“De um modo louco, as pessoas chegavam a fazer selfies(!), em frente à casa dos Puccios (os criminosos). Esbarrar com isso suplanta a vida cotidiana. Teve gente relatando que assistiu ao filme quatro vezes, a fim de decifrar algo dos atos de loucura”, conta Trapero ao Correio. Pela fita, o diretor — pré-candidato à vaga no Oscar — levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e menção honrosa no último Festival de Toronto. No terreno das comparações, ser visto como uma espécie de Martin Scorsese não o deixou nada triste.
Dono da maior abertura na história do cinema argentino, em termos de público, Trapero ostenta, com O clã, a posição de segundo filme mais visto, superando até sucessos como Nazareno Cruz e o lobo (1975) e Relatos selvagens (2014). O assunto pode ser sério, mas o diretor argentino recorre à gargalhada quando visualiza duelo entre o sangue frio de seus personagens e os transtornados tipos de Relatos selvagens. “Em silêncio, prestei uma homenagem aos filmes de Buñuel, numa situação surrealista. Arquimedes Puccio (o protagonista) é um personagem, a princípio, odiado pelos espectadores que quase não podem acreditar no que veem, ficando entregues ao medo e à fascinação”, observa.
Trapero assegura a validade do que se vê na tela, no retrato da violenta família, que andava solta e incógnita, com bom trânsito na sociedade portenha. “Eles brindavam datas de família, enquanto mantinham, em casa, pessoas em cativeiro. O contraste entre o que seja público ou privado é uma das propostas de O clã. Nisso residem as alegrias e as angústias dos personagens”, explica o cineasta.
Tiros na cabeça de vítimas, negociações de resgates na ordem de US$ 500 mil e convívio cínico entre familiares nutrem O clã. Peter Lanzani, que interpreta Alejandro, o filho do protagonista, é estreante em cinema, mas traz boa experiência em tevê, em produções como A dona (atualmente exibida no SBT). Na continuidade da cinematografia de Trapero, que inclui El Bonaerense (2002) e Nascido e criado (2006), O clã aposta em intensidade. Jogador de rugby, na trama, Lanzani vê a violência em campo como café pequeno, frente ao esdrúxulo comportamento do pai.
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