Considerado discípulo de Eduardo Coutinho (1933-2014), o documentarista mais importante do país, Nader dedicou 20 anos a esse projeto, que ganhou o prêmio de melhor filme na edição do ano passado do festival É Tudo Verdade. Tudo começou quando o inquieto Nader decidiu compartilhar questões filosóficas com caminhoneiros. A ideia inicial era percorrer postos de gasolina para perguntar a eles qual o sentido da vida. Mas lá estava Nilson de Paula, sujeito simpático, sensível às experimentações e inquietações do diretor.
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As duas “realidades” se fundem. Quando o diretor mostra uma passagem na vida de Nilson, logo surgem os personagens em preto e branco da criação de Dryer, seja vivendo situação semelhante ou propondo uma discussão em comum.
“O filme fala sobre si próprio. É uma necessidade colocar ali reflexões sobre o ato de filmar, a relação do homem com a câmera e também sobre a questão ética. Corremos riscos dos dois lados: de ser ético de menos ou de mais. A ética tem que ser o piso, abaixo dele você não passa. Não pode ser teto, senão vira uma espécie de moralismo artístico”, argumenta Nader.
Ao misturar dois filmes, é como se ele perguntasse ao espectador: afinal, o quanto de ficção pode haver em um documentário e vice-versa? “A própria divisão entre ficção e realidade é falha. Está bem caduca em função dos fatos e da rapidez com que as coisas acontecem hoje”, critica Nader.
Como as cenas de 'Homem comum' foram gravadas ao longo des duas décadas, há muitos formatos e texturas misturados na tela. O roteiro é fruto do processo de montagem. Lidando com o real, a forma como Nader decidiu contar a história do Nilson faz do espectador testemunha de reviravoltas próprias da vida.
“O cinema tem poder hipnótico. Você esquece que aquilo é representação e também vive aquilo como realidade. Quanto mais intensa é essa vivência, mais real ela é, independentemente de ser ficcional ou não”, conclui o discípulo de Eduardo Coutinho.
HOMEM COMUM
Direção: Carlos Nader. 80min. Sessões às 19h30, no Belas 2
(Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). Ingressos: R$ 15 (segunda, terça e quinta-feira), R$ 13 (quarta-feira) e R$ 17 (de sexta-feira a domingo). Informações: (31) 3273-3229