'Spotlight - Segredos revelados', de Tom McCarthy, estreia nesta quinta nos cinemas

Longa mostra como a equipe de jornalistas investigativos Spotlight, do diário The Boston Globe, desvendou uma trama que se tornou o maior escândalo de pedofilia da Igreja Católica

por Mariana Peixoto 07/01/2016 08:30
SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO
Núcleo investigativo criado em 1970 pelo diário americano The Boston Globe, a Spotligh projetou o jornal nacionalmente, com reportagens vencedoras do Pulitzer (foto: SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO)
Spotlight é o lugar dos sonhos do jornalismo. Uma divisão dentro de um diário dedicada a grandes denúncias, o chamado jornalismo investigativo. Não há limite de espaço, tampouco de tempo (o famigerado deadline) para que as matérias sejam publicadas.

 

Algo um tanto anacrônico no jornalismo atual, com textos curtos, pouca checagem e reflexão e onde o que vale é quem postou primeiro.

Mais antiga divisão de repórteres investigativos em atividade dos Estados Unidos, a Spotlight foi criada em 1970 pelo jornal The Boston Globe. As denúncias do time de repórteres garantiram não só uma série de prêmios Pulitzer, como também prestígio e importância nacional para um jornal local.

Quarenta anos após Todos os homens do presidente, Spotlight – Segredos revelados, de Tom McCarthy, que chega hoje aos cinemas, traz novo fôlego para uma profissão em crise.

Ambientada em 2001 – quando a internet já atemorizava a mídia impressa, mas as redes sociais ainda não eram o que são hoje –, a narrativa é centrada no trabalho da equipe que culminou na denúncia do acobertamento pela Igreja Católica de casos de pedofilia perpetrados por quase uma centena de padres locais.

Assim como Alan J. Pakula, que acompanhou a investigação realizada por Bob Woodward e Carl Bernstein no caso Watergate, que culminou na renúncia do presidente Richard Nixon, McCarthy recria um passo a passo de todo o processo que, denunciado no início de 2002, abriu as comportas do maior escândalo da Igreja Católica neste século.

DESCONFIANÇA Das grandes cidades americanas, Boston é considerada, ao lado de Nova York e Pittsburgh, uma das que têm maior população católica. A chegada de um editor judeu vindo de Miami à redação do Boston Globe é vista com desconfiança por boa parte dos repórteres e editores do diário.

Não só judeu, como solteiro e nada afeito ao mundo do beisebol (Boston é a terra dos Red Sox), Marty Baron (Liev Schreiber), em sua primeira reunião de pauta, questiona a equipe sobre a inexistência de uma história de maior fôlego sobre um padre local que havia abusado sexualmente de menores ao longo de 30 anos.

A equipe da Spotlight – o editor Walter “Robby” Robinson (Michael Keaton), os repórteres Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Michael Rezendes (Mark Ruffalo) e o pesquisador Matt Carroll (Brian d’Arcy James) – abandona a história em que trabalhava para se dedicar ao caso.

Ainda que no início um pouco céticos, rapidamente os jornalistas se veem frente a um caso de abrangência muito maior, que vai além do abuso de crianças de comunidades pobres da região. Além do filme de Pakula, Spotlight trava um diálogo com O clube (2014), o impactante filme do chileno Pablo Larraín sobre religiosos que vivem numa casa dedicada a padres pedófilos.

Como o melhor dos dramas em cartaz – está indicado a três Globos de Ouro, de filme, diretor e roteiro –, Spotlight se alicerça tanto na própria história quanto na interpretação. Do homogêneo elenco principal, o destaque vai para Mark Ruffalo. Sua interpretação para Rezendes (hoje o único integrante da equipe que continua na Spotlight), que facilmente poderia cair no estereótipo do repórter sem vida própria, chama a atenção pela paixão que o jornalismo ainda é capaz de provocar.

REFERÊNCIA A MARIANA

Ao final de Spotlight, são apresentados nomes de cidades do mundo inteiro onde foram denunciados casos de pedofilia por padres. Há algumas brasileiras, entre elas, Mariana. Em abril de 2002, o padre catarinense Bonifácio Buzzi, então com 41 anos, foi preso, acusado de abusar sexualmente de um garoto de 10 anos, morador da cidade mineira. Foi a segunda denúncia contra o religioso – 13 anos antes, ele teria molestado, também em Minas, um menino de 5 anos e outro de 11. Pela primeira acusação, foi condenado a 13 anos de prisão domiciliar. Cumpria liberdade condicional quando houve a segunda denúncia. Condenado em 2004 a seis anos de prisão, Buzzi ficou foragido da Justiça até 2007, quando foi preso em Barbacena. No momento da prisão, celebrava missa em um asilo de idosos, lugar onde viveu por alguns meses.

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