Joana Nin escolhe um traço em particular nessa relação para retratar no filme. O misterioso elo que liga mulheres livres a homens que cumprem penas. Daí o título completo: Cativas - Presas pelo Coração. E o tom empregado nesse registro, o do afeto.
Numa das primeiras cenas, uma dessas mulheres vai a uma casa de vestidos de noiva. Quer comprar um bem bonito, pois vai se casar na prisão, com um homem condenado a longa pena. Há outros casos alguns bem impressionantes. Por exemplo, a da personagem que conta ter se apaixonado por um garoto delinquente de 14 anos. Na época, ela tinha 30, era casada e mãe de dois filhos. “Abandonei tudo por ele.” Hoje, o rapaz está preso e a mulher, já cinquentona, o espera. No extremo oposto, há a garota de 21 anos que vai se encontrar com o namorado em sua primeira visita íntima.
Em tempos de tanto pragmatismo, como entender esse romantismo radical? A diretora nem procura interpretar racionalmente a questão. Mesmo porque talvez não haja nenhuma resposta racional e, ao contrário do que se pensa, o bom senso não responde a tudo, ainda mais no nebuloso campo do comportamento amoroso. Esses envolvimentos se enquadram na categoria dos afetos, que possuem lógica própria.
Nesse ambiente, marcado pela separação e encontros raros, objetos fetiches ocupam posição privilegiada. Lembranças, fotos, pequenos objetos evocam a presença do amado distante. Mas são, sobretudo, as cartas que ocupam posição privilegiada nesse discurso amoroso fragmentado. É curioso. Em tempos de internet, de mensagens rápidas por e-mail, MSN e WhatsApp, o gênero epistolar romântico sobrevive nesses textos trocados entre detentos e suas mulheres. Ao lado dos textos apaixonados, trocando juras e projetos para o futuro, há traços coloridos e desenhos elaborados. São objetos a serem guardados. E, de fato, as cartas são entesouradas, como relíquias desses amores difíceis.