

Carol tem tudo a ver com Longe do paraíso. Ambos tratam de homossexualidade no quadro da América dos anos 1950, mas são visceralmente distintos. Longe do paraíso passa-se numa cidade provinciana; Carol, em Nova York. Velvet Goldmine não deixa de ser um tributo a David Bowie. É o Cidadão Kane do glam rock. Não estou lá desconstrói Bob Dylan, para decifrar sua personalidade e entender sua música.
Carol estreou na semana passada, no mesmo dia em que foram anunciadas as indicações ao Oscar. Recebeu seis indicações, entre elas roteiro e melhor atriz. Apesar de não ter ganho nenhum prêmio no Globo de Ouro, ainda é um filme bem cotado para levar alguma estatueta na premiação da Academia de Hollywood. Em entrevista, Haynes conta como se encantou pela história. “Não conhecia o livro de Patricia Highsmith e cheguei ao projeto pelo roteiro de Phyllis Nagy. Para ser sincero, há tempos procurava uma forma de voltar a Longe do paraíso, mas sem me repetir. O livro é sobre a relação de duas lésbicas, escrito do ângulo de Therese, a mais jovem. O roteiro consegue descrever o processo das duas, mesmo que o título privilegie a mais velha.”
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IMPASSE
No filme, Carol é casada com um homem rico, que a chantageia com a guarda da filha. Therese tem um namorado, sai do armário. Carol a estimula a fazer o que deseja, ser fotógrafa, mas a relação chega a um impasse. Toda a arquitetura dramática de Carol converge para o belíssimo final – e vamos parando aqui, para evitar o risco de spoiler. “Só é possível mostrar aquilo quando se tem duas atrizes do calibre de Cate e Rooney”, diz o diretor. Por mais que a homossexualidade lhe interesse como tema, acrescenta que não faz seus filmes como manifestos.
Interessam-lhe as personagens e a época e evidenciam o olhar do diretor para a beleza. Fotografia, ambientes, roupas, tudo é meticulosamente (re)criado. “Esse olho para a beleza ninguém nasce com ele. É produto de muito trabalho e de uma equipe maravilhosa. Pesquisamos muito – Ruth Orkin e Morris Engel, que fizeram uma documentação maravilhosa da Nova York da época, especialmente no filme O pequeno fugitivo, e Helen Levitt.”
Por seus melodramas, Haynes adquiriu a reputação (merecida) de diretor de atrizes. “Fundamentalmente, é preciso saber escolher, e tenho trabalhado com as melhores. Cate, Rooney, Julianne (Moore, em Longe do paraíso), Kate (Winslet, em Mildred Pierce, que fez para TV, na HBO). Elas adquirem rapidamente a compreensão das personagens e terminam por me surpreender.” Para ele, independentemente da opção sexual, seu cinema oferece um exame contínuo da natureza do desejo. “Nada me interessa mais que o amor e nossas respostas a ele.”
Para concluir, o diretor revela sua influência de David Lean, sobretudo do filme Desencanto. “Foi minha maior influência. A estrutura de Carol sai de David Lean e Noel Coward. É um casal, mas Celia Johnson é que nos leva a Trevor Howard.”