Desculpe quem não gosta, mas o franco-suíço Jean-Luc Godard é um dos mais exuberantes criadores da história do cinema e talvez da arte. Quarenta e três filmes do diretor estão na mostra aberta ontem e que segue até 12 de janeiro, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes. “Por mais que já tenham sido publicados muitos livros sobre Godard, além de existirem inúmeras teses, a sensação é de que ainda há muito o que se descobrir sobre a obra de Godard”, observa Eugênio Puppo, curador do festival. “Organizei a mostra dedicada às novas gerações. Que Jean-Luc continue sendo influente aos realizadores brasileiros. Viva Godard!”, afirma
Jean-Luc Godard, explica Puppo, é artista novo a cada obra e que continua fecundo. “Ao observar o conjunto de sua obra, a sensação que tenho é de estar diante de um artista que está sempre se reinventando sem jamais perder a coerência, é assombroso”, observa. Onipresente nos filmes, aponta, é a discussão de gênero e a política, mas sempre movidos por autocrítica que foi se transformando ao longo de cinco décadas de atividade. “Até o suporte dos filmes é sujeito de transformação: Godard foi da película ao vídeo, do P&B ao 3D, ao celular”, recorda, explicando que é diretor atualizado com relação às novas tecnologias e aberto às transformações/revoluções trazidas por elas.
O cinema, observa, é outro tema presente nos filmes de Godard. O diretor, conta Puppo, já chegou a assinar um filme (Bando à parte) com o nome de Jean-Luc Cinéma Godard, daí o título da retrospectiva. Fiel à permanente autocrítica, o assunto teve enfoques distintos ao longo da carreira do cineasta. “Já foi olhar de simpatia e rejeição, momentos de construção e destruição”, observa. Godard, avisa o curador, é mais do que cineasta ou videoartista: “Ele é um filósofo. Hoje em dia não é raro vermos o nome de Godard constando nas bibliografias de teses de filosofia, antropologia, enfim, quaisquer ciências humanas”, registra.
Eugênio Puppo evita recomendações, para quem ainda não conhece os trabalhos do cineasta, sobre por onde adentrar em obra longa, extensa, repleta de provocações. “Alguns diriam para começar pelos mais antigos, pois, a princípio, são mais fáceis. Mas acredito que o mais importante é assistir em quantidade e, se possível, diversas vezes ao mesmo filme. Quanto mais se vê Godard, mais rica a experiência, mais referências e pontes o espectador poderá realizar e esse tipo de relação costuma ser gratificante”, aposta. “Sugiro também às pessoas que se permitam dúvidas e incertezas, sair de uma sessão com inquietações é uma das melhores sensações que o cinema nos traz”, observa.
A obra de Godard, para Puppo, pode ser dividida em fases. A época da Cahiers du Cinéma, nos anos 1950. Ou as criações dos anos 1960, estreladas por Anna Karina, uma das musas e esposas do diretor. Há ainda os filmes, nos anos 1970, com o grupo Dziga Vertov, quando Godard soma política e arte experimental. E ainda existem os vídeos, meio que o diretor tem usado com frequência e em várias ocasiões recentes. “Ver trabalhos de vários momentos é bastante útil quando se trata de um cineasta tão prolífico”, explica, dizendo que consideração abrangente com a obra é necessária, seja para quem se dedica a análises acadêmicas quanto para quem for ver a mostra.
“A Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard tenta exercício de entender o cineasta além dessas fases e permitir novas percepções”, explica Puppo. O curador tem filmes favoritos: Acossado, a série Histoire(s) du cinéma, além de filmes mais recentes, como Nossa música, Filme socialismo e Adeus à linguagem. “E apreço pelas videocartas que evidenciam seu pensamento de maneira bastante direta”, conta. Vai ser distribuído gratuitamente o livro-catálogo Godard por inteiro ou o mundo em pedaços, com textos de dezenas de colaboradores, brasileiros e de outros países. “É livro para acompanhar a mostra, ter em casa, na estante ou na mochila. Quem não conseguir um exemplar do livro-catálogo poderá acessar seu conteúdo gratuitamente no endereço www.portalbrasileirodecinema.com.br.
Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard
De hoje a 12 de janeiro. Cine Humberto Mauro, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca, com retirada de ingresso 30 minutos antes de cada sessão.
• PROGRAMAÇÃO
HOJE
» 15h - História(s) do cinema (episódios 1A e 1B), 1988-1998, 93min.
» 17h - Carta a Freddy Buache. Sobre um curta-metragem a respeito da cidade de Lausanne, 1982, 11min; Mudar de imagem. Carta à bem-amada, 1982, 10min, Soft and hard, 1985, 52min.
» 19h - Paixão, 1982, 87min.
» 21h - O desprezo, 1963, 100min.
AMANHÃ
» 15h - História(s) do cinema (episódios 2A, 2B e 3A), 1988-1998, 80min.
» 17h - 2×50 anos de cinema francês, 1995, 50min; O relatório Darty, 1989, 50min.
» 19h - Rei Lear, 1987, 90min.
» 21h - O demônio das onze horas, 1965, 110min.
Jean-Luc Godard, explica Puppo, é artista novo a cada obra e que continua fecundo. “Ao observar o conjunto de sua obra, a sensação que tenho é de estar diante de um artista que está sempre se reinventando sem jamais perder a coerência, é assombroso”, observa. Onipresente nos filmes, aponta, é a discussão de gênero e a política, mas sempre movidos por autocrítica que foi se transformando ao longo de cinco décadas de atividade. “Até o suporte dos filmes é sujeito de transformação: Godard foi da película ao vídeo, do P&B ao 3D, ao celular”, recorda, explicando que é diretor atualizado com relação às novas tecnologias e aberto às transformações/revoluções trazidas por elas.
O cinema, observa, é outro tema presente nos filmes de Godard. O diretor, conta Puppo, já chegou a assinar um filme (Bando à parte) com o nome de Jean-Luc Cinéma Godard, daí o título da retrospectiva. Fiel à permanente autocrítica, o assunto teve enfoques distintos ao longo da carreira do cineasta. “Já foi olhar de simpatia e rejeição, momentos de construção e destruição”, observa. Godard, avisa o curador, é mais do que cineasta ou videoartista: “Ele é um filósofo. Hoje em dia não é raro vermos o nome de Godard constando nas bibliografias de teses de filosofia, antropologia, enfim, quaisquer ciências humanas”, registra.
Eugênio Puppo evita recomendações, para quem ainda não conhece os trabalhos do cineasta, sobre por onde adentrar em obra longa, extensa, repleta de provocações. “Alguns diriam para começar pelos mais antigos, pois, a princípio, são mais fáceis. Mas acredito que o mais importante é assistir em quantidade e, se possível, diversas vezes ao mesmo filme. Quanto mais se vê Godard, mais rica a experiência, mais referências e pontes o espectador poderá realizar e esse tipo de relação costuma ser gratificante”, aposta. “Sugiro também às pessoas que se permitam dúvidas e incertezas, sair de uma sessão com inquietações é uma das melhores sensações que o cinema nos traz”, observa.
A obra de Godard, para Puppo, pode ser dividida em fases. A época da Cahiers du Cinéma, nos anos 1950. Ou as criações dos anos 1960, estreladas por Anna Karina, uma das musas e esposas do diretor. Há ainda os filmes, nos anos 1970, com o grupo Dziga Vertov, quando Godard soma política e arte experimental. E ainda existem os vídeos, meio que o diretor tem usado com frequência e em várias ocasiões recentes. “Ver trabalhos de vários momentos é bastante útil quando se trata de um cineasta tão prolífico”, explica, dizendo que consideração abrangente com a obra é necessária, seja para quem se dedica a análises acadêmicas quanto para quem for ver a mostra.
“A Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard tenta exercício de entender o cineasta além dessas fases e permitir novas percepções”, explica Puppo. O curador tem filmes favoritos: Acossado, a série Histoire(s) du cinéma, além de filmes mais recentes, como Nossa música, Filme socialismo e Adeus à linguagem. “E apreço pelas videocartas que evidenciam seu pensamento de maneira bastante direta”, conta. Vai ser distribuído gratuitamente o livro-catálogo Godard por inteiro ou o mundo em pedaços, com textos de dezenas de colaboradores, brasileiros e de outros países. “É livro para acompanhar a mostra, ter em casa, na estante ou na mochila. Quem não conseguir um exemplar do livro-catálogo poderá acessar seu conteúdo gratuitamente no endereço www.portalbrasileirodecinema.com.br.
Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard
De hoje a 12 de janeiro. Cine Humberto Mauro, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca, com retirada de ingresso 30 minutos antes de cada sessão.
• PROGRAMAÇÃO
HOJE
» 15h - História(s) do cinema (episódios 1A e 1B), 1988-1998, 93min.
» 17h - Carta a Freddy Buache. Sobre um curta-metragem a respeito da cidade de Lausanne, 1982, 11min; Mudar de imagem. Carta à bem-amada, 1982, 10min, Soft and hard, 1985, 52min.
» 19h - Paixão, 1982, 87min.
» 21h - O desprezo, 1963, 100min.
AMANHÃ
» 15h - História(s) do cinema (episódios 2A, 2B e 3A), 1988-1998, 80min.
» 17h - 2×50 anos de cinema francês, 1995, 50min; O relatório Darty, 1989, 50min.
» 19h - Rei Lear, 1987, 90min.
» 21h - O demônio das onze horas, 1965, 110min.