Em momentos de turbulência política como o que vivemos, encontros com textos como Macbeth, de William Shakespeare, surpreendem ainda mais. Não importa se o figurino é fiel à época, e até mesmo o jeito de falar tão diferente dos nossos dias. Fica nítido o quanto a trama criada no século 17 não envelhece. Ambição pelo poder é essência da peça escrita pelo Bardo supostamente entre 1603 e 1607. O tema não perde a validade, seja no teatro ou no cinema.
Macbeth: ambição e guerra, dirigido por Justin Kurzel, tem Michael Fassbender como Macbeth e Marion Cotillard como Lady Macbeth. Eles são o que há de melhor nessa produção. A adaptação dos roteiristas Jacob Koskofff, Michael Lesslie e Todd Louiso é exageradamente fiel à dramaturgia de Shakespeare, o que significa um texto mais rebuscado do que convencionalmente aparece na telona. É, paradoxalmente, um discurso violento, mas com poesia, assim como se vê nos palcos.Há rigor na reconstituição de época. A direção de arte e os figurinos são pontos altos. No entanto, a fidelidade temporal e o esmero estético não bastam para fazer do longa uma versão atraente. O Macbeth de Kurzel é um filme difícil, mais indicado para iniciados. Mesmo conhecendo o mecanismo do jogo de poder criado por Shakespeare, é preciso ficar muito ligado para não perder todas as nuances políticas presentes na trama.
A história começa na guerra travada entre o exército de Macbeth em defesa da Escócia contra os soldados da Noruega e Irlanda. Após a batalha, três bruxas aparecem a ele e Banquo – outro capitão do exército do soberano rei Duncan – profetizando que o primeiro um dia será rei. Ao contar a notícia à esposa, Lady Macbeth convence o marido a assassinar o monarca. Ambos passam a viver atormentados.
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Nas interpretações, Michael Fassbender só reforça sua competência como ator. Seu Macbeth carrega o tormento no olhar, assim como a Lady Macbeth da atriz francesa Marion Cotillard. Ambos são muito precisos na construção do comportamento de pessoas que saltam rapidamente de heróis a loucos.
Se a peça já sugere um clima soturno, no cinema a experiência é mais intensa, graças aos recursos que a sétima arte tem para proporcionar isso aos espectadores. Porém, a não ser em momentos de grandes batalhas – quando a tecnologia se torna mais aparente – a narrativa proposta por Kurzel não se curva à velocidade de nossos tempos.