Que o cinema é uma arte, é fato. Mesmo assim, não dispensa olhares atentos e críticos ao que é retratado nas grandes telas. Afinal, a arte pela arte não se justifica quando acentua preconceitos, sexismos e barreiras sociais pelo simples “porque sim”.
É comum (mas nem por isso normal) que negros e latinos, por exemplo, cumpram uma participação mínima ou nenhuma em filmes de Hollywood. Com as mulheres, a situação é parecida: minoria em comparação aos homens, frequentemente elas são relegadas a segundo plano.
Apenas 12% são protagonistas, segundo a pesquisa It’s a man’s world: representações cinematográficas de personagens femininas nos 100 filmes mais populares de 2014, publicada neste ano pela Universidade de San Diego, nos Estados Unidos. Quando os diretores e roteiristas são homens, a porcentagem cai para 4%.
Condição nem sempre crítica
Não é apenas à frente da prole, cuidando de exemplar família, de avental impecável e dona de inventivas receitas apetitosas que a mulher foi representada, no passado, nas telas de cinema. Desde sempre, os roteiristas e diretores têm tratado de multiplicar a faceta feminina que se desdobra em afazeres, responsabilidades, desejos e questões de peso para a sociedade. Confira alguns exemplos:
Roma, cidade aberta (1945) — Em cartaz com a reprise de Mamma Roma (1962), no qual interpreta a prostituta que quer mudar de vida, para orgulhar o filho, a estrela Anna Magnani, em Roma, cidade aberta, toma parte da trama que tem foco na resistência ao nazismo, no qual interpreta Pina, uma grávida abatida por impiedosa metralhadora.
Uma rua chamada pecado (1950) — Blanche DuBois foi a clássica personagem para Vivien Leigh, que teve embate de gigantes com o parceiro de cena Marlon Brando. Em visita a Nova Orleans, onde mora a irmã, Blanche provoca o quanto pode — talvez até mais do que a Elizabeth Taylor de Quem tem medo de Virginia Woolf? — nos planos erótico e intelectual.
Boneca de carne (1956) — Ameaça de excomunhão para o público, feita pela Igreja e pela Liga da Decência, permeou a exibição desta adaptação de obra de Tennessee Williams. No papel-título da bizarra obra comandada por Elia Kazan, Caroll Baker é a prometida de Archie Lee (Karl Malden), que será deflorada aos 20 anos. Enquanto isso, faz estripulias com o safado visitante da casa, vivido por Eli Wallach.
A aventura (1960) — A partir da ausência de uma mulher, Anna (feita por Lea Massari), que desaparece no meio de uma viagem, Michelangelo Antonioni constrói um clássico supremo dos anos 1960. Sicilianos da alta classe, os personagens de Gabriele Ferzetti e Monica Vitti, muito próximos à sumida, desconstroem a ideia de perda, apostando num tumultuado romance.
Os cafajestes (1962) — O primeiro nu frontal do cinema nacional marcou Norma Bengell, nessa trama de extorsão e chantagem, dramatizada pelo cineasta Ruy Guerra e encabeçada por Jece Valadão e Daniel Filho.
Gritos e sussurros (1972) — Um dos maiores filmes do sueco Ingmar Bergman projeta medos, prazeres e sentimentos maternais comuns a três irmãs confinadas numa casa de campo. A sexualidade feminina tem amplo espaço na trama.
À procura de Mr. Goodbar (1977) — Uma professora de hábitos liberais, nos parâmetros setentistas, Theresa Dunn (baseada em mulher morta em 1973) convive, diante das escolhas de parceiros, de bar em bar, imersa em ambiente dominado por vícios e riscos.
Julia (1977) — Nos anos 1930, a dramaturga Lilian Hellman (Jane Fonda) atende a arriscado pedido da amiga Julia (Vanessa Redgrave): judia, é arregimentada para transporte de montante de dinheiro destinado a vítimas do nazismo. O detalhe é que o pedido é feito quando ela segue para a Rússia comunista, como convidada.
Alien, o resgate (1986) — A oficial da ficção científica Ellen Ripley propiciou dos mais representativos personagens de heroísmo da história do cinema, pelas mãos de Sigourney Weaver, neste filme de James Cameron.
Norma Rae (1979) — Recebendo uma formação sólida na agitada Nova York, ao sul dos Estados Unidos, a personagem-título se transforma numa das mais atuantes sindicalistas americanas. O papel rendeu Oscar a Sally Field.
Silkwood — O retrato de uma coragem (1983) — O caso real de Karen Silkwood, influente trabalhadora da indústria nuclear, vem a público por meio de magistral retrato de Meryl Streep. Melhores condições trabalhistas e conquistas na área da saúde estão entre os feitos de Karen, dona de dramático destino.
Thelma e Louise (1991) — Na mais definitiva cena de cinema no Grand Canyon, Geena Davis e Susan Sarandon (ambas indicadas ao Oscar) dão fim a libertário conto orquestrado por Ridley Scott.
O piano (1993) — A diretora neozelandesa Jane Campion imprime desejo e descobertas marcantes para a muda personagem Ada (Holly Hunter). No domínio dos desejos eróticos, Ada leva à loucura o tipo feito por Harvey Keitel, mas prevalece muito do machismo no enredo.
Relatos selvagens (2014) — Posta à prova, na festa de casamento, a personagem da noiva Romina é um exemplo da mulher contemporânea, Mais do que determinada e efusiva. Erica Rivas é a atriz que dá vida a mais improvável noiva da história do cinema, na comédia assinada por Damián Szifrón.
É comum (mas nem por isso normal) que negros e latinos, por exemplo, cumpram uma participação mínima ou nenhuma em filmes de Hollywood. Com as mulheres, a situação é parecida: minoria em comparação aos homens, frequentemente elas são relegadas a segundo plano.
Apenas 12% são protagonistas, segundo a pesquisa It’s a man’s world: representações cinematográficas de personagens femininas nos 100 filmes mais populares de 2014, publicada neste ano pela Universidade de San Diego, nos Estados Unidos. Quando os diretores e roteiristas são homens, a porcentagem cai para 4%.
Condição nem sempre crítica
Não é apenas à frente da prole, cuidando de exemplar família, de avental impecável e dona de inventivas receitas apetitosas que a mulher foi representada, no passado, nas telas de cinema. Desde sempre, os roteiristas e diretores têm tratado de multiplicar a faceta feminina que se desdobra em afazeres, responsabilidades, desejos e questões de peso para a sociedade. Confira alguns exemplos:
Roma, cidade aberta (1945) — Em cartaz com a reprise de Mamma Roma (1962), no qual interpreta a prostituta que quer mudar de vida, para orgulhar o filho, a estrela Anna Magnani, em Roma, cidade aberta, toma parte da trama que tem foco na resistência ao nazismo, no qual interpreta Pina, uma grávida abatida por impiedosa metralhadora.
Uma rua chamada pecado (1950) — Blanche DuBois foi a clássica personagem para Vivien Leigh, que teve embate de gigantes com o parceiro de cena Marlon Brando. Em visita a Nova Orleans, onde mora a irmã, Blanche provoca o quanto pode — talvez até mais do que a Elizabeth Taylor de Quem tem medo de Virginia Woolf? — nos planos erótico e intelectual.
Boneca de carne (1956) — Ameaça de excomunhão para o público, feita pela Igreja e pela Liga da Decência, permeou a exibição desta adaptação de obra de Tennessee Williams. No papel-título da bizarra obra comandada por Elia Kazan, Caroll Baker é a prometida de Archie Lee (Karl Malden), que será deflorada aos 20 anos. Enquanto isso, faz estripulias com o safado visitante da casa, vivido por Eli Wallach.
A aventura (1960) — A partir da ausência de uma mulher, Anna (feita por Lea Massari), que desaparece no meio de uma viagem, Michelangelo Antonioni constrói um clássico supremo dos anos 1960. Sicilianos da alta classe, os personagens de Gabriele Ferzetti e Monica Vitti, muito próximos à sumida, desconstroem a ideia de perda, apostando num tumultuado romance.
Os cafajestes (1962) — O primeiro nu frontal do cinema nacional marcou Norma Bengell, nessa trama de extorsão e chantagem, dramatizada pelo cineasta Ruy Guerra e encabeçada por Jece Valadão e Daniel Filho.
Gritos e sussurros (1972) — Um dos maiores filmes do sueco Ingmar Bergman projeta medos, prazeres e sentimentos maternais comuns a três irmãs confinadas numa casa de campo. A sexualidade feminina tem amplo espaço na trama.
À procura de Mr. Goodbar (1977) — Uma professora de hábitos liberais, nos parâmetros setentistas, Theresa Dunn (baseada em mulher morta em 1973) convive, diante das escolhas de parceiros, de bar em bar, imersa em ambiente dominado por vícios e riscos.
Julia (1977) — Nos anos 1930, a dramaturga Lilian Hellman (Jane Fonda) atende a arriscado pedido da amiga Julia (Vanessa Redgrave): judia, é arregimentada para transporte de montante de dinheiro destinado a vítimas do nazismo. O detalhe é que o pedido é feito quando ela segue para a Rússia comunista, como convidada.
Alien, o resgate (1986) — A oficial da ficção científica Ellen Ripley propiciou dos mais representativos personagens de heroísmo da história do cinema, pelas mãos de Sigourney Weaver, neste filme de James Cameron.
Norma Rae (1979) — Recebendo uma formação sólida na agitada Nova York, ao sul dos Estados Unidos, a personagem-título se transforma numa das mais atuantes sindicalistas americanas. O papel rendeu Oscar a Sally Field.
Silkwood — O retrato de uma coragem (1983) — O caso real de Karen Silkwood, influente trabalhadora da indústria nuclear, vem a público por meio de magistral retrato de Meryl Streep. Melhores condições trabalhistas e conquistas na área da saúde estão entre os feitos de Karen, dona de dramático destino.
Thelma e Louise (1991) — Na mais definitiva cena de cinema no Grand Canyon, Geena Davis e Susan Sarandon (ambas indicadas ao Oscar) dão fim a libertário conto orquestrado por Ridley Scott.
O piano (1993) — A diretora neozelandesa Jane Campion imprime desejo e descobertas marcantes para a muda personagem Ada (Holly Hunter). No domínio dos desejos eróticos, Ada leva à loucura o tipo feito por Harvey Keitel, mas prevalece muito do machismo no enredo.
Relatos selvagens (2014) — Posta à prova, na festa de casamento, a personagem da noiva Romina é um exemplo da mulher contemporânea, Mais do que determinada e efusiva. Erica Rivas é a atriz que dá vida a mais improvável noiva da história do cinema, na comédia assinada por Damián Szifrón.