A importância da Lei 13.006, explica Adriana Fresquet, é dar ao cidadão, desde o ensino básico, contato com o cinema feito em seu próprio país. “Isso significa conhecimento da arte, cultura e história brasileiras, até em termos geográficos. As crianças não imaginam o quanto o Acre e o Rio Grande do Sul são distintos. O Brasil é um país enorme, muito diversificado”, afirma a professora. Para ela, essa lei é “exemplar e afetivamente democrática” por reforçar o direito de acesso à cultura. Se for cumprida, garantirá que produções cinematográficas não fiquem restritas aos grandes centros urbanos, como ocorre hoje.
Um exemplo delicioso de como trabalhar o cinema na escola veio da própria CineOP. Atividades dedicadas a filmes feitos por professores e alunos adotaram como critério obras de até três minutos que dialoguem com a obra de cineastas. Os escolhidos foram os irmãos Lumières (inventores da sétima arte), Affonso Segretto, Ana Luiza Azevedo, Kleber Mendonça Filho, Joel Pizzini, Eduardo Coutinho, Nelson Pereira dos Santos e Humberto Mauro. “Todos têm trabalhos que merecem ser mais conhecidos”, observa Adriana Fresquet.
LINGUAGEM “O filme tem uma parte que você percebe vendo e outra mais sutil, a linguagem, que envolve o ritmo das imagens, os ângulos em que a câmara filma, a iluminação e a montagem. Tudo isso gera um sentido diferente do que você observa no mundo. É muito bom e importante que todos aprendam a perceber melhor esses aspectos e a decodificá-los”, recomenda Bete Bullara, integrante da Cinema e Educação (Cineduc). A organização, que está completando 45 anos, é a representante brasileira no Centre International du Film pour l’ Enfance et la Jeunesse, integrante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Bete Bullara chama a atenção para a variedade de linguagens. “É uma necessidade aprender todas elas. Se tudo pudesse ser dito só de uma forma, o ser humano não criaria tantos meios. Não há por que trocar o antigo pelo novo. A diversidade é o interessante”, argumenta. Mas adverte: “Cinema não é panaceia para fazer o aluno se interessar pela aula e nem deve ser usado para esse fim. Ele traz uma visão subjetiva, o que não atende à objetividade que o currículo pede”.
“Filme é comentário sobre a vida”, reforça a especialista. “Construir repertório vendo filmes de todos os estilos e épocas ajuda a discutir o mundo e a manter a cabeça aberta para entender melhor o outro”, defende. Além disso, o cinema ajuda a enfrentar o desafio de criar uma educação que integre formação profissional qualificada e formação humana. “Precisamos de pessoas que sejam sujeitos da história, conscientes da vida, da sociedade e do mundo em que querem viver”, conclui.
A programação de hoje do projeto Cine-escola, em cartaz em Ouro Preto, traz obras que marcam o diálogo do cinema com outras linguagens. O menino no espelho, dirigido por Guilherme Fiúza, inspirou-se no romance homônimo de Fernando Sabino. Por sua vez, o longa O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, remete à história da Minas colonial. O concerto Sons e imagens, que encerrará a mostra, terá trilha sonora executada ao vivo pelo Double Cadence enquanto as cenas se desenrolam na tela.
>> 10ª CINEOP
SEGUNDA
. Cine Vila Rica
>> 8h30 – O menino no espelho, de Guilherme Fiúza. Houve uma vez dois verões, de Jorge Furtado
>> 14h – O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton
>> 17h – Ôrí, de Raquel Gerber
>> 18h45 – Exibição de médias-metragens
>> 21h – Homenagem ao diretor Luiz Carlos Lacerda, com exibição de curtas produzidos por alunos da Oficina Coletivo. Concerto Sons e imagens, dedicado ao diretor português Manoel de Oliveira, à CineOP e aos 450 anos do Rio de Janeiro. Com Double Cadence: Marco Pereira (piano), Maxime Roman (guitarra) e Céline Benezeth (violino)
. Cine Teatro do Centro de Convenções
>> 14h – Amazônia, de Thierry Ragobert
. Praça Tiradentes
>> 19h30 – Nos passos de Aleijadinho, de Fred Tonucci e Leonardo Good God; Meu canto é saudade – A poesia de seu Juca da Angélica, de Diógenes Miranda; Fragmentos, de Adriana Vasconcelos; e A praça, de Lucas Santos Lima
“O diálogo da ciência com a arte aumenta a nossa capacidade de imaginação” - Adriana Fresquet, educadora
Construir repertório vendo filmes de todos os estilos e épocas ajuda a discutir o mundo e a manter a cabeça aberta - Bete Bullara, educadora