ALEGRIA Viúva do aposentado Manoel Malaguti, Helena deixa a filha única Sonia Jobim Feitosa, de 67 anos, os netos Marco, de 45 anos, Marcela, de 43, a bisneta Maria Eduarda e muitos amigos. “Era muito alegre, emotiva e extremamente inteligente. Uma grande escritora”, afirma o jornalista-escritor Jorge Fernando dos Santos, frequentador assíduo da casa de Helena e Manoel. Antes de ser internada no Núcleo de Apoio à Maturidade (NAM), onde esteve nos últimos três anos, entre as unidades dos bairros São Bento e Cidade Jardim, Helena Jobim morou em uma ampla casa do Estoril, onde recebia amigos músicos e escritores para os famosos saraus.
“A casa era tão ampla, com uma visão de 180 graus da cidade, que o Manoel costumava dizer que havia comprado um belo horizonte”, recorda Jorge Fernando dos Santos, salientando que, além da biografia do irmão, Antonio Carlos Jobim - Um homem iluminado, Helena escreveu livros de ficção e de poesia e gravou o CD Areia do tempo, de 2006, no qual interpretava poesias de sua autoria ao som da consagrada música do irmão. Agora de volta ao cargo de secretário de estado da Cultura, Angelo Oswaldo lembra que, quando a irmã de Tom veio morar na capital mineira, a cidade a cercou de muito carinho desde sua chegada.
Entre os livros da escritora se destaca a Trilogia do assombro, detentor do Prêmio José Lins do Rego, que inspirou o filme Fonte da saudade, de Marco Altberg. Helena Jobim ainda teve poemas de sua autoria musicados pelo sobrinho Paulo Jobim e Paulo Malaguti, Danilo Caymmi, Dado Prates e Tabajara Belo. A mais conhecida, no entanto, é Não devo sonhar, com melodia do irmão Tom e gravada por Ângela Maria. “Ir à casa de Helena era um prazer muito grande, por se tratar de pessoa sensível e inteligente”, diz o violonista Rogério Leonel, que, em companhia da mulher, a cantora Lígia Jacques, frequentava os famosos saraus na residência da escritora.
NO ESCURO O escritor português Cunha de Leiradella, que morava em Belo Horizonte, foi responsável por apresentar Helena Jobim a outros autores. Entre os quais, Jorge Fernando dos Santos. Já Branca Maria de Paula, surpreendida na manhã de ontem com a notícia da morte, conheceu Helena quando ela ainda morava na famosa casa da Rua Nascimento, 107, em Ipanema, também por meio de Leiradella. “Sempre tive muito carinho e admiração pela obra dela”, recorda Branca, salientando o aspecto lírico e poético dos textos de Helena. “Lembro do dia em que ela me contou do prazer do escuro para escrever”, revela Branca Maria de Paula, ao contar que Helena Jobim fechava as janelas do quarto e acendia as luzes para se dedicar ao prazer da literatura.
Filha de Dora e Jorge de Oliveira Jobim, Helena Isaura Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1931. Estudou criatividade literária e literatura brasileira e portuguesa na PUC RJ. A estreia da autora na literatura ocorreu em 1968, com o romance 'A chave do poço do abismo', escrito a quadro mãos ao lado de Vânia Reis e Silva. Entre outros destaques de sua obra, estão 'Clareza 5' (1974), 'Trilogia do assombro' (1981), 'Verão de tigres' (1990), 'Pressinto os anjos que me perseguem' (2000) e 'Recados da lua' (2001).