Tragédia de Mariana ganha diferentes pontos de vista na tela

Filme em realidade virtual de Tadeu Jungle e série em 12 episódios de trio de cineastas mineiros oferecem novos olhares para a tragédia

por Mariana Peixoto 29/12/2015 08:00
XANDE PIRES/DIVULGAÇÃO
(foto: XANDE PIRES/DIVULGAÇÃO)
Desde a tarde de 5 de novembro, imagens que estarrecem e relatos que indignam tomam conta da mídia tradicional e das redes sociais. Quase dois meses após o estouro da Barragem do Fundão, em Mariana, que causou o maior desastre socioambiental do Brasil, projetos audiovisuais que buscam um outro olhar para o ocorrido começam a vir a público.


O veterano realizador paulista Tadeu Jungle, pioneiro da videoarte no país, anuncia para o início de 2016 um curta-metragem (por ora sem título) em realidade virtual sobre a tragédia. E desde ontem está no ar no canal de conteúdo Update or die! (updateordie.com) o primeiro episódio do documentário Memórias de Mariana, iniciativa dos mineiros Gustavo Ziller, Xande Pires e Gustavo Giglio. A ideia deste projeto é lançar 12 curtas sobre o desastre, um por mês.

“Como estava iniciando o processo do trabalho de realidade virtual (ainda muito incipiente no Brasil), percebi que ela tem o poder de levar o outro para aquele lugar. É a maior máquina de empatia jamais inventada. Achei que dava para construir uma narrativa mais impactante, que conseguisse levar o mundo para Bento Rodrigues e Mariana”, comenta Jungle, que, com uma equipe de seis pessoas, passou oito dias na região, em dezembro.

Foram entrevistadas 12 pessoas – o curta não deve ultrapassar os 12 minutos. Como a realidade virtual é um conceito muito novo no país, Jungle não sabe como será a veiculação do documentário. A única certeza é de que seu lançamento será na internet. “Uma vez pronto, vamos ver qual será a plataforma. Provavelmente, o YouTube mais um aplicativo (necessário para assistir a um vídeo no formato).”

ÓCULOS Para sua completa fruição, qualquer vídeo de realidade virtual demanda do espectador o uso de óculos próprios – há desde modelos mais simples, de papelão, até outros mais elaborados. Jungle comenta que, sem óculos, o vídeo poderá ser assistido em 360 graus, girando o mouse.

“Acho que o documentário vai ajudar as pessoas a perceberem que as perdas não são só físicas e ecológicas. Há uma perda imaterial, de valor inestimável e sem retorno. Muito da narrativa foi feito a partir das memórias das pessoas. Ao ouvir as histórias, as imagens são levadas para aquele lugar de desolação, e há o choque”, acrescenta.

O primeiro episódio de Memórias de Mariana é centrado em Bento Rodrigues, o distrito que foi varrido do mapa pelo rompimento da barragem da Samarco. Além do depoimento muito forte de sobreviventes da comunidade, há ainda daqueles que ajudaram nas buscas. Ziller, que atua como repórter do projeto, foi a primeira vez à região uma semana após o desastre. Desde então, esteve lá em quatro ocasiões. E irá, junto a seus companheiros de projeto, Xande Pires e Gustavo Giglio, outras tantas vezes. Por ora, o trio está realizando o projeto com recursos próprios.

“Queremos acompanhar o processo de cura do pessoal da região e a própria história à medida que ela ocorre”, conta Ziller. O segundo episódio, que será lançado em janeiro, tratará da comunidade de Paracatu de Baixo, outro distrito de Mariana fortemente atingido pelo desastre.

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