Em nota divulgada na manhã desta segunda-feira, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Recife, informou que, “diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado, não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano.”
A frustração diante do debate e também do comportamento dos cineastas, dois dos mais conhecidos realizadores de Pernambucano, gerou uma série de posts indignados na internet. “Até quando as pessoas vão colocar na conta do álcool o machismo e a misoginia de Claudio Assis e Lírio Ferreira?", escreveu o ator Fábio Leal em sua conta no Facebook.
Ferreira fez um pedido de desculpas. "O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado. Quando cheguei, a sessão já tinha começado e fiquei pro debate. Na mesa, eu fiquei esperando uma oportunidade para elogiar o trabalho de Anna, mas o mediador tentou dar a palavra à plateia. E eu me intrometendo pra tentar retomar o raciocínio. Depois me dei conta que estava atrapalhando, peguei um táxi e fui embora. Agora, estou sendo crucificado no Facebook. Só posso pedir desculpas à Anna, como de fato o fiz, logo depois dessa repercussão toda", afirmou ao 'Diário de Pernambuco'.
Diretor de arte também presente ao debate, Thales Junqueira postou que o debate deveria ser disponibilizado na íntegra na internet. “As pessoas precisam assisti-lo. Não só porque conseguimos levantar reflexões importantes - e novas - sobre o filme, mas também pelo show de machismo escandaloso de Lírio Ferreira e Claudio Assis que tentaram impedir uma mulher diretora de falar sobre seu próprio cinema.”
Anna Muylaert pronunciou-se sobre o ocorrido num post publicado na página de Junqueira. “A gente tentou controlar com respeito. A questão é: por que alguns homens não SABEM ficar à sombra? Têm que estar sempre NO CENTRO? Era isso também o que eu falava ontem sobre o homem aprender a atuar no seu lado feminino. Por que alguém tem que brilhar sempre? Por que sempre YANG? Essa desvalorização do lado YIN, do lado silencioso do ser? Isso leva à decadência! Ninguém pode brilhar 100% do tempo. Pode parecer estranho, mas essa infantilidade, a meu ver, é talvez uma das grandes fontes originais da mente machista.”
A jornalista Carol Almeida publicou um relato extenso, falando sobre a perversidade da situação. “O que tinha acabado de ser projetado naquela sala de cinema era um filme sobre protagonismo feminino, sobre dar à mulher o lugar de fala que historicamente lhe foi negado. E aí o filme acaba, se acendem as luzes da vida tal como ela é e neste momento surgem dois homens para interromper a fala de uma mulher diretora.”
Até mesmo a página dedicada a Cláudio Assis no Facebook se manifestou contra as ações do diretor. “Machismo, misoginia e o que mais atentar contra a voz de quem quer que seja é algo deplorável, definitivamente inaceitável. Esta página condena a postura de Cláudio Assis e de Lírio Ferreira.”