para ele, o desafio dos profissionais da área é a busca do que significa fazer “a animação brasileira”. “Mais do que sair fazendo filmes ou tentar mudar o que está sendo feito lá fora. Vamos transformando isso. O exercício é pensar: o que é ser um cineasta de animação no Brasil?”.
O diretor não tem a resposta. Sabe que países como Japão, França e o próprio Estados Unidos descobriram um jeito particular. “Não adianta a gente copiar. Sinto-me muito feliz de dar um pequeno passo em direção a isso”, disse. Alê Abreu brinca estar em meio à batalha de David e Golias (1960), o filme de Orson Welles. Não se abate. “Não acho que o Divertida mente seja um ótimo filme. É bom. Vamos tentar fazer o máximo. Fazer guerrilha em Hollywood.”
Parcerias à vista
Quando O menino e o mundo apareceu entre os gigantes no anúncio feito pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood, o diretor Alê Abreu estava recluso na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo. Viu a transmissão pelo YouTube. Está ciente de que terá uma batalha de marketing pela frente. “Nosso desafio é fazer com que o filme seja visto”, reconhece.
Mesmo com a disputa adiante, as energias do diretor estão focadas no novo projeto. O filme Viajantes do bosque encantado inaugura a parceria da produtora dele, a Filmes de Papel, com a Buriti Filmes, de Luiz Bolognesi. Há uma possibilidade de coprodução com o estúdio francês responsável pelo longa As bicicletas de Belleville (2003).
O desejo de Alê é poder se dedicar integralmente à tarefa de diretor. “A ideia é que eu me liberte e possa embarcar nessa viagem desapegado disso e possa dar tudo o que tenho de melhor para a criação do filme.” É sobre duas crianças-bicho perdidas em uma floresta onde ocorrem coisas estranhas. Uma é do reino do sol e a outra da lua, extremos em guerra. “Elas se encontram em um lugar neutro e têm o desafio de ficar amigas”, adianta.
O personagem de O menino e mundo também voltará às telas em uma série de animação francesa. É um projeto de animadoc, a mistura de documentário com ficção. “Vão usar o personagem para mostrar como é a vida de uma criança em vários lugares do mundo”, explica. O projeto terá a supervisão de Alê Abreu.