A maratona 2015 da Mostra Cine BH terá 65 filmes brasileiros e estrangeiros. Como sempre, muitos são pré-estreias nacionais, ou seja, produções que ainda não chegaram aos cinemas e certamente vão tardar um pouco mais. Nesta noite de abertura, por exemplo, o público mineiro confere Mate-me por favor, longa-metragem da estreante no formato Anita Rocha da Silveira, exibido no Festival de Veneza. Serão duas sessões, às 20h30 e às 22h30, no Cine Humberto do Palácio das Artes.
Mas não é só pelo garimpo do que vai às telas que o evento chama a atenção de quem se envolve com o audiovisual brasileiro. Cine BH também é palco do que ainda está por vir no cinema nacional. Como as portas estão abertas para projetos em desenvolvimento, dá sinais de tendências e linguagens.
Pelo sexto ano consecutivo, o Brasil Cinemundi, encontro internacional de coprodução, traz a Belo Horizonte curadores de festivais, agentes de vendas internacionais e profissionais interessados em parcerias com os realizadores daqui. O que eles fazem durante quatro dias é avaliar, comentar, criticar e, principalmente, manter os olhos atentos nos embriões de filmes que merecem ser apoiados.
Dez projetos de longas-metragens em fase de desenvolvimento foram selecionados entre os 102 inscritos. Além destes, outros cinco de documentários vão participar da categoria Doc Brasil Meeting. Os criadores irão se encontrar com 21 convidados de 11 países – do Brasil e Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, França, Noruega, Estados Unidos, Suíça, Uruguai e Espanha.
Expansão
Pela safra de projetos, é possível constatar que o cinema do Paraná vive um momento de crescimento. São três representantes do estado. De Curitiba, Larissa Figueiredo defenderá o projeto de Agontimé e exibirá O touro. O primeiro longa da carreira confirma que a cidade passa por um momento de otimismo no cinema.
Larissa explica que a capital paranaense é uma das poucas no Brasil que não tem leis de incentivo à cultura. “Os cineastas paranaenses se reuniram no desejo de entender o que precisaríamos fazer para competir nacionalmente”, conta ela, que é do Maranhão, mas vive com a família no Sul.
Sobre o conteúdo, o painel da Brasil Cinemundi revela a costumeira variedade da produção audiovisual brasileira. São filmes sobre conflitos familiares, o impacto das tecnologias de comunicação na vida da sociedade, experimentações no gênero da ficção científica e tramas ficcionais inspiradas em documentação histórica. Tem até terror com protagonistas gays e vilões na terceira idade.
“Acho que é uma boa oportunidade de encontrar um grupo selecionado de pessoas que realmente tem interesse por projetos brasileiros. Quando vamos ao exterior, somos nós, em geral, que temos que buscar por eles”, compara Luana Melgaço, da Tempero Filmes. Em parceria com Leonardo Ayres, ela produz o documentário Saudade, de Marcos Pimentel.
Em 2012, Luana, integrante da Teia, defendeu o projeto O desejo de Maria, de Sérgio Borges. Naquele mesmo ano, no grupo dos 10 selecionados, estava o embrião do longa da abertura de 2015, Mate-me por favor, de Anita Rocha da Silveira.
O cineasta amazonense Sérgio Andrade também estreou no Brasil Cinemundi na leva de 2012. Apresentou o embrião de Antes o tempo não acabava, longa que está finalizando. “Foi muito proveitoso, porque te coloca de frente com tutores que são produtores muito atuantes no cenário internacional. Eles já analisam seu projeto com uma visão de quem participa de fundos, de laboratórios e assim vão enquadrando para que fique dentro do formato ideal”, conta Sérgio.
Amadurecimento
“Se for uma ideia frágil, em um momento como esse ela cai”, sintetiza o diretor Aly Muritiba, selecionado para apresentar o projeto de Ferrugem. Será a primeira vez que ele irá falar sobre a ideia do próximo filme. Vencedor do prêmio de melhor direção no mês passado por Para minha amada morta, no Festival de Brasília, o baiano radicado em Curitiba acredita ser primordial participar de laboratórios e encontros nos moldes do Brasil Cinemundi.
É o momento em que as ideias são colocadas em xeque. “Para minha amada morta participou de um monte de encontros assim ao redor do mundo. Foi fundamental para que o projeto e eu amadurecêssemos”, reconhece. Os comentários mais proveitosos, segundo o diretor, são aqueles em que o interlocutor diz “está ruim, mas siga adiante, porque tem algo bom aí”. “Não quero me deslocar para ficar recebendo elogios. Quero ser balançado”, diz Muritiba. É a etapa de pontuar, direcionar, e, se rolar uma coprodução, é lucro.
Participante do laboratório Cena 15, coordenado pelo cineasta Karin Ainouz em Fortaleza, o cearense Diego Hoefel vem a Belo Horizonte apresentar o projeto de Represa. “Conseguir fechar negócio é um pouco mais raro de acontecer. Tenho interesse, claro, mas acho que essas coisas são imprevisíveis”, afirma Diego. O interesse dele é ouvir se seu desejo de entender o diálogo entre o cinema de gênero e o cinema contemporâneo encontra-se em um bom caminho. “Quando você vai armado para fazer negócio, dificulta o que pode haver de troca”, acredita.
Plano geral
A abertura da 9ª Mostra Cine BH terá duas sessões de Mate-me por favor e homenagem à diretora argentina Lucrecia Martel. A temática desta edição é “Criação e resistência: o cinema contra a barbárie”. A curadoria, de Francis Vogner dos Reis e Pedro Butcher selecionou produções que tiveram circulação em festivais internacionais e permaneciam inéditas no Brasil.
Entre os longas que serão exibidos estão os quatro filmes que compõem o projeto Tela brilhadora, idealizado por Júlio Bressane: Garoto (Bressane), O prefeito (Bruno Safadi), O espelho (Rodrigo Lima) e Origem do mundo (Moa Batsow). Da seleção internacional se destacam Museum hours (Jem Cohen), João Bénard da Costa – Outros amarão as coisas que amei (Manuel Mozos), Deux, Rémi, Deux (Pierre León) e Shield of straw (Takashi Miike).
Como homenageada, Lucrecia Martel estará em Belo Horizonte durante a mostra, que programou a exibição dos três longas-metragens e cinco curtas assinados por ela. Amanhã, às 17h15, a cineasta irá participar de um debate sobre o processo de criação do novo filme, Zama, ainda sem data de lançamento.
Projetos
Saudade
. de Marcos Pimentel (MG)
O documentário se propõe a reunir algumas pistas sobre a afirmação de que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa porque, durante o período das navegações, os lusitanos eram grandes viajantes.
A terra negra dos Kawa
. de Sérgio Andrade (AM)
Ficção científica sobre família indígena da etnia Kawa. Moradora de um sítio nas cercanias de Manaus, a família fabrica poções e chás com grãos de uma terra negra que detém poderes extraordinários.
Agontimé
. de Larissa Figueiredo (PR)
A narrativa se passa em 2017 e retrata o retorno da rainha Agontimé a Benim, exatamente dois séculos após ter sido vendida como escrava para o Brasil. É um filme de ficção influenciado por elementos documentais.
Desterro
. de Maria Clara Escobar (SP)
A dor da perda e a impossibilidade burocrática de trazer de volta da Argentina o corpo da amada morta, para enterrá-lo por fim. É dividido em três partes, e cada uma explora diferentes situações e limites.
Represa
. de Diego Hoefel (CE)
João é um engenheiro de 40 anos criado em Bento Gonçalves, no extremo sul do Brasil. Quando sua mãe morre, descobre que ela teve de deixar para trás um filho quando fugiu de Jaguaribara, no Ceará.
A herança
. de João Cândido Zacharias (RJ)
Terror no formato found footage, no qual a filmagem em si é o fio condutor da narrativa, feita pelos próprios personagens. O filme agrega elementos inesperados ao gênero, como um casal de protagonistas gays.
Dolores
. de Chico Teixeira (SP)
Discute a terceira idade, sua individualidade e a família, tanto emocional quanto financeiramente. Dolores é uma aposentada de 67 anos que ajuda nos gastos da filha e da neta, acreditando que isso as aproximaria.
Ferrugem
. de Aly Muritiba (PR)
Retrata situações vividas por jovens que estão começando a viver sua sexualidade em tempos de Facebook, campo em que as fronteiras do privado e público estão completamente bagunçadas.
Lá fora está tudo calmo
. de Tomás von der Osten (PR)
Gabriel vive em um sítio com seus avós, Dalva e Joaquim. Às vésperas de seu aniversário, o garoto é confrontado pelo retorno inesperado de seu pai, Expedito, após uma ausência de oito anos.
Mato seco em chamas
. de Adirley Queirós e Joana Pimenta (DF)
O foco principal são as disputas pelo poder econômico, simbólico e territorial por mulheres de periferias brasileiras. É um filme de ação e aventura, uma fábula política, campo de atuação para o corpo feminino.
Mostra Cine BH
Até 22 de outubro, na Fundação Clóvis Salgado (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro) e no Cento e Quatro (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro). Entrada franca. Informações: (31) 3263-7400) ou www.cinebh.com.br.
Mas não é só pelo garimpo do que vai às telas que o evento chama a atenção de quem se envolve com o audiovisual brasileiro. Cine BH também é palco do que ainda está por vir no cinema nacional. Como as portas estão abertas para projetos em desenvolvimento, dá sinais de tendências e linguagens.
Pelo sexto ano consecutivo, o Brasil Cinemundi, encontro internacional de coprodução, traz a Belo Horizonte curadores de festivais, agentes de vendas internacionais e profissionais interessados em parcerias com os realizadores daqui. O que eles fazem durante quatro dias é avaliar, comentar, criticar e, principalmente, manter os olhos atentos nos embriões de filmes que merecem ser apoiados.
Dez projetos de longas-metragens em fase de desenvolvimento foram selecionados entre os 102 inscritos. Além destes, outros cinco de documentários vão participar da categoria Doc Brasil Meeting. Os criadores irão se encontrar com 21 convidados de 11 países – do Brasil e Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, França, Noruega, Estados Unidos, Suíça, Uruguai e Espanha.
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Larissa explica que a capital paranaense é uma das poucas no Brasil que não tem leis de incentivo à cultura. “Os cineastas paranaenses se reuniram no desejo de entender o que precisaríamos fazer para competir nacionalmente”, conta ela, que é do Maranhão, mas vive com a família no Sul.
Sobre o conteúdo, o painel da Brasil Cinemundi revela a costumeira variedade da produção audiovisual brasileira. São filmes sobre conflitos familiares, o impacto das tecnologias de comunicação na vida da sociedade, experimentações no gênero da ficção científica e tramas ficcionais inspiradas em documentação histórica. Tem até terror com protagonistas gays e vilões na terceira idade.
“Acho que é uma boa oportunidade de encontrar um grupo selecionado de pessoas que realmente tem interesse por projetos brasileiros. Quando vamos ao exterior, somos nós, em geral, que temos que buscar por eles”, compara Luana Melgaço, da Tempero Filmes. Em parceria com Leonardo Ayres, ela produz o documentário Saudade, de Marcos Pimentel.
Em 2012, Luana, integrante da Teia, defendeu o projeto O desejo de Maria, de Sérgio Borges. Naquele mesmo ano, no grupo dos 10 selecionados, estava o embrião do longa da abertura de 2015, Mate-me por favor, de Anita Rocha da Silveira.
O cineasta amazonense Sérgio Andrade também estreou no Brasil Cinemundi na leva de 2012. Apresentou o embrião de Antes o tempo não acabava, longa que está finalizando. “Foi muito proveitoso, porque te coloca de frente com tutores que são produtores muito atuantes no cenário internacional. Eles já analisam seu projeto com uma visão de quem participa de fundos, de laboratórios e assim vão enquadrando para que fique dentro do formato ideal”, conta Sérgio.
Amadurecimento
“Se for uma ideia frágil, em um momento como esse ela cai”, sintetiza o diretor Aly Muritiba, selecionado para apresentar o projeto de Ferrugem. Será a primeira vez que ele irá falar sobre a ideia do próximo filme. Vencedor do prêmio de melhor direção no mês passado por Para minha amada morta, no Festival de Brasília, o baiano radicado em Curitiba acredita ser primordial participar de laboratórios e encontros nos moldes do Brasil Cinemundi.
É o momento em que as ideias são colocadas em xeque. “Para minha amada morta participou de um monte de encontros assim ao redor do mundo. Foi fundamental para que o projeto e eu amadurecêssemos”, reconhece. Os comentários mais proveitosos, segundo o diretor, são aqueles em que o interlocutor diz “está ruim, mas siga adiante, porque tem algo bom aí”. “Não quero me deslocar para ficar recebendo elogios. Quero ser balançado”, diz Muritiba. É a etapa de pontuar, direcionar, e, se rolar uma coprodução, é lucro.
Participante do laboratório Cena 15, coordenado pelo cineasta Karin Ainouz em Fortaleza, o cearense Diego Hoefel vem a Belo Horizonte apresentar o projeto de Represa. “Conseguir fechar negócio é um pouco mais raro de acontecer. Tenho interesse, claro, mas acho que essas coisas são imprevisíveis”, afirma Diego. O interesse dele é ouvir se seu desejo de entender o diálogo entre o cinema de gênero e o cinema contemporâneo encontra-se em um bom caminho. “Quando você vai armado para fazer negócio, dificulta o que pode haver de troca”, acredita.
Plano geral
A abertura da 9ª Mostra Cine BH terá duas sessões de Mate-me por favor e homenagem à diretora argentina Lucrecia Martel. A temática desta edição é “Criação e resistência: o cinema contra a barbárie”. A curadoria, de Francis Vogner dos Reis e Pedro Butcher selecionou produções que tiveram circulação em festivais internacionais e permaneciam inéditas no Brasil.
Entre os longas que serão exibidos estão os quatro filmes que compõem o projeto Tela brilhadora, idealizado por Júlio Bressane: Garoto (Bressane), O prefeito (Bruno Safadi), O espelho (Rodrigo Lima) e Origem do mundo (Moa Batsow). Da seleção internacional se destacam Museum hours (Jem Cohen), João Bénard da Costa – Outros amarão as coisas que amei (Manuel Mozos), Deux, Rémi, Deux (Pierre León) e Shield of straw (Takashi Miike).
Como homenageada, Lucrecia Martel estará em Belo Horizonte durante a mostra, que programou a exibição dos três longas-metragens e cinco curtas assinados por ela. Amanhã, às 17h15, a cineasta irá participar de um debate sobre o processo de criação do novo filme, Zama, ainda sem data de lançamento.
Projetos
Saudade
. de Marcos Pimentel (MG)
O documentário se propõe a reunir algumas pistas sobre a afirmação de que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa porque, durante o período das navegações, os lusitanos eram grandes viajantes.
A terra negra dos Kawa
. de Sérgio Andrade (AM)
Ficção científica sobre família indígena da etnia Kawa. Moradora de um sítio nas cercanias de Manaus, a família fabrica poções e chás com grãos de uma terra negra que detém poderes extraordinários.
Agontimé
. de Larissa Figueiredo (PR)
A narrativa se passa em 2017 e retrata o retorno da rainha Agontimé a Benim, exatamente dois séculos após ter sido vendida como escrava para o Brasil. É um filme de ficção influenciado por elementos documentais.
Desterro
. de Maria Clara Escobar (SP)
A dor da perda e a impossibilidade burocrática de trazer de volta da Argentina o corpo da amada morta, para enterrá-lo por fim. É dividido em três partes, e cada uma explora diferentes situações e limites.
Represa
. de Diego Hoefel (CE)
João é um engenheiro de 40 anos criado em Bento Gonçalves, no extremo sul do Brasil. Quando sua mãe morre, descobre que ela teve de deixar para trás um filho quando fugiu de Jaguaribara, no Ceará.
A herança
. de João Cândido Zacharias (RJ)
Terror no formato found footage, no qual a filmagem em si é o fio condutor da narrativa, feita pelos próprios personagens. O filme agrega elementos inesperados ao gênero, como um casal de protagonistas gays.
Dolores
. de Chico Teixeira (SP)
Discute a terceira idade, sua individualidade e a família, tanto emocional quanto financeiramente. Dolores é uma aposentada de 67 anos que ajuda nos gastos da filha e da neta, acreditando que isso as aproximaria.
Ferrugem
. de Aly Muritiba (PR)
Retrata situações vividas por jovens que estão começando a viver sua sexualidade em tempos de Facebook, campo em que as fronteiras do privado e público estão completamente bagunçadas.
Lá fora está tudo calmo
. de Tomás von der Osten (PR)
Gabriel vive em um sítio com seus avós, Dalva e Joaquim. Às vésperas de seu aniversário, o garoto é confrontado pelo retorno inesperado de seu pai, Expedito, após uma ausência de oito anos.
Mato seco em chamas
. de Adirley Queirós e Joana Pimenta (DF)
O foco principal são as disputas pelo poder econômico, simbólico e territorial por mulheres de periferias brasileiras. É um filme de ação e aventura, uma fábula política, campo de atuação para o corpo feminino.
Mostra Cine BH
Até 22 de outubro, na Fundação Clóvis Salgado (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro) e no Cento e Quatro (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro). Entrada franca. Informações: (31) 3263-7400) ou www.cinebh.com.br.