Não é qualquer coisa o tema de Que mal eu fiz a Deus?: é a França no momento em que sai de seu modo nacionalista para encarar um mundo multicultural. O que se fala do país pode-se dizer, com variações, de toda a Europa (o que explica o sucesso do filme no continente). Melhor, em todo caso, ficarmos com a França.
Ali estão os Verneuil: família 100% francesa e orgulhosa disso. Eis, porém, que suas filhas resolvem dar só desgosto aos pais pelo casamento: a primeira se casa com um judeu; a segunda com um árabe; a terceira com um chinês.
Na comunidade da província, na “França profunda”, tudo é vergonha para o casal Verneuil. O preconceito está por todo lado. O antissemitismo é uma tradição nacional secular; olhar torto para os árabes, uma obrigação de ex-potência colonial. Quanto aos chineses, são invasores de nossa boa Europa.
Acrescente-se a isso que os três genros também têm lá suas diferenças entre si, e temos o caldo perfeito do racismo e da dificuldade de integração na Europa. Já vimos a questão em filmes dramáticos como Entre os muros da escola (2008). Agora o registro é o da comédia, portanto do filme de grande alcance.
Entramos no território do cinema comercial francês. Não basta aos Verneuil, de início, serem racistas: é preciso ainda que sejam caricaturas de racistas. Assim são as coisas nas comédias contemporâneas (as conhecemos bem do Brasil). O roteiro, na primeira metade, rasteja.
Ele cresce em interesse na segunda parte, quando um novo personagem aparece e um novo casamento se anuncia, que tornará as coisas ainda mais problemáticas e levará a intriga a um final que não deixa de lembrar as comédias americanas.
Dito isso, se o roteiro cresce, se algumas situações mais fortes se esboçam (uma cena de pesca, uma outra numa delegacia), se os diálogos se aprumam, a filmagem permanece tão vulgar, tão rastaquera quanto no início.
E, no entanto, será difícil dizer que este é um filme a descartar a priori: o assunto em que toca é decisivo demais (no Brasil, estamos longe de desconhecê-lo) para que passe, simplesmente, ao largo. (Folhapress)
Ali estão os Verneuil: família 100% francesa e orgulhosa disso. Eis, porém, que suas filhas resolvem dar só desgosto aos pais pelo casamento: a primeira se casa com um judeu; a segunda com um árabe; a terceira com um chinês.
Na comunidade da província, na “França profunda”, tudo é vergonha para o casal Verneuil. O preconceito está por todo lado. O antissemitismo é uma tradição nacional secular; olhar torto para os árabes, uma obrigação de ex-potência colonial. Quanto aos chineses, são invasores de nossa boa Europa.
Acrescente-se a isso que os três genros também têm lá suas diferenças entre si, e temos o caldo perfeito do racismo e da dificuldade de integração na Europa. Já vimos a questão em filmes dramáticos como Entre os muros da escola (2008). Agora o registro é o da comédia, portanto do filme de grande alcance.
Entramos no território do cinema comercial francês. Não basta aos Verneuil, de início, serem racistas: é preciso ainda que sejam caricaturas de racistas. Assim são as coisas nas comédias contemporâneas (as conhecemos bem do Brasil). O roteiro, na primeira metade, rasteja.
Ele cresce em interesse na segunda parte, quando um novo personagem aparece e um novo casamento se anuncia, que tornará as coisas ainda mais problemáticas e levará a intriga a um final que não deixa de lembrar as comédias americanas.
Dito isso, se o roteiro cresce, se algumas situações mais fortes se esboçam (uma cena de pesca, uma outra numa delegacia), se os diálogos se aprumam, a filmagem permanece tão vulgar, tão rastaquera quanto no início.
E, no entanto, será difícil dizer que este é um filme a descartar a priori: o assunto em que toca é decisivo demais (no Brasil, estamos longe de desconhecê-lo) para que passe, simplesmente, ao largo. (Folhapress)