Mas o curador Cléber Eduardo garante que a safra dos jovens diretores tem potencial para marcar uma mudança de tom no cinema brasileiro. “Acredito que este ano em Tiradentes pode haver uma ruptura”, afirma. A temática central desta edição será Espaços em Conflito no Cinema Brasileiro. Segundo Cléber Eduardo, a ideia partiu de uma observação do conjunto histórico da produção nacional.
Nas décadas de 1950 e 1960, por exemplo, destacaram-se narrativas que tinham uma relação conflituosa dos protagonistas com seus espaços. Filmes como Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, honram a tradição de tratar espaços como personagens.
Na retomada, vivida nos anos 1990, esse aspecto voltou à tona.
Já a seleção que será exibida em Tiradentes investe em uma nova mudança de narrativa. Sai o cinema mais afetivo que estava predominando e entram abordagens mais combativas e políticas. “Isso não é uma questão exatamente curatorial. Os filmes estavam mais afetivos porque os inscritos estavam seguindo essa tendência. Agora também não é um recorte, é uma realidade”, diz o curador.
INSCRITOS
A Mostra de Cinema de Tiradentes teve 113 longas-metragens inscritos, entre os quais apenas oito são trabalhos de diretores experientes, com mais de três longas no currículo. Todos foram selecionados. “Nesses filmes dos veteranos, os espaços de conflitos são de outras ordens. Misturam-se com questões psicológicas, flertam com o cinema de gênero e têm uma carga mais metafórica”, diz Cléber Eduardo.
Através da sombra, de Walter Lima Jr., é inspirado no conto A volta do parafuso, de Henry James. Quase memória, de Ruy Guerra, é baseado no livro homônimo de Carlos Heitor Cony.
Cléber Eduardo também destaca o trabalho das cineastas Maria Augusta Ramos e Sandra Kogut. A diretora de Mutum (2008) exibirá Campo Grande, seu terceiro longa, na Mostra Praça de Tiradentes. A primeira levará às telas de Tiradentes o documentário Futuro Junho, sobre os protestos durante a Copa do Mundo. “Maria Augusta Ramos faz um documentário observacional, e nós não temos essa tradição. É uma diretora reconhecida por uma estética muito discreta. Mesmo quando não está no melhor filme, se singulariza muito em relação ao conjunto”, elogia o curador.
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