No ano em que comemora seus 10 anos, o evento exibe, nesta sexta, pela primeira vez, o resultado do trabalho de recuperação de 'Limite' feito pela Cinemateca de Bologna, por meio do laboratório L’Immagine Ritrovata. A sessão ocorre dentro da mostra Preservação. “É um filme fundamental. Vi várias versões e restaurações. Hoje, ele já é resultado de tantas interferências que a gente sempre quer ver como ficou o último”, afirma Fernanda Coelho, restauradora e homenageada desta edição do CineOP.
'Limite' foi um filme à frente de seu tempo. Hoje, quem tem a oportunidade de vê-lo tem o olhar mais voltado à sua preservação do que propriamente aos avanços estéticos propostos por Mário Peixoto na década de 1930. O cineasta Walter Salles, fundador do Arquivo Mário Peixoto, foi um dos entusiastas da preservação do filme. Em 2007, ele exibiu no Festival de Cannes uma das versões restauradas.
Além da sessão na CineOP, mostra dedicada à temática da preservação audiovisual, estão previstos debates. Davide Pozzi foi o responsável pela nova cópia de 'Limite' produzida na Cinemateca de Bolonha. Além de trazer o resultado do trabalho na própria bagagem, discutirá com o professor Alexandre Vasques – autor de uma dissertação de mestrado sobre as diversas tentativas de restauração de 'Limite' – as experiências de preservação na Europa.
DIGITAL Para o curador da temática de preservação da CineOP, Hernani Heffner, a edição 2015 buscará refletir sobre a chegada em definitivo do digital. “Preservação hoje se tornou uma questão mais decisiva, porque todo mundo requisita conteúdos para colocação nesse universo do digital. Isso implica trabalho enorme, que não está feito e nem está dado”, afirma Heffner.
Os custos da restauração, assim como questões relacionadas à qualificação de mão de obra, estrutura de arquivos e conexão destes em rede, são pontos urgentes. “O fato é que é preciso converter um passado para a era digital. Não tem outra opção.” A indagação é como e quem vai pagar por isso.
Com a experiência de 36 anos de trabalho na Cinemateca Brasileira, Fernanda Coelho concorda que se trata de um tema primordial. “O desafio da modernidade é conseguir lidar com essas tecnologias e procedimentos que exigem pensamento de longo prazo em um mundo que é muito imediatista.” No caso do audiovisual há um acervo enorme nos formatos VHS, Super 8, Betacam cuja difusão tem-se tornado muito restrita. “A mudança vai continuar ocorrendo, e o arquivo vai ter que correr atrás”, ressalta a pesquisadora.
Na avaliação de Fernanda Coelho e Hernani Heffner, o Brasil tem acordado para a importância de se discutir a preservação audiovisual. No âmbito técnico, Fernanda sinaliza que, apesar das enormes diferenças regionais, a Cinemateca Brasileira está bem equipada, e o Arquivo Nacional tem estrutura satisfatória.
Na seara política, Hernani Heffner ressalta a criação e a atuação da Fundação da Associação Brasileira de Produção Audiovisual (ABPA). Mais organizados institucionalmente, os profissionais da área alcançaram avanços no cumprimento de uma agenda comum de prioridades com o poder público.
O curador também pontua avanços em relação a editais públicos voltados para a preservação. Foi com o apoio de um desses que Rafael Luna Freire restaurou, por exemplo, o longa Antes, o verão (1968) e um conjunto de seis curtas do cineasta Gerson Tavares.
“Nos últimos três anos, o digital definitivamente substituiu a película no Brasil. O laboratório em que nós começamos a trabalhar fechou no meio do projeto e isso gerou atraso”, conta Rafael. Outra surpresa foi a descoberta de duas versões de Antes, o verão. Uma completa e a outra com outra montagem, já que a censura determinou o corte de uma cena. A ideia é de 2005. O projeto foi concluído em 2012.
Rafael Luna Freire utilizou um processo que misturou restauração fotoquímica com pequenas intervenções digitais. Para ele, sobre a modernização das técnicas, é preciso pensar como preservar os filmes que estão sendo feitos hoje. “Ainda não estamos preparados. Não tem como adiar.”
Milton Gonçalves é homenageado
Entre esta quinta e domingo, a Mostra de Cinema de Ouro Preto exibirá 83 curtas, seis médias e 15 longas-metragens, todos com entrada franca. Na comemoração de sua primeira década, escolhe como tema “O negro em movimento” e presta homenagem ao ator Milton Gonçalves. Na noite de abertura, será exibido 'A rainha diaba' (1974), de Antônio Carlos da Fontoura.
A programação é dividida em quatro mostras – Contemporânea, Preservação, Histórica e Praça. Entre os representantes da produção recente estão o badalado Branco sai preto fica (Adirley Queirós, 2014), My name is now, Elza Soares, de Elizabete Martins Campos, Paixão de JL, de Carlos Nader, premiado como melhor documentário no festival É tudo verdade deste ano.
PROGRAMAÇÃO
>> QUINTA
20h30 – Abertura com homenagens ao ator Milton Gonçalves, à conservadora audiovisual Fernanda Coelho e ao Cineduc. Exibição de A rainha diaba (Antônio Carlos da Fontoura, 1974). No Cine Vila Rica.
23h – Show Galanga Chico Rei, com Maurício Tizumba, no Centro de Convenções da UFOP
>> SEXTA
09h30 – Debate “Acesso e acessibilidade nos contextos da preservação audiovisual, pesquisa histórica e educação”, no Centro de Convenções da UFOP.
14h – Amazônia (Thierry Ragobert, 2014), no Centro de Convenções da UFOP.
14h – O menino no espelho (Guilherme Fiúza, 2014), no Cine Vila Rica
14h30 – Seminário “O negro em movimento”, no Centro de Convenções da UFOP
18h – Seminário “Projetos e políticas para a preservação audiovisual”, no Centro de Convenções da UFOP.
18h – Também somos irmãos (José Carlos Burle, 2014), no Cine Vila Rica
20h – Limite (Mário Peixoto, 1931), no Cine Vila Rica
20h30 – Verão da lata (Tocha Alves e Haná Vaisman, 2014) e O iiplomata
(Fábio Carvalho, Flávia Barbalho e Isabel Lacerda), no Cine BNDES, na Praça Tiradentes.
22h30 – Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014), no Cine Vila Rica
23h – Show Femalé, com Marcus Viana, Sérgio Pererê e Zal Sissokho
Programação completa no www.cineop.com.br