Steven Spielberg estreou em 1965 com Firelight, em que fez uma unidade do Exército refém de alienígenas. O ataque japonês a Pearl Harbor, nos Estados Unidos, é o mote da comédia 1941 – Uma guerra muito louca (1979). À medida que a carreira se consolidava, as aproximações à temática predileta se tornaram mais densas. Foram ainda mais reconhecidas.
De ascendência judaica, o diretor falou com propriedade sobre a 2ª Guerra Mundial. Em Império do sol (1987), conta a história da invasão da China pelos japoneses. Por A lista de Schindler (1993) e O resgate do soldado Ryan (1998) ganhou o Oscar de melhor diretor. Abordou também os conflitos envolvendo o racismo em A cor púrpura (1985), Amistad (1998) e Lincoln (2012) e o terrorismo em Munique (2005). Contou até a história de um cavalo recrutado para a 1ª Guerra (Cavalo de guerra). Os conflitos bélicos também apareceram temperados com ficção científica em Minority Report (2002) e Guerra dos mundos (2005).
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Chegou a hora de falar sobre o início da Guerra Fria, em 1947, período, até então, inédito na obra do criador de Indiana Jones. Mais uma vez, Steven Spielberg recupera memórias de família. O pai dele, Arnold Spielberg, foi engenheiro intercambista na Rússia durante a Guerra Fria. Esteve na União Soviética justamente no período em que se passa Ponte dos espiões. Foi dele que o próprio diretor, então menino, ouviu a experiência de quem sentiu na pele a tensão crescente entre as duas nações.
O argumento é baseado em uma história real. O roteiro assinado pelos irmãos Ethan e Joel Coen, em parceria com Matt Charman, lembra quando o advogado especializado em seguros Jim Donavon (Tom Hanks) foi escalado para defender Rudolf Abel (Mark Ryklance), um espião soviético preso em solo norte-americano.
A narrativa de Ponte dos espiões é bastante semelhante à de Lincoln, o filme anterior. No longa lançado em 2012, Daniel Day-Lewis interpreta Abraham Lincoln, o 16º presidente norte-americano, que enfrentava a guerra civil entre o Sul e Norte. Na mesma época tentava apoio político para acabar com a escravidão. Era um filme de tribunal e muitas negociações. Claro, com o natural hábito de enaltecer a coragem norte-americana.
Os três elementos estão de volta, também embalados em uma fotografia sombria de Janusz Kaminski, a mesma estética que o próprio imprimiu em Lincoln. Chamado para defender Abel, James tem o desafio de livrar seu cliente da cadeira elétrica. Bem-sucedido na primeira empreitada, acaba convocado para intermediar a negociação de troca de reféns entre os dois países em guerra.
Ponte de espiões é dividido em duas partes. Na primeira se concentra o embate nos tribunais do juri norte-americanos, a reprovação popular do caso e a relação de James (conhecido por Jim) com a família. Depois, toda a trama se transfere para o nem um pouco calmo cenário da Alemanha Oriental, onde se dá, de fato, a intermediação de Jim Donavon.
Por se tratar de um filme de espiões, o desenvolvimento da trama é tão misterioso e contido como deve ser a tarefa de quem assume esse posto. As perseguições são tão discretas quanto perigosas e, por isso mesmo, o clima se mantém tenso ao longo das duas horas e 20 minutos de projeção. Ponte dos espiões é um filme sem qualquer rompante de ação, dependente da performance do ator e do texto. É estratégico ao extremo.
PARCERIA
É a quarta vez que Steven Spielberg e Tom Hanks trabalham juntos. Das cinco indicações que tem ao Oscar, duas delas foram pelas performances em O resgate do soldado Ryan (1998) e Prenda-me se for capaz (2001). Além desses, fez também a comédia dramática O terminal (2004). Como Jim Donavon, Hanks foge da caricatura do advogado competente. É carismático, ético e apenas com o olhar demonstra o peso da incumbência que recebeu sem querer.
Steven Spielberg fala sim sobre guerra, mas desta vez destaca sobretudo o poder do diálogo, essencial mesmo nos momentos de conflito. É essa característica que faz com que Ponte dos espiões converse com o nosso tempo. No final da década de 1947, a posse de informação era arma de guerra. Hoje não é diferente. Mais humanidade e conversa. Parece ser o recado de quem há tempos se dedica a entender – e ensinar – sobre as guerras.