Carlos Starling Carlos
Inverter a ordem, trocar posições e registrar os desarranjos que isso pode provocar são recursos que fazem rir daquilo que fica fora do lugar. 'Trocando os pés' reproduz a fórmula depurada em clássicos, como 'Quanto mais quente melhor' (1959), ou em variações, como 'Trocando as bolas' (1983), sem conseguir sabor diferenciado.
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Sandler interpreta Max, um sapateiro nova-iorquino que um dia descobre que a máquina da loja ganhou poderes extraordinários. A premissa combina uma situação de conto de fadas com as possibilidades de filme de super-herói. Basta calçar um par diferente de sapatos para ter acesso a mundos antes inacessíveis. Tirar dos pés os tênis surrados e colocar calçados bacanas provoca, no fim das contas, o mesmo efeito de vestir a roupa do Super-Homem e do Homem-Aranha.
O indivíduo pacato e entediado pela rotina de um trabalho sem graça também vai viver situações de aventura e se safar sem arranhões. Como ele é um sujeito de bom coração, poderá permitir à mãe reviver momentos de muita emoção quando reencarnar o pai num jantar de reencontro. A tarefa mais arriscada, no entanto, será desmontar o esquema armado por uma exploradora para tomar posse da área de pequenos comércios onde fica a sapataria.
Essa mistura de elementos de denúncia à especulação imobiliária que descaracteriza as regiões tradicionais de Nova York serve para dar um toque de seriedade à comédia, mas só está ali para esticar as possibilidades rocambolescas. Com seus superpoderes, Sandler pode ser ora um capanga mal-encarado, ora um senhor bondoso exposto à ferocidade financeira, jogar com as aparências para combater a injustiça. No final, basta tirar os sapatos para voltar ao sossego.
Mais ou menos o que a maioria quer quando entra na fila da bilheteria. Melhor ainda se a combinação usar apenas mais do mesmo.