Quarto livro da franquia da britânica E. L. James ganha edição nacional

Volume narra a versão de Grey, o bilionário sadomasoquista que se apaixona por estudante, mas apresenta poucas novidades

por Mariana Peixoto 19/09/2015 08:30

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UNIVERSAL PICTURES/DIVULGAÇÃO
Christian Grey em cena do filme 'Cinquenta tons de cinza'. Personagem revela uma insegurança amorosa que beira à neurose (foto: UNIVERSAL PICTURES/DIVULGAÇÃO)

Na era em que qualquer produto bem-sucedido dos mercados cinematográfico, televisivo e editorial gera uma sequência, que se desdobra em outra e outra, não há surpresa alguma com o lançamento de Grey – Cinquenta tons de cinza pelos olhos de Christian (Intrínseca). Quarto livro da franquia da britânica E. L. James ganhou edição nacional nesta semana.

O que realmente surpreende é o fato de Erika Mitchell, a autora de 52 anos, não ter feito qualquer curso de literatura ou escrita criativa entre o lançamento do livro original, em 2011, e o atual. Porque só isso explica as mesmíssimas pobreza de vocabulário, falta de imaginação e narrativa soporífera que cerca o volume, de mais de 500 páginas. A história é absolutamente a mesma, só muda o ponto de vista, como o pouco imaginativo (e bastante vendável) título apresenta.

Bilionário solitário e misterioso, Christian Grey enlouquece de paixão – e é correspondido – pela estudante de literatura Anastasia Steele. Ela é virgem, ele é adepto de sexo sadomasô. Insiste para que ela assine um absurdo contrato de submissão – que inclui, além dos deveres no sexo, também uma regulação do cardápio da menina, as roupas que ela usa e até a frequência com que vai à academia. Inocente, porém esperta, a garota vai levando o cara como pode. Os dois se amam, fazem sexo (tanto com um sem-número de apetrechos sexuais, quanto no bom e velho papai e mamãe), e fazem tudo de novo dezenas de vezes.

Esse resumo serve tanto para Cinquenta tons quanto para Grey. A novidade, neste quarto volume, é que descobrimos que o todo-poderoso Grey é um cara inseguro. A insegurança beira à neurose, fazendo com que um e-mail não respondido o faça pegar um carro em disparada só para ver o que Anastasia está fazendo.

“Por que Ana ainda não retornou minhas ligações?”, “O que ela está fazendo?” é o que o CEO, um dos homens mais ricos do mundo, fica se perguntando página após página (!). Em meio a isso, ainda acompanhamos os pesadelos do próprio, filho de uma prostituta viciada em crack. Quando criança, ele só queria ser amado. “Ele grita com mamãe. Grita comigo. Ele bate na mamãe. Bate em mim.” (!!) Nisto, já se foram mais de 300 páginas.

A literatura erótica marca presença já na Roma antiga, com um dos clássicos do período, Satyricon, de Petrônio (que muita gente conheceu atrás da versão cinematográfica de 1969 dirigida por Federico Fellini). Ali, havia descrições de pedofilia, bacanais que fariam até mesmo Christian Grey corar.

Dois mil anos mais tarde, a explosão editoral de E. L. James – que gerou uma primeira adaptação cinematográfica, um dos sucessos da bilheteria de 2015 (veja números acima) – teve como principal mérito abrir um novo filão no mercado editorial.

A autora escancarou uma porta que estava fechada há muito tempo. Criou uma narrativa apimentada para um contexto de conto de fadas, que invariavelmente vai ter um final feliz. Na era dos e-books, a história viralizou rapidamente e fez com que muitas pessoas, que nunca tinham pensado na possibilidade, se aventurassem a escrever.

Mas não há originalidade alguma. Cinquenta tons, por sinal, nasceu como uma fan-fic de Crepúsculo, a comportadíssima história de amor entre um vampiro e uma estudante que virou a cabeça de milhões de adolescentes mundo afora. Hoje, o próprio Cinquenta tons tem suas fan-fics, algumas mais bem escritas do que o original. Se já sabemos como a história termina – e as cenas de sexo são parecidíssimas com as do livro original – qual o sentido disso?

APELO POPULAR

No Brasil

6 milhões
de exemplares vendidos

R$ 87,5
milhões de renda nos cinemas

Quinto
lugar entre os filmes mais vistos em 2015 (até 31/9)


No mundo

125 milhões
de exemplares vendidos

1,1 milhão
de exemplares vendidos quatro dias após o lançamento em inglês (18/6)

US$ 570 milhões
de renda nos cinemas

GREY

>> De E. L. James.
>> Editora Intrínseca,
>> 528 páginas,
>> R$ 39,90 (edição impressa) e R$ 24,90 (e-book).

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