São Paulo – Em 1988, o finlandês Mika Kaurismäki chegou ao Rio de Janeiro para exibir, no encerramento do extinto FestRio, o filme Helsinki/Napoli: Toda noite, um policial rodado na Berlim oriental que se deu ao luxo de reunir, em participações especiais, os cineastas Samuel Fuller, Wim Wenders e Jim Jarmusch.
Como nunca havia pensado em vir ao Brasil, depois da semana carioca, Kaurismäki resolveu esticar. Voltou outras vezes, passou uma temporada entre o Nordeste e a Amazônia e até emplacou um projeto naquela região do país, o longa Amazon (1990). “Aquela semana acabou virando 25 anos, que completei de Brasil na última semana”, afirma o cineasta de 60 anos, morador do Rio de Janeiro, casado com uma baiana e pai de uma menina de 4 anos e um garoto de 7, ambos brasileiros.
A Finlândia é o país nórdico menos populoso da União Europeia (tem pouco mais de 5 milhões de habitantes). Tem uma língua impossível para quem vem de fora e que não guarda relação alguma com os idiomas falados nas vizinhas Suécia e Dinamarca. Por isso mesmo, a produção cinematográfica em finlandês é consumida principalmente no próprio país.
Ele apresentou sua obra mais ambiciosa, o drama histórico A jovem rainha, uma coprodução Finlândia, Canadá, Alemanha e Suécia. Falado em inglês, o longa conta a história da rainha Cristina da Suécia, que no século 17 enfrentou a Guerra dos Trinta Anos.
LUXO Lá, ele é mainstream; aqui, é considerado diretor de arte. O tema familiar é caro ao cineasta, que tem duas filhas adultas em seu país natal. “Depois que me mudei para o Brasil, fiquei 15 anos sem filmar em finlandês. Sentia falta da língua, de trabalhar com atores finlandeses. E filmar em seu próprio idioma é um luxo, pois você conhece a cultura, as nuances.”
Foram também 15 anos o tempo que Kaurismäki precisou para tirar do papel A jovem rainha, que começa sua carreira comercial somente em dezembro, a partir do lançamento nos EUA. Hoje, o cineasta admite: este deve ser seu primeiro e último longa-metragem de época. “É o meu maior filme, mas, mesmo assim, o financiamento foi apertado.”
Kaurismäki escolheu a atriz sueca Malin Buska para interpretar um papel que já coube a Greta Garbo (Rainha Cristina, de 1933). “Ela (Garbo) quis fazer outro tipo de filme, mostrando uma história de amor entre duas mulheres”, conta o cineasta. Na impossibilidade, foi criado um personagem masculino espanhol, que chega à corte e desestabiliza a monarca.
“A rainha Cristina é um ícone do feminismo. Tem um pensamento muito moderno, não só por causa da guerra, mas também pelo fato de levar arte e cultura para o Norte.
Kaurismäki tem alguns títulos realizados no país, entre eles, os documentários sobre música Moro no Brasil (2002) e Brasileirinho – Grandes encontros do choro (2005). São, no entanto, coproduções com Finlândia, Suíça e Alemanha. “Tenho dois projetos de ficção, em fase de roteiro, para filmes brasileiros mesmo, em português”, comenta ele. Enquanto os projetos não se concretizam, ele continua atravessando o Atlântico várias vezes por ano para ir até a Finlândia. “Às vezes, vou até duas vezes por mês.”
A repórter viajou a convite da 39ª Mostra de São Paulo
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