Para o cineasta mineiro Helvécio Ratton, a celebração tem bons motivos e é bem-vinda. “Bruce Lee é uma estrela, uma destas lendas do cinema que persistem e vão persistir para sempre”, garante. Na opinião de Ratton, Bruce Lee era um bailarino, cuja movimentação encanta ainda hoje. Consideração carinhosa vinda de um diretor que, como ele mesmo observa, sempre viu o lutador com curiosidade, ainda nos anos 1970, pela presença marcante com que chegou aos cinemas.
Ser como a água
Bruce Lee nasceu em San Francisco (EUA), em 27 de novembro de 1940. Quarto dos cinco filhos de pais chineses, que saíram de Hong Kong com uma companhia de ópera, foi batizado Lee Jun-fan, que significa “retomar de novo”. Desde bebê, já participava de filmes. A família logo voltou a Hong Kong, e a iniciação nas artes marciais se deu primeiro com o pai, que ensinou aos filhos a prática do tai chi e do kung fu. Depois, foi aluno do mestre Wing Chun, que começou a treiná-lo – outros professores se recusavam a ensinar artes marciais a quem não fosse totalmente chinês, e o avô materno de Lee era alemão.
Confira trailer de Jogo da morte, filme que Lee deixou inacabado:
Em uma adolescência tumultuada, Bruce Lee chegou a enfrentar membros de gangues e a ser ameaçado por ter espancado o filho do líder de uma delas, correndo o risco de ser preso. A família resolve então enviar o jovem de 18 anos para os Estados Unidos, para morar com a irmã.
Na bagagem, ele levava dois títulos de campeão de boxe, em 1957 e 1958. De San Francisco, vai para Seattle. No início dos anos 1960, está na universidade de Washington, onde estuda filosofia, teatro e psicologia.
O estilo Jeet Kune Do, que ele inventou, surgiu em 1965, depois de luta com Wong Jack Man, um represente dos que eram contra a ideia ensinar artes marciais a não orientais. Após derrotar Wong, Bruce Lee aprofundaria as críticas às tradições das artes marciais, para ele muito rígidas e formais para serem usadas em situação de defesa pessoal nas ruas.
Desenvolve então sistema com ênfase na “praticidade, flexibilidade, rapidez e eficiência”, mistura de várias práticas – ele conhecia mais de uma dezena delas. “Estilo sem estilo”, nas palavras de Lee, influenciado pelo taoismo, krishnamurti e budismo, ainda que ele tenha se declarado sem religião e ateu.
Falando de sua base filosófica, Bruce Lee se definiu com a expressão “ser como água”, pela possibilidade do líquido de tomar várias formas, sem se limitar a uma delas.
No cinema
A agilidade de Bruce Lee chamou a atenção de produtores de televisão e cinema, que o contrataram para elenco de apoio de diversas produções. Insatisfeito com tal posição, ele retornou a Hong Kong e conseguiu contrato para estrelar dois filmes. O primeiro deles, O dragão chinês, foi um enorme sucesso de bilheteria em toda a Ásia e o lançou ao estrelato.
Veio então A fúria do dragão, seguido por O voo do dragão. No final de 1972, Bruce Lee começou a desenvolver O jogo da morte, projeto interrompido pelo convite para estrelar Operação dragão, que o lançaria na Europa e Estados Unidos. Em 20 de julho de 1973, meses após a conclusão do filme e seis dias antes da sua estreia, Bruce Lee morreu. A autópsia indicou edema cerebral, mas há quem fale em vingança da máfia que ele enfrentou na adolescência, em Hong Kong, e até de quem continuava contra o ensino de artes marciais aos não orientais. Tinha 32 anos.
Um atleta inovador
“As artes marciais antigas foram criadas para um certo tipo de corpo e, por longo tempo, continuaram a ser ensinadas sem considerar diferenças na estrutura física e biomecânica dos atletas”, explica Alexandre Terra.
“As criações, métodos e ideias de Bruce Lee mostram que o ser humano está além dos estilos, dos sistemas estabelecidos”, continua. “E assim ensinou a não ficar preso a limites fixos, tomados como verdade absoluta.” Para Alexandre Terra, Bruce Lee era ainda mais prodigioso do que mostram os filmes: “Ele conseguia fazer oito golpes por segundo, e desconheço quem o faça. Teve, inclusive, de diminuir a velocidade para que fosse possível filmar a ação”, conta.
A dica de Alexandre Terra para conhecer Bruce Lee é o filme Operação dragão, o único que não está na mostra. Nesta produção, explica Alexandre Terra, o lutador mostra detalhes do caminho que investigou. Depois, o livro O tao do Jeet Kume Do, póstumo, organizado pela mulher do lutador, onde estão as bases filosóficas do processo. E uma longa entrevista disponível no YouTube, chamada “Como água”.
Festival Bruce Lee – 75 anos
De 26 de novembro a 2 de dezembro, no Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Funcionários).