Rodrigo Salem
Los Angeles
Sofrimento fortalece o caráter. E pode render um Oscar. É o que Leonardo DiCaprio espera de O regresso, previsto para estrear no Brasil no dia 4 de fevereiro. No novo filme de Alejandro González Iñárritu, vencedor das recentes estatuetas de melhor filme e direção por Birdman, o galã de Titanic (1997) come o pão que o diabo amassou em mais de duas horas de sofrimento extremo.
DiCaprio interpreta Hugh Glass, um guia no Norte dos EUA de 1820. É uma figura requisitada por seu envolvimento com uma tribo local, cuja única lembrança é o idioma pawnee e um filho nativo, Hawk (Forrest Goodluck). Um grupo de mercadores de pele contrata Glass para explorar uma região dominada por índios e franceses. Na primeira cena, toda em plano-sequência, o bando é atacado por índios, e poucos escapam.
Para que sigam em segurança, Glass arrisca o caminho pelas montanhas. Mas é atacado por uma ursa, que o estraçalha. Lembra quando muitos viravam a cara por causa da violência de A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson? Multiplique por dez.
Iñárritu não poupa o espectador nesse momento. O animal retalha o personagem de DiCaprio de forma tão brutal que um site americano enxergou na sequência um estupro e criou uma polêmica (infundada) que dominou a imprensa especializada antes da primeira exibição para os membros da Academia de Hollywood.
Ferido e com chances mínimas de sobrevivência, Glass vira um fardo insuportável para o grupo, principalmente para John Fitzgerald (Tom Hardy), o mais ganancioso deles. Ele tenta matar o companheiro moribundo, mas o filho do guia o impede e é assassinado na frente do pai.
Baseado no livro de Michael Punke sobre o verdadeiro Glass, o longa não é de fácil digestão. É um filme de vingança tradicional, como um bom faroeste, mas recheado com as ideias nada sutis de Iñárritu sobre humanidade, mercantilismo e valor da vida.
AMBIÇÃO
De certa forma, O regresso é um “anti-Birdman”. Há uma ambição visual mais ampla, trocando o confinamento do teatro pelas lindas paisagens do Canadá. E, principalmente, não há quase diálogos – o personagem de DiCaprio tem parte da traqueia rasgada e mal consegue falar.
Na jornada vingativa de Glass rumo ao assassino do filho, ele enfrenta nevascas, índios corruptos, soldados, ossos quebrados, falta de comida e até uma noite nu dentro da carcaça de um cavalo. Num momento, Glass precisa comer o fígado cru de um búfalo morto. Ele vomita; DiCaprio, vegetariano, diz que foi sua reação real, mantida pelo cineasta mexicano.
A Fox e o astro estão explorando esse sofrimento romântico na campanha ao Oscar de melhor ator para DiCaprio. As chances são grandes. Já são quatro derrotas de ator na Academia e o esquecimento inexplicável de seu vilão em Django livre (2012) pelos votantes.
E os concorrentes estão ajudando. Michael Fassbender sumiu em Steve Jobs (que estreia no Brasil na próxima quinta), e Spotlight (em cartaz desde quinta passada), drama jornalístico sobre casos de pedofilia entre padres de Boston, jogou todos seus atores para a categoria de coadjuvantes.
O problema de O regresso é que os membros da Academia podem sofrer mais que o desejado, algo que aconteceu com A Paixão de Cristo.
Há, contudo, um trunfo: Emmanuel Lubezki. O diretor de fotografia, favorito ao terceiro Oscar consecutivo, recria o espírito natureba de Terrence Malick de A árvore da vida (2011) em imagens esplêndidas, todas filmadas em luz natural. Pode não ser suficiente, mas equilibra a crueza sanguinolenta do longa. (Folhapress)
Los Angeles
Sofrimento fortalece o caráter. E pode render um Oscar. É o que Leonardo DiCaprio espera de O regresso, previsto para estrear no Brasil no dia 4 de fevereiro. No novo filme de Alejandro González Iñárritu, vencedor das recentes estatuetas de melhor filme e direção por Birdman, o galã de Titanic (1997) come o pão que o diabo amassou em mais de duas horas de sofrimento extremo.
DiCaprio interpreta Hugh Glass, um guia no Norte dos EUA de 1820. É uma figura requisitada por seu envolvimento com uma tribo local, cuja única lembrança é o idioma pawnee e um filho nativo, Hawk (Forrest Goodluck). Um grupo de mercadores de pele contrata Glass para explorar uma região dominada por índios e franceses. Na primeira cena, toda em plano-sequência, o bando é atacado por índios, e poucos escapam.
Para que sigam em segurança, Glass arrisca o caminho pelas montanhas. Mas é atacado por uma ursa, que o estraçalha. Lembra quando muitos viravam a cara por causa da violência de A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson? Multiplique por dez.
Iñárritu não poupa o espectador nesse momento. O animal retalha o personagem de DiCaprio de forma tão brutal que um site americano enxergou na sequência um estupro e criou uma polêmica (infundada) que dominou a imprensa especializada antes da primeira exibição para os membros da Academia de Hollywood.
Ferido e com chances mínimas de sobrevivência, Glass vira um fardo insuportável para o grupo, principalmente para John Fitzgerald (Tom Hardy), o mais ganancioso deles. Ele tenta matar o companheiro moribundo, mas o filho do guia o impede e é assassinado na frente do pai.
Baseado no livro de Michael Punke sobre o verdadeiro Glass, o longa não é de fácil digestão. É um filme de vingança tradicional, como um bom faroeste, mas recheado com as ideias nada sutis de Iñárritu sobre humanidade, mercantilismo e valor da vida.
AMBIÇÃO
De certa forma, O regresso é um “anti-Birdman”. Há uma ambição visual mais ampla, trocando o confinamento do teatro pelas lindas paisagens do Canadá. E, principalmente, não há quase diálogos – o personagem de DiCaprio tem parte da traqueia rasgada e mal consegue falar.
Na jornada vingativa de Glass rumo ao assassino do filho, ele enfrenta nevascas, índios corruptos, soldados, ossos quebrados, falta de comida e até uma noite nu dentro da carcaça de um cavalo. Num momento, Glass precisa comer o fígado cru de um búfalo morto. Ele vomita; DiCaprio, vegetariano, diz que foi sua reação real, mantida pelo cineasta mexicano.
A Fox e o astro estão explorando esse sofrimento romântico na campanha ao Oscar de melhor ator para DiCaprio. As chances são grandes. Já são quatro derrotas de ator na Academia e o esquecimento inexplicável de seu vilão em Django livre (2012) pelos votantes.
E os concorrentes estão ajudando. Michael Fassbender sumiu em Steve Jobs (que estreia no Brasil na próxima quinta), e Spotlight (em cartaz desde quinta passada), drama jornalístico sobre casos de pedofilia entre padres de Boston, jogou todos seus atores para a categoria de coadjuvantes.
O problema de O regresso é que os membros da Academia podem sofrer mais que o desejado, algo que aconteceu com A Paixão de Cristo.
Há, contudo, um trunfo: Emmanuel Lubezki. O diretor de fotografia, favorito ao terceiro Oscar consecutivo, recria o espírito natureba de Terrence Malick de A árvore da vida (2011) em imagens esplêndidas, todas filmadas em luz natural. Pode não ser suficiente, mas equilibra a crueza sanguinolenta do longa. (Folhapress)