Cinema

Glória Pires contracena com a filha que estreia no cinema em 'Linda de morrer'

Atriz diz que trabalhar com os jovens ajuda a manter o frescor da vida

Helvécio Carlos

Antônia Morais, Glória Pires e Priscila Marinho em cena do filme 'Linda de Morrer', cuja estreia está prevista para dia 20
Rio – Glória Pires faz o tipo mãezona. “Embora trabalhe muito, ela está sempre presente e disponível. Temos uma forte relação de amizade, sempre conversamos sobre tudo”, elogia Antônia Morais, a segunda filha da estrela com o músico Orlando Morais. Como nem sempre a arte imita a vida, em sua estreia no cinema, na comédia Linda de morrer, Antônia interpreta Alice, adolescente que tenta a todo custo manter uma relação legal com a mãe, Paula, papel de Glória, dermatologista sem tempo para a família e preocupada apenas com o sucesso de um remédio anticelulite.


“O convite para o longa veio em boa hora. Como estava há um ano trabalhando em minhas músicas (Antônia lançou o EP Milagros, com sete faixas), foi uma oportunidade para exercitar meu lado atriz e conviver com esse grupo de atores. Foi um processo curto, intenso, leve e agradável”, conta a jovem. Cris D’Amato dirige o longa, que estreia no dia 20.

Os elogios são retribuídos pela mãe-coruja. “Não me considero uma pessoa engessada. Sempre faço questão de preservar o frescor diante da vida. A visão de um jovem que trabalha com arte sempre tem algo interessante, um prisma diferente”, observa Glória Pires, lembrando que a entrega e o envolvimento de Antônia vêm desde a infância. “Ela criava espetáculos, inventava personagens. Certa vez, como não lhe demos uma Polaroid, Antônia fez uma câmera de papelão”, recorda.

Veja o trailer do filme:



BOLETIM Em casa, ela e o marido, Orlando Morais, buscam manter uma relação aberta com os filhos. “Nunca privamos ninguém de sair no fim de semana se o boletim não for bom. Esse conceito é novo para nós, até porque nunca fui a primeira na escola, nem o Orlando”, diz Glória, convicta de que nota ruim não determina o que o jovem será na vida. “É, sim, um sinal de que a escola precisa de uma renovada”, pondera. “Nossas famílias não eram tão rígidas a ponto de nota vermelha impedir de fazer uma coisa ou outra. Não fomos criados assim. Consequentemente, nossos filhos não foram criados assim”. Glória faz uma pausa, pensa e admite: “Estamos usando um pouco disso com o Bento. Menino é mais difícil”. E dá uma boa risada.

Glória Pires em 'Memorial Maria Moura', trabalho admirado por sua filha, Antônia Morais
A atriz conta que a educação dos filhos também se deve “à excelente equipe” que trabalha com a família há muitos anos. Pessoas de extrema confiança representam metade do caminho andado, afirma.

VAIDADE Diferentemente de Paula, sua personagem em Linda de morrer, Glória Pires, que completa 52 anos no próximo domingo, garante não ser narcisista. “Não faço tudo em nome da vaidade. Mas, em determinado momento da vida, percebi que estava aquém dela. Aí comecei a correr” relembra, bem-humorada. “É brincadeira, mas é sério. A gente trabalha muito e a vida fica para trás. Você se cuidar é coisa para todos os dias: tem que se exercitar, ter alimentação equilibrada, fazer exames. Como em um relacionamento, a saúde demanda investimento de tempo. Graças a Deus, nunca fui vítima da vaidade. A minha medida é a do bom senso”, garante.

Com uma galeria respeitável de personagens na TV e no cinema, a atriz praticamente não fez teatro. Só pisou no palco uma vez, no fim dos anos 1970, com o musical Era uma vez uma gata. Glória diz que a opção não partiu dela. “Foi o veículo que me escolheu”, resume. “Como acho que vou morrer bem velha, quem sabe ainda assine uma direção...”.

Por coincidência, Linda de morrer chega às telas na reta final de Babilônia. Na trama de Gilberto Braga, Gloria vive a inescrupulosa Beatriz. A atriz não acredita que novelas enfrentem crise – Babilônia não emplacou, terá seu final antecipado e o último capítulo vai ao ar no dia 28. “Antigamente, você deveria estar em casa naquele horário para ver TV. Hoje, é possível assistir à televisão no celular, na internet. Não sou a pessoa mais ligada em pesquisa. Importo-me com o fazer, é a parte de que mais gosto. O que vem depois não depende de mim”, afirma.

Sob os holofotes desde 1972, quando estreou no caso especial Sombra de suspeita, aos 9 anos, a atriz fez papéis memoráveis na TV: Marisa (Dancin’ days, 1978), Zuca (Cabocla, 1979), Ana Terra (O tempo e o vento, 1985), Maria de Fátima (Vale tudo, 1988), Nice (Anjo mau, 1998), Juliana (Primo Basílio, 2007) e Helena (Se eu fosse você 1 e 2, 2006 e 2009). Mas Glória não aponta o papel favorito. “O que conta é o caminho. Por isso, todos os trabalhos que me trouxeram até aqui são importantes para a formação da carreira e o meu amadurecimento. Cada trabalho teve momentos difíceis. Algumas vezes, precisei achar uma forma solitária de solucionar algo na composição da personagem”, observa.

Antônia, que ouve atentamente as respostas de Glória, aponta o momento preferido: “A cena final de Memorial de Maria Moura”. “É uma cena emblemática”, concorda a mãe-coruja.

* O repórter viajou a convite da distribuidora Fox