As rivalidades entre Rio de Janeiro e São Paulo obviamente encontram ecos no mercado. Os cariocas afirmam que conseguem aliviar mais o sotaque, o que os paulistanos contestam. Ambos, porém, defendem os dois polos como os únicos centros de produção na área. Não são. Há atividade em Campinas, Curitiba e Minas Gerais.
Em Belo Horizonte, estúdios como BW e Haja têm atendido a uma demanda constante. “Temos feito trabalhos para o HBO. A maioria do pessoal do teatro de Belo Horizonte está trabalhando com dublagem”, conta o ator Luciano Luppi. Entre seus últimos trabalhos estão o seriado Mad men e o longa Anna Karenina. “Normalmente, a gente não faz para cinema, mas para TV. Chegamos ao estúdio sem saber quem é o cliente”, completa.
A fama mineira não é muito boa no Rio e em São Paulo. A acusação é de que aqui a formação ainda não alcançou a excelência e a tabela de preços não é respeitada. Nesse ponto, os estúdios cariocas e paulistas são criteriosos e cumprem a remuneração de acordo com a tabela dos sindicatos da categoria. Há rigor no cumprimento desses direitos, já que ainda se trata de um mercado formado, essencialmente, por profissionais autônomos. O valor mínimo pago para cada dublador é de R$ 100 a hora ou então 20 anéis (ou Loop, no Rio de Janeiro), unidade de medida que representa 20 segundos. Ou seja, entrou no estúdio e falou uma frase recebeu esse valor mínimo.
Luciano Luppi confessa não se ater à questão do pagamento. Por aqui, diz receber cerca de R$ 80 por hora. “O mercado é muito grande e cada vez aparecem mais estúdios. Acaba que essa distribuição vai para o preço mais competitivo”, acrescenta.
Tabela O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais (Sated-MG) não revela o valor da tabela estabelecida no estado, mas diz que está entre o que é praticado no Rio e em São Paulo. “Não podemos ficar defasados, mas não sei se o que a gente propõe está sendo seguido”, afirma a atriz Magdalena Rodrigues, presidente da instituição há 23 anos.
Ela relata já ter feito reuniões com profissionais locais para discutir o assunto e tentar garantir melhores condições de trabalho, mas sem sucesso. “Ainda não encontramos uma forma de adequar valores de acordo com as tabelas praticadas em outros estados e com instalações decentes e conforto para trabalhar. É preciso desenvolver esse mercado aqui, mas de forma profissional. Queremos proteger os artistas, não impedir que trabalhem”, continua.
A homologação de contratos de trabalho de dubladores no sindicato, obrigatória por lei, não tem sido feita, segundo Magdalena. “A maioria desses trabalhos é feita à revelia da legislação. O contrato garante que o profissional receba não só o cachê pela prestação do serviço, mas também valores referentes aos direitos conexos, gerados pela comercialização da obra. É um mercado negro e há quem faça tudo para furar as tabelas consolidadas no Rio e em São Paulo. Todo mundo adora a crise como desculpa para não pagar corretamente”, acrescenta.
“Seguimos a tabela”, garante Antônio Mota, um dos proprietários da Haja Comunicação, uma das poucas empresas do ramo em BH. Sem trabalhar com filmes ou programas de TV, o foco é em programas evangélicos, que têm se revelado um filão. “Não estamos em busca do mercado amplo. O segmento evangélico já tem muita coisa e a demanda é muito boa. A pastora Joyce Meyer é um de nossos clientes e, como é âncora, tem nos ajudado a entrar nesse mercado”, afirma ele.
A empresa tem pouco mais de dois anos de atuação e cerca de 200 atores em seu casting. As dublagens são feitas em quatro idiomas, sempre com falantes nativos. “Há empresas mais antigas que a nossa já trabalhando com cinema, então, fica mais difícil entrar. Além disso, clientes do Rio e de São Paulo não procuram profissionais daqui por protecionismo ou por achar que aqui não se faz um trabalho bom. BH tem gente para trabalhos de qualidade”, defende. (Com Carolina Braga)