Orlando – O grande clichê de viagem do brasileiro médio é a dobradinha Miami e Orlando. Se a grana sobrar, uma passadinha por Cancún sempre cai bem. Havendo a possibilidade de um cruzeiro então, o circuito será perfeito.
Com o dólar batendo a casa dos R$ 4, o sonho de muita gente foi postergado para dias melhores. Mas não para a turma de 'S.O.S. mulheres ao mar'. Lançada em março de 2014 em 450 salas, a primeira comédia da diretora Cris D’Amato ficou em segundo lugar entre os filmes nacionais mais vistos do ano passado (com 1,8 milhão de espectadores, dividiu o posto com Os homens são de Marte... E é pra lá que eu vou).
Rapidamente, uma sequência foi encomendada. Mais veloz até do que se imaginava. Com locações em Orlando, Miami, Cancún e num navio, S.O.S. mulheres ao mar 2 foi filmado entre fevereiro e abril, na única janela livre em que seus protagonistas – Giovanna Antonelli, Reynaldo Gianecchini, Fabíula Nascimento – tinham de gravações na TV. Uma grande operadora de turismo está entre os patrocinadores.
Seu orçamento, de R$ 7,9 milhões (contra os R$ 5,5 milhões do longa original), teve que se adequar à alta da moeda norte-americana: R$ 2,50 no início das filmagens, R$ 3,40 na parte final. Seria lançado somente em janeiro, mas os distribuidores (Europa, Universal e Elo) anteciparam a estreia para a próxima quinta-feira. Serão, ao menos, 450 salas.
ASSISTA A ENTREVISTA COM OS ATORES DO FILME:
E é neste clima de tudo ou nada – num ano fraco para as sequências, em que somente uma delas, 'Meu passado me condena 2', conseguiu ultrapassar a casa dos 2 milhões de espectadores – que o filme pretende superar a marca do primeiro. E tentar emplacar um terceiro, vontade tanto da diretora quanto do elenco.
O tour de force de lançamento incluiu uma pré-estreia para convidados no México e outra em Orlando. Esta última contou com todo o elenco principal, à exceção de Giovanna, em meio às gravações da novela 'A regra do jogo'. Jornalistas de 20 veículos brasileiros, entre eles o Estado de Minas, foram convidados.
As exibições internacionais não fazem parte de uma intenção de levar o filme para o mercado estrangeiro (ainda que o primeiro tenha sido exibido em 17 salas do Uruguai). A badalação, que inclui equipes dos programas Mais você e Altas horas (Ana Maria Braga e Serginho Groisman também estiveram em Orlando), foi uma maneira de apresentar os parques temáticos da Universal, utilizados como locação.
Se o primeiro S.O.S. era centrado na personagem de Giovanna (Adriana) tentando se vingar do marido que a havia abandonado por outra – neste, as duas companheiras de viagem (Luiza, vivida por Fabíula Nascimento, e Dialinda, interpretada por Thalita Carauta) têm igual peso.
Dialinda realizou o grande sonho e foi morar nos Estados Unidos. É diarista, mas quer mesmo é se casar com um americano para conseguir o greencard. Adriana fez da sua história de separação um best-seller. Ainda namorando André (Gianecchini), hoje um estilista em ascensão, continua, no entanto, passional. Ao descobrir que a ex-noiva de André, uma modelo de sucesso, vai participar do lançamento de sua coleção durante um cruzeiro, obriga a irmã Luiza a viajar com ela.
Busca
“Vejo essas mulheres como mulheres que encontro na rua. Cada uma está em busca de um companheiro. Isso é da vida. Duvido que alguém prefira ficar sozinho. Mas, no caso, elas é que buscam um companheiro, não o contrário”, afirma Cris D’Amato. As neuroses de Adriana, que motivam a viagem intempestiva, vêm da idade (a ex-noiva de André é bem mais jovem que ela).
“E isso é uma coisa que dá em todo mundo. Pode ser aos 40 ou aos 50, mas sempre aparece”, afirma a diretora, que lançou no primeiro semestre Linda de morrer, outro filme que explora temores femininos: Glória Pires vive uma cirurgiã plástica que cria uma fórmula mágica para acabar com a celulite.
Questionada se com S.O.S. 2 pretende se tornar um “Santucci de saias” (Roberto Santucci é o diretor das comédias de maior bilheteria dos últimos anos, 'Até que a sorte nos separe', 'Loucas pra casar' e 'O candidato honesto entre elas'), ela diz: “Não, mas não me incomodo com o título. Tenho outras coisas para fazer. Faço um filme infantil este ano ('A fada', com Kéfera Buchmann) e depois 'Intimidade indecente' (novamente com Giovanna Antonelli, a partir de texto dramático de Leilah Assumpção). Na verdade, quase não assisto a comédias. Gosto é de drama”.
DIARISTA ROUBA A CENA
Neste segundo 'S.O.S. mulheres ao mar', Giovanna Antonelli busca, mais uma vez, firmar-se como a Julia Roberts brasileira. “Amo, sou fã. 'Uma linda mulher' é sempre uma referência de personagem quando você precisa de uma princesa da vida real. O Brasil é um grande espectador de comédia romântica americana, mas pouco se produz aqui. Há muita comédia, mas poucas que têm como pano de fundo histórias de amor”, diz ela, também coprodutora do filme.
Grande fazedora de moda através de seus personagens, empresta seu nome a linha de esmaltes e franquia de depilação a laser. A despeito da vontade de ser Julia, sua Adriana, no entanto, tem nuances de Carrie Bradshaw (bem mais histérica e insegura) de 'Sex and the city'.
A colagem de referências deste segundo filme impressiona. Devoradora de homens jovens tal qual Samantha Jones do mesmo seriado, a Luiza de Fabíula Nascimento até mesmo canta num karaokê como as quatro amigas fizeram no segundo filme de Sex and the city. “São mulheres que tomam a rédea da própria vida”, diz ela, repetindo um velho clichê dos dias atuais.
Ainda que tente pegar para a veia da comédia romântica, são as cenas nada românticas da Dialinda de Thalita Carauta que garantem algumas risadas entre a coleção de piadas sem graça. Porque no recheio do filme há um galã tão perfeito que chega a irritar; um personagem que tem um mistério que todo espectador vai desvendar rapidamente e um deboche dos filmes americanos de ação. Até mesmo as piadas do primeiro filme (a sedução de Luiza em cima de Dialinda; o encontro de André e Adriana na varanda do navio) se repetem.
Diante disso, 'S.O.S. 2' vira o longa de Thalita. Os erros de português de sua Dialinda, agora somados a um inglês absurdo, além da própria caracterização, acabam fazendo com que ela roube o filme. “Não consumo comédia. Se eu for ao teatro, ao cinema, não vai ser comédia”, comenta a atriz, que se tornou conhecida por sua participação no humorístico 'Zorra total'.
“Considero-me uma atriz, não comediante. Ocorre que o humor é um mercado maior. Não tenho medo de estar neste lugar. É trabalho. E você tem que ir aos poucos. Só que, começando na Globo, é difícil mudar”, afirma ela.
A repórter viajou a convite do Universal Orlando Resort