Não é pela porta da frente que Benjamin (Vincent Lacoste) entra no hospital dirigido por seu pai, para iniciar seu período como médico residente. Corredores tortuosos o levarão até a lavanderia, onde o novato pede um jaleco tamanho 2 – e lhe entregam um exemplar duas vezes maior. Ao começar assim o longa Hipócrates, que estreia hoje nos cinemas, o diretor francês Thomas Lilti nos dá as senhas para o que virá a seguir: a jornada de um homem que tenta, canhestramente, ser maior do que é.
Benjamin tem 23 anos e se esforça (em vão) para aparentar autoconfiança. Vítima da própria inexperiência, ele negligencia um procedimento básico durante um atendimento de urgência em seu plantão. As consequências são irreversíveis, e o jovem médico reage a elas com outra falha – desta vez, de caráter.
Benjamin mente. Benjamin tenta empurrar a culpa para um colega sem chances de se defender. Benjamin aceita ter seu erro encoberto pelo pai, um médico experiente e renomado que, por sua vez, esconde a própria falta de ética sob a capa da virtude: “Estou defendendo a família que somos neste hospital. Ninguém aqui é super-herói. Se não pudermos contar uns com os outros, não aguentamos”.
É mérito do ator Vincent Lacoste que o espectador não perca o interesse pelo protagonista de Hipócrates mesmo quando ele age como um covarde. Nesse trecho do filme, a reserva moral é garantida pelo dr. Abdel Rezzak (Reda Kateb). Argelino interessado em se radicar na França, Rezzak precisa trabalhar na mesma condição dos recém-formados, embora tenha uma carreira e experiência acumulada em seu país. O “rebaixamento” corresponde ao período de teste para a validação de seu diploma africano.
Com a presença de Rezzak e de outros médicos de ex-colônias francesas na trama, Hipócrates roça a acalorada discussão de como a França lida hoje com imigrantes. E vai além: medidas de contenção de custos que tornam precárias as condições de trabalho e põem em risco a qualidade do atendimento aos pacientes também se somam à bola de neve que o erro de Benjamin desencadeia.
O direito de escolha a uma morte digna e a definição do uso de todos os recursos médicos disponíveis para manter determinados pacientes respirando, como “reanimação abusiva”, são outros temas espinhosos que Hipócrates não exclui de seu leque, embora não se aprofunde neles. As angústias do jovem Benjamin e os dilemas que cercam a rotina de um hospital são aspectos que o diretor do filme conhece não apenas na teoria. Lilti é médico e exerceu a profissão até trocá-la por uma carreira autodidata no cinema.
Pelo desfecho do longa, depreende-se que Lilti deixou a medicina antes de descrer nela ou na chance de um jovem que conquistou seu diploma sem estar pronto para assumir palavra por palavra o juramento de Hipócrates, evoluir profissional e moralmente e finalmente poder vestir um jaleco na justa medida de suas competências.
Benjamin tem 23 anos e se esforça (em vão) para aparentar autoconfiança. Vítima da própria inexperiência, ele negligencia um procedimento básico durante um atendimento de urgência em seu plantão. As consequências são irreversíveis, e o jovem médico reage a elas com outra falha – desta vez, de caráter.
Benjamin mente. Benjamin tenta empurrar a culpa para um colega sem chances de se defender. Benjamin aceita ter seu erro encoberto pelo pai, um médico experiente e renomado que, por sua vez, esconde a própria falta de ética sob a capa da virtude: “Estou defendendo a família que somos neste hospital. Ninguém aqui é super-herói. Se não pudermos contar uns com os outros, não aguentamos”.
É mérito do ator Vincent Lacoste que o espectador não perca o interesse pelo protagonista de Hipócrates mesmo quando ele age como um covarde. Nesse trecho do filme, a reserva moral é garantida pelo dr. Abdel Rezzak (Reda Kateb). Argelino interessado em se radicar na França, Rezzak precisa trabalhar na mesma condição dos recém-formados, embora tenha uma carreira e experiência acumulada em seu país. O “rebaixamento” corresponde ao período de teste para a validação de seu diploma africano.
Com a presença de Rezzak e de outros médicos de ex-colônias francesas na trama, Hipócrates roça a acalorada discussão de como a França lida hoje com imigrantes. E vai além: medidas de contenção de custos que tornam precárias as condições de trabalho e põem em risco a qualidade do atendimento aos pacientes também se somam à bola de neve que o erro de Benjamin desencadeia.
O direito de escolha a uma morte digna e a definição do uso de todos os recursos médicos disponíveis para manter determinados pacientes respirando, como “reanimação abusiva”, são outros temas espinhosos que Hipócrates não exclui de seu leque, embora não se aprofunde neles. As angústias do jovem Benjamin e os dilemas que cercam a rotina de um hospital são aspectos que o diretor do filme conhece não apenas na teoria. Lilti é médico e exerceu a profissão até trocá-la por uma carreira autodidata no cinema.
Pelo desfecho do longa, depreende-se que Lilti deixou a medicina antes de descrer nela ou na chance de um jovem que conquistou seu diploma sem estar pronto para assumir palavra por palavra o juramento de Hipócrates, evoluir profissional e moralmente e finalmente poder vestir um jaleco na justa medida de suas competências.