Às vezes as coisas se distendem. Foi assim para o diretor brasileiro Alê Abreu, que viu seu singelo O menino e o mundo ser incluído ontem entre os concorrentes a melhor longa de animação pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, ao lado da megaprodução Divertida mente. Ao reconhecer que ambas são obras do mesmo quilate, os votantes da Academia enviam a Abreu (e ao cinema do Brasil) a mensagem de que a expressão de um talento verdadeiro não se constrange por questões orçamentárias.
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Até a conclusão desta edição, Abreu não foi localizado pela reportagem do Estado de Minas. Segundo informações de sua assessoria, ele está na França, cuidando de outro projeto cinematográfico, e não tinha expectativa de ser indicado.
Logo após o anúncio dos concorrentes às estatuetas que serão entregues no próximo dia 28 de fevereiro, em Los Angeles, começaram a surgir críticas ao perfil desenhado pelo conjunto dos indicados. Um perfil branco demais, como no ano anterior, que já havia suscitado a hashtag de protesto #OscarSoWhite. Foram notadas as ausências de atores negros que fizeram trabalhos de destaque como Idris Elba (Beasts of no nation), entre muitos outros. “O Oscar e Hollywood deveriam ser melhores do que isso”, escreveu Mike Hogan em seu comentário às indicações na revista Vanity Fair.
Ao que tudo indica, o ânimo de Hollywood para debater suas lacunas anda baixo. A premiação do Globo de Ouro, promovido pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros, no domingo passado, teve baixíssima voltagem de discursos críticos ou políticos. A contar entre as exceções, as ironias das atrizes Amy Schummer e Jennifer Lawrence dirigidas à prática da indústria americana de cinema de pagar salários muito mais altos para atores do que para atrizes e a referência do apresentador Rick Gervais à cruzada anti-imigrantes do pré-candidato republicano à Presidência Donald Trump.
Será preciso esperar até a noite de premiação do Oscar 2016 para saber se o tom dos discursos vai mudar. De toda forma, vistos um ao lado do outro, O regresso e O menino e o mundo fazem lembrar a definição de Guimarães Rosa, o gênio brasileiro das letras, para a cota de livre-arbítrio que há em toda trajetória pessoal: “Espírito da gente é cavalo que escolhe estrada. Quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo tudo o que é bonito e bom”. No fim das contas, é tudo uma questão de perspectiva, essa característica que o cinema soube transformar numa arte.
O ANO DAS SURPRESAS
O Oscar 2016 parece ter uma (e somente uma) barbada – a vitória de Leonardo DiCaprio como melhor ator, em sua sexta tentativa de colocar a mão na estatueta. Mesmo num ano considerado imprevisível pelos críticos de cinema e demais observadores de Hollywood, a revelação dos indicados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ontem reservou surpresas.
Algumas delas: a ausência de Ridley Scott na disputa de direção com seu Perdido em Marte. As dez indicações de Mad Max. A escolha de Mark Ruffalo e não de Michael Keaton, ambos de Spotlight, para compor a lista de melhor ator coadjuvante. A presença de 50 tons de cinza entre os indicados – a melhor canção original. As três indicações de Sicario.
Na categoria filme estrangeiro, para a qual o Brasil apresentou Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, a disputa ficou entre Hungria (O filho de Saul, de László Nemes), Colômbia (O abraço da serpente, de Ciro Guerra), França (Cinco graças, de Deniz Gamze Ergüven), Dinamarca (Guerra, de Tobias Lindholm) e Jordânia (O lobo do deserto, de Naji Abu Nowar).