Jean-Luc Godard, explica Puppo, é artista novo a cada obra e que continua fecundo. “Ao observar o conjunto de sua obra, a sensação que tenho é de estar diante de um artista que está sempre se reinventando sem jamais perder a coerência, é assombroso”, observa. Onipresente nos filmes, aponta, é a discussão de gênero e a política, mas sempre movidos por autocrítica que foi se transformando ao longo de cinco décadas de atividade.
O cinema, observa, é outro tema presente nos filmes de Godard. O diretor, conta Puppo, já chegou a assinar um filme (Bando à parte) com o nome de Jean-Luc Cinéma Godard, daí o título da retrospectiva. Fiel à permanente autocrítica, o assunto teve enfoques distintos ao longo da carreira do cineasta. “Já foi olhar de simpatia e rejeição, momentos de construção e destruição”, observa. Godard, avisa o curador, é mais do que cineasta ou videoartista: “Ele é um filósofo. Hoje em dia não é raro vermos o nome de Godard constando nas bibliografias de teses de filosofia, antropologia, enfim, quaisquer ciências humanas”, registra.
Eugênio Puppo evita recomendações, para quem ainda não conhece os trabalhos do cineasta, sobre por onde adentrar em obra longa, extensa, repleta de provocações. “Alguns diriam para começar pelos mais antigos, pois, a princípio, são mais fáceis. Mas acredito que o mais importante é assistir em quantidade e, se possível, diversas vezes ao mesmo filme. Quanto mais se vê Godard, mais rica a experiência, mais referências e pontes o espectador poderá realizar e esse tipo de relação costuma ser gratificante”, aposta. “Sugiro também às pessoas que se permitam dúvidas e incertezas, sair de uma sessão com inquietações é uma das melhores sensações que o cinema nos traz”, observa.
A obra de Godard, para Puppo, pode ser dividida em fases. A época da Cahiers du Cinéma, nos anos 1950. Ou as criações dos anos 1960, estreladas por Anna Karina, uma das musas e esposas do diretor. Há ainda os filmes, nos anos 1970, com o grupo Dziga Vertov, quando Godard soma política e arte experimental.
“A Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard tenta exercício de entender o cineasta além dessas fases e permitir novas percepções”, explica Puppo. O curador tem filmes favoritos: Acossado, a série Histoire(s) du cinéma, além de filmes mais recentes, como Nossa música, Filme socialismo e Adeus à linguagem. “E apreço pelas videocartas que evidenciam seu pensamento de maneira bastante direta”, conta. Vai ser distribuído gratuitamente o livro-catálogo Godard por inteiro ou o mundo em pedaços, com textos de dezenas de colaboradores, brasileiros e de outros países. “É livro para acompanhar a mostra, ter em casa, na estante ou na mochila. Quem não conseguir um exemplar do livro-catálogo poderá acessar seu conteúdo gratuitamente no endereço www.portalbrasileirodecinema.com.br.
Retrospectiva Jean-Luc Cinéma Godard
De hoje a 12 de janeiro. Cine Humberto Mauro, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca, com retirada de ingresso 30 minutos antes de cada sessão.
• PROGRAMAÇÃO
HOJE
» 15h - História(s) do cinema (episódios 1A e 1B), 1988-1998, 93min.
» 17h - Carta a Freddy Buache.
» 19h - Paixão, 1982, 87min.
» 21h - O desprezo, 1963, 100min.
AMANHÃ
» 15h - História(s) do cinema (episódios 2A, 2B e 3A), 1988-1998, 80min.
» 17h - 2×50 anos de cinema francês, 1995, 50min; O relatório Darty, 1989, 50min.
» 19h - Rei Lear, 1987, 90min.
» 21h - O demônio das onze horas, 1965, 110min.