Cinema

'O agente da U.N.C.L.E' chega aos cinemas retomando sucesso da TV dos anos 1960

Filme se passa em plena guerra fria e conta a história de um agente americano que se junta a um soviético para combater uma perigosa organização

Mariana Peixoto

Os atores Armie Hammer, Henry Caville (que interpreta o Superman desde 2013) e Alicia Vikander em cena do longa dirigido por Guy Ritchie
Rio de Janeiro – Quando Armie Hammer recebeu o roteiro do filme 'O agente da U.N.C.L.E.', levou um susto. Nas palavras do ator californiano (os gêmeos milionários Cameron e Tyler Winklevoss, de 'A rede social', para quem ainda não ligou o nome à pessoa) não fazia sentido algum aquele título. Afinal, o que era U.N.C.L.E.?


Hammer só tem 29 anos. Não tinha idade alguma para conhecer Napoleon Solo e Illya Kuryakin. O primeiro, agente da CIA; o segundo, espião da KGB. Entre 1964 e 1968, a dupla reinou na TV norte-americana. Algo absolutamente improvável naqueles anos de Guerra Fria.

 

 

 

U.N.C.L.E., sigla para United Network Command for Law and Enforcement (Comando da Rede Unida pela Lei e sua Aplicação, em tradução livre), seria uma agência secreta internacional que uniria norte-americanos e soviéticos contra um mal maior. Há quem diga que U.N.C.L.E. também se referia ao Uncle (Tio) Sam.

E é com este jogo de opostos que o diretor britânico Guy Ritchie brinca na versão cinematográfica dos dois personagens. 'O agente da U.N.C.L.E.', principal estreia desta semana, é um filme de agentes secretos que busca fugir do que o cinema vem apresentando (nos últimos meses, 'Missão: impossível' e 'Kingsman', e muito brevemente, mais um 007).

Hammer e seu parceiro de tela, o britânico Henry Cavill (o Superman desde 2013), ou melhor, Illya Kuryakin e Napoleon Solo, respectivamente, são antagônicos, a começar pelas nacionalidades dos personagens. O americano é sedutor, experiente, algo folgado e seguro de si. O soviético é traumatizado, nada aberto ao sexo oposto, temperamental. Tão opostos que a intenção é se complementarem, algo como o que Ritchie já fez com Sherlock Holmes e Dr. Watson por duas vezes no cinema.

“Você tem que entrar no clima deste filme. Ele é muito diferente do que há por aí. É um filme de espião, mas de época. Tem alguma ação, mas não se leva muito a sério”, afirmou Cavill, que esteve na semana passada no Brasil com Hammer para divulgar a produção.

PERSEGUIÇÃO
O filme nasce na Alemanha Oriental, mas boa parte de sua narrativa é ambientada na Itália (Roma e Nápoles). Os dois são apresentados depois de uma longa cena inicial de perseguição na parte leste de Berlim. Obrigados a trabalhar juntos, eles têm que combater uma organização de franca tendência nazista, que desenvolve armas nucleares.

Fazendo contraponto à dupla masculina, uma garota bem mais esperta do que eles. Gaby (a sueca Alicia Vikander), que vai despertar o interesse do irascível Kuryakin. Assim como ocorre com os personagens masculinos, ela busca quebrar os estereótipos da mocinha indefesa. É mecânica de carros, ainda que saiba portar como ninguém um vestido de alta-costura – a moda da época, por sinal, serve como escada para cenas de humor entre os dois espiões.

Hammer assistiu a toda a série para participar do filme. “Na primeira temporada, Illya tinha um papel menor, era como o Q de James Bond. Mas ao longo do processo, o personagem cresceu e se tornou maior”, disse o ator. Cavill preferiu se manter a distância da produção televisiva. “Eu não queria ser influenciado por ela, preferi construir o personagem a partir do trabalho com Armie e Guy. Eu me conheço. Se assisto a algum trabalho muito bom, acabo fazendo algum tipo de imitação.”

A relação entre o par de protagonistas se intensificou durante os preparativos da filmagem. Os ensaios foram realizados na casa de Guy Ritchie, “uma pessoa incrível para se ter à sua volta”, disse Hammer. De acordo com ele, o cineasta entende bem a dinâmica masculina, porque é o tipo de cara que “passa muito tempo em academia de luta e sabe ler como funciona a psiquê e o ego dos homens”.

A vinda de Hammer e Cavill ao Brasil ocorreu ainda por uma tentativa de esquentar a produção. 'O agente da U.N.C.L.E.', produção que ao longo de seu processo sofreu algumas perdas (Steven Soderbergh foi o primeiro cotado para dirigir, e Tom Cruise entrou em negociação para interpretar Napoleon Solo), foi uma decepção nas bilheterias norte-americanas. O filme custou US$ 75 milhões e fez em seu fim de semana de estreia não mais do que US$ 14 milhões. A cena final deixa claro que a intenção é criar uma nova franquia. Mas só mesmo o retorno no mercado internacional vai dizer se haverá ou não uma sequência.

Trilha nacional

Tom Zé admitiu ter ficado surpreso ao ser procurado pela produção do filme 'O agente da U.N.C.L.E.' Sua Jimmy renda-se (1970), foi incluída na trilha sonora (sempre um ponto alto quando se fala de um filme de Guy Ritchie). No longa, ela ilustra uma cena de perseguição. “Guta me look mi look love me/Tac sutaque destaque tac she/Tique butique que tique te gamou/Toque-se rock se rock rock me” são os primeiros versos. “O engraçado é que essa música chegou a ser esnobada, inclusive no exterior. E hoje está na trilha de um filme estrangeiro. Isso é demais”, afirma o baiano, que ainda não viu o filme.

 

*A repórter viajou a convite da Warner