Aos fatos: em 1998, Maria Altmann inicia uma ação contra o governo austríaco, reivindicando seus direitos sobre cinco quadros de Gustav Klimt (1862-1918) que haviam pertencido à sua família e foram sequestrados pelos nazistas.
Vem a ajudá-la um jovem advogado, neto de Arnold Schönberg, o compositor. O terceiro elemento é um jornalista austríaco muito mais disposto a colaborar com a senhora judia do que com o governo.
Estamos, aqui, diante da história e da memória. A memória pessoal de uma jovem judia que perde os pais nos campos de concentração e nem mesmo quer botar os pés na Áustria. É compreensível.
HITLER
A história é um elemento fundamental disso tudo: trata-se de trazer ao presente os horrores da Europa sob o nazismo e, sobretudo, a tão ignóbil quanto entusiástica acolhida dada a Hitler pelos austríacos.
Tudo isso compõe um quadro muito forte. Daí por diante começam as dúvidas. Seria Helen Mirren, tão britânica, a atriz certa para o papel? Ela é excelente, e desfrutamos de sua interpretação de todo modo. Mas austríaca é que ela não é. Isso passa: o espectador aceitará sua figura forte e também sensível.
Menos compreensível é a decisão de transformar a épica batalha de uma mulher num drama sentimental, abusando dos flashbacks.
Como ficou, temos um filme incerto entre dois eixos: a busca pessoal de Maria Altmann e o Holocausto. Trabalhar sobre esses traços, nos quais o passado irrompe no presente, abriria a possibilidade de chegar a um filme invulgar.
Essa hipótese está lançada no filme, só não está desenvolvida. Com essa forma, A dama dourada pode até ganhar maior apelo comercial, mas perde em estatura. É um longa, porém, sobre seres humanos, artigo um tanto em falta, e que se deixa ver com simpatia. Não é pouco para um filme inglês.