Você pode estar em Belo Horizonte, em Santiago, no Chile, ou em Wellington, na Nova Zelândia. Mesmo assim, poderá ser um dos espectadores do 72º Festival de Veneza, que começa nesta quarta-feira, na cidade italiana. Doze longas-metragens da seção Horizontes, entre eles, os filmes brasileiros 'Boi Neon', de Gabriel Mascaro, e 'Mate-me por favor', de Anita Rocha da Silveira, serão exibidos não apenas na telona da mostra, mas também via streaming.
Este é o quarto ano consecutivo que a sala Web estará em atividade, numa parceria com o site Festival Scope. São disponibilizados 400 ingressos para a sessão on-line de cada filme. A ‘entrada’ avulsa custa 4 euros ou 10 euros o pacote que dá direito a assistir a cinco produções.
“As formas de exibição de filmes têm se alterado, e não há como resistir a isso. Obviamente, há filmes grandes com estratégias comerciais globais que podem achar que não é o caso (divulgar por streaming). Queremos que o filme seja visto. Queremos que o cinema seja apresentado ao mundo em todas as telas possíveis”, diz Vânia Catani, produtora de 'Mate-me por favor'.
“Acho ótimo, até para que as pessoas falem mais sobre o filme. Espero que essa moda pegue. Até como espectadora. Temos acesso a filmes incríveis que nem chegam a ser distribuídos no Brasil. É uma oportunidade para a gente poder acompanhar diretores do resto do mundo”, afirma a diretora Anita Rocha da Silveira, que, aos 30 anos, estreia no formato de longa-metragem.
“É uma iniciativa que me parece andar com a tecnologia. Inclusive, acho que é um caminho natural dos festivais para aumentar o público. Eles acabam ficando muito restritos. Não sabia disso, e agora quero comprar o meu ingresso”, comenta o cineasta mineiro Cris Azzi. O diretor de 'O dia do Galo' sempre foi um entusiasta das novas janelas.
Em 2013, Azzi filmou 'Cada dia uma vida inteira' pensando em lançar apenas na web. Como o longa despertou o interesse de um canal de televisão, acabou estreando primeiro na TV para depois estar disponível em outras janelas. Para Cris Azzi, a expansão das telas começa a influenciar a maneira de filmar.
Desde quando ele foi assistente de direção de Karim Aïnouz em 'Abismo prateado' (2011), pensa sobre como a variedade de telas tem afetado a gramática das obras. Conceber um plano geral pensando na telona do cinema é muito diferente de usar esse mesmo recurso para uma produção que será exibida também na telinha de um celular. “De alguma forma, temos ‘desaprendido’ o que é essa dimensão do plano geral. Talvez na hora da filmagem já não consiga ter essa relação tão clara da proporção do personagem”, constata o diretor.
Como foi planejado para a internet, Cada dia uma vida inteira teve planos propositalmente mais fechados. Já com 'Luna', o longa que Cris Azzi planeja filmar no ano que vem nos arredores de Belo Horizonte, o processo será diferente. “Já é garantido que esse filme vai passar pela sala de cinema. Então, no momento de filmar, prioritariamente vamos responder a essa gramática. Depois, o filme vai ter que se adequar”, explica.
FERRAMENTA Com 'O dia do Galo', o processo foi totalmente diferente. Antes de ser lançado no cinema como um longa-metragem, o documentário teve uma versão curta lançada na internet. “A gente não sabia se o fato de estar disponível atrapalharia a carreira do longa. Mas não. A internet foi a maior ferramenta de divulgação do filme”, conta.
O curta 'O dia do Galo' foi visualizado 447 mil vezes no YouTube. O longa ficou em cartaz durante quatro semanas em Belo Horizonte, tendo também passado por telas de Contagem, Sete Lagoas, Montes Claros, Uberlândia e Divinópolis. Permanece em cartaz no cinema de Oliveira, na Região Central de Minas. Em outubro, será exibido em Nova York. Ainda neste mês de setembro, o documentário deve estrear em plataformas de vídeo sob demanda.
A dificuldade da distribuição para tantas janelas tem sido entender qual o modelo que mais bem se adapta ao perfil dos filmes e, respectivamente, ao seu público. Atualmente, existe a divisão entre VoD (Video on-Demand), o streaming, pelo qual o espectador assiste sem pagar por isso, SVoD (Subscription Video on-Demand), modalidade de assinatura e o TvoD (Transaction Video on-Demand), baseada no modelo de transações de venda ou aluguel.
Cris Azzi faz um paralelo entre a redução da tela e as discussões que atualmente ganham espaço na mídia sobre serviços oferecidos por plataformas e aplicativos como Uber, WhatsApp, Netflix. “São processos irreversíveis, e a gente ainda não tem resposta sobre como a cinematografia vai dar conta de tantas janelas”, afirma.
O YouTube inaugurou em 2012 uma plataforma para venda e aluguel de filmes. Atualmente, estão inscritos no canal mais de 5 milhões de usuários. Funciona tal qual uma locadora tradicional, inclusive com as produções separadas por gênero. É possível contratar tanto blockbusters, como 'Mad Max' (2015), por R$ 6,90 como documentários como 'Belo Monte – O anúncio de uma guerra' (2012), produzido pela O2 Filmes, por R$ 3,90. No caso do aluguel, o filme fica disponível pelo período que o usuário contratar, a partir da primeira visualização. As compras não expiram.
SEM TV Faz cinco anos que o estudante Guilherme Diamantino, de 23 anos, sequer liga a televisão. Mas ver filmes é uma constância na rotina dele. O jovem garante que, desde 2012, conseguiu ver quase a totalidade do catálogo disponibilizado pela Netflix no Brasil. “É mais fácil esperar o filme sair na internet do que eu ir ao cinema”, afirma.
O tamanho da tela não importa para Guilherme. O celular tem sido ferramenta frequente para conferir até mesmo longas-metragens. “Uso qualquer tela. Como a internet melhorou bastante nos últimos anos, procuro sempre ver on-line, para não ficar baixando”, conta. Adepto de múltiplas telas, o estudante pontua a diferença nas experiências. “Acho que o cinema tem esse ritual por trás. Você dedica um tempo real, não é um passatempo. Sai de casa, compra o ingresso. São intuitos diferentes. Quando assisto em outras plataformas, é mais para passar o tempo. Até a minha concentração é outra.”
Cris Azzi concorda que o glamour da sala de cinema faz diferença. Mas ressalta: todas essas plataformas são legais para “seguir o fluxo, cortar caminho e chegar ao espectador”. Já não importa como. O importante é chegar às pessoas.
Este é o quarto ano consecutivo que a sala Web estará em atividade, numa parceria com o site Festival Scope. São disponibilizados 400 ingressos para a sessão on-line de cada filme. A ‘entrada’ avulsa custa 4 euros ou 10 euros o pacote que dá direito a assistir a cinco produções.
“As formas de exibição de filmes têm se alterado, e não há como resistir a isso. Obviamente, há filmes grandes com estratégias comerciais globais que podem achar que não é o caso (divulgar por streaming). Queremos que o filme seja visto. Queremos que o cinema seja apresentado ao mundo em todas as telas possíveis”, diz Vânia Catani, produtora de 'Mate-me por favor'.
“Acho ótimo, até para que as pessoas falem mais sobre o filme. Espero que essa moda pegue. Até como espectadora. Temos acesso a filmes incríveis que nem chegam a ser distribuídos no Brasil. É uma oportunidade para a gente poder acompanhar diretores do resto do mundo”, afirma a diretora Anita Rocha da Silveira, que, aos 30 anos, estreia no formato de longa-metragem.
“É uma iniciativa que me parece andar com a tecnologia. Inclusive, acho que é um caminho natural dos festivais para aumentar o público. Eles acabam ficando muito restritos. Não sabia disso, e agora quero comprar o meu ingresso”, comenta o cineasta mineiro Cris Azzi. O diretor de 'O dia do Galo' sempre foi um entusiasta das novas janelas.
Em 2013, Azzi filmou 'Cada dia uma vida inteira' pensando em lançar apenas na web. Como o longa despertou o interesse de um canal de televisão, acabou estreando primeiro na TV para depois estar disponível em outras janelas. Para Cris Azzi, a expansão das telas começa a influenciar a maneira de filmar.
Desde quando ele foi assistente de direção de Karim Aïnouz em 'Abismo prateado' (2011), pensa sobre como a variedade de telas tem afetado a gramática das obras. Conceber um plano geral pensando na telona do cinema é muito diferente de usar esse mesmo recurso para uma produção que será exibida também na telinha de um celular. “De alguma forma, temos ‘desaprendido’ o que é essa dimensão do plano geral. Talvez na hora da filmagem já não consiga ter essa relação tão clara da proporção do personagem”, constata o diretor.
Como foi planejado para a internet, Cada dia uma vida inteira teve planos propositalmente mais fechados. Já com 'Luna', o longa que Cris Azzi planeja filmar no ano que vem nos arredores de Belo Horizonte, o processo será diferente. “Já é garantido que esse filme vai passar pela sala de cinema. Então, no momento de filmar, prioritariamente vamos responder a essa gramática. Depois, o filme vai ter que se adequar”, explica.
FERRAMENTA Com 'O dia do Galo', o processo foi totalmente diferente. Antes de ser lançado no cinema como um longa-metragem, o documentário teve uma versão curta lançada na internet. “A gente não sabia se o fato de estar disponível atrapalharia a carreira do longa. Mas não. A internet foi a maior ferramenta de divulgação do filme”, conta.
O curta 'O dia do Galo' foi visualizado 447 mil vezes no YouTube. O longa ficou em cartaz durante quatro semanas em Belo Horizonte, tendo também passado por telas de Contagem, Sete Lagoas, Montes Claros, Uberlândia e Divinópolis. Permanece em cartaz no cinema de Oliveira, na Região Central de Minas. Em outubro, será exibido em Nova York. Ainda neste mês de setembro, o documentário deve estrear em plataformas de vídeo sob demanda.
A dificuldade da distribuição para tantas janelas tem sido entender qual o modelo que mais bem se adapta ao perfil dos filmes e, respectivamente, ao seu público. Atualmente, existe a divisão entre VoD (Video on-Demand), o streaming, pelo qual o espectador assiste sem pagar por isso, SVoD (Subscription Video on-Demand), modalidade de assinatura e o TvoD (Transaction Video on-Demand), baseada no modelo de transações de venda ou aluguel.
Cris Azzi faz um paralelo entre a redução da tela e as discussões que atualmente ganham espaço na mídia sobre serviços oferecidos por plataformas e aplicativos como Uber, WhatsApp, Netflix. “São processos irreversíveis, e a gente ainda não tem resposta sobre como a cinematografia vai dar conta de tantas janelas”, afirma.
O YouTube inaugurou em 2012 uma plataforma para venda e aluguel de filmes. Atualmente, estão inscritos no canal mais de 5 milhões de usuários. Funciona tal qual uma locadora tradicional, inclusive com as produções separadas por gênero. É possível contratar tanto blockbusters, como 'Mad Max' (2015), por R$ 6,90 como documentários como 'Belo Monte – O anúncio de uma guerra' (2012), produzido pela O2 Filmes, por R$ 3,90. No caso do aluguel, o filme fica disponível pelo período que o usuário contratar, a partir da primeira visualização. As compras não expiram.
SEM TV Faz cinco anos que o estudante Guilherme Diamantino, de 23 anos, sequer liga a televisão. Mas ver filmes é uma constância na rotina dele. O jovem garante que, desde 2012, conseguiu ver quase a totalidade do catálogo disponibilizado pela Netflix no Brasil. “É mais fácil esperar o filme sair na internet do que eu ir ao cinema”, afirma.
O tamanho da tela não importa para Guilherme. O celular tem sido ferramenta frequente para conferir até mesmo longas-metragens. “Uso qualquer tela. Como a internet melhorou bastante nos últimos anos, procuro sempre ver on-line, para não ficar baixando”, conta. Adepto de múltiplas telas, o estudante pontua a diferença nas experiências. “Acho que o cinema tem esse ritual por trás. Você dedica um tempo real, não é um passatempo. Sai de casa, compra o ingresso. São intuitos diferentes. Quando assisto em outras plataformas, é mais para passar o tempo. Até a minha concentração é outra.”
Cris Azzi concorda que o glamour da sala de cinema faz diferença. Mas ressalta: todas essas plataformas são legais para “seguir o fluxo, cortar caminho e chegar ao espectador”. Já não importa como. O importante é chegar às pessoas.