No começo dos anos 1960, Darryl Zanuck, então principal executivo do estúdio Fox, desenvolveu um projeto muito bem sucedido. Baseado no livro de Cornelius Ryan e contando com um batalhão de diretores, atores e técnicos, ele fez um documentário, em preto e branco, sobre o desembarque dos aliados na Normandia, em 1944.
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Trinta e poucos anos depois, em 1998, Steven Spielberg concentrou o desembarque dos aliados na praia de Omaha nos 27 minutos iniciais de 'O resgate do soldado Ryan'. A cena antológica não deixa tempo ao espectador nem para respirar. Seu realismo é brutal e tudo - a cor, a montagem, o físico do elenco - contribui para manter o público tenso e incomodado. Os soldados vão desembarcando e, na praia, os nazistas os esperam com canhões e destacamentos. O clima é de carnificina, mas cada um que cai é substituído por muitos. De alguma forma, os aliados conseguem romper o cerco, e avançar.
Confira trailer de 'O resgate do soldado Ryan':
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O Resgate do Soldado Ryan
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Com certeza foi o motor para que Tom Hanks fizesse na sequência, para TV, a minissérie 'Irmãos de Guerra'. Há uma citação da Torá no filme. Diz que uma vida humana vale todas as vidas. Foi dentro desse espírito que Spielberg fez depois, nos anos 2000, 'O terminal', 'Munique' e 'Guerra dos mundos'. Os três filmes compõem uma trilogia informal que se constitui no mais extraordinário documento sobre a América no pós-11 de Setembro.
Durante muito tempo os críticos o atormentaram dizendo que era um adolescente tardio, sofrendo da Síndrome de Peter Pan. É verdade que ele curtia a ação, os efeitos, as fantasias. Tubarão Contatos Imediatos do Terceiro Grau e ET - O Extraterrestre fizeram história, e não apenas pela explosão das bilheterias. Tentando fugir da síndrome, Spielberg fez O Caminho do Sol e A Cor Púrpura, reivindicando sua legitimidade como cineasta 'adulto'. Em 1993, recebeu o primeiro Oscar de direção por A Lista de Schindler, sua reflexão sobre o Holocausto. Anos depois veio o segundo prêmio da Academia, por Soldado Ryan.
O desembarque em Omaha foi votado pela revista Empire como a melhor cena de batalha de todos os tempos e por TV Guide como um dos 50 melhores momentos do cinema. Ela realmente impressiona, mas é só um prelúdio. Spielberg recusou-se a fazer storyboard, preferindo improvisar na hora com o diretor de fotografia Janusz Kaminski, que também ganhou o Oscar. O filme começou a nascer em 1994, quando o roteirista Robert Rodat viu, numa cidade da Pensilvânia, o monumento dedicado aos quatro filhos de Agnes Allison, todos mortos na Guerra Civil do século 19. Rodat resolveu escrever uma história similar, transferindo a ação da Guerra Civil para a 2.ª Grande Guerra. Encaminhou o roteiro para o produtor Mark Gordon, que sentiu que era um material adequado para Tom Hanks. O astro gostou e o redirecionou para Spielberg.
A trama de Rodat e Spielberg, após a carnificina do ataque costeiro à praia de Omaha, o Capitão John H. Miller (Hanks) forma pelotão de sete homens (Tom Sizemore, Edward Burns, Barry Pepper, Vin Diesel, Giovanni Robisi, Adam Goldsberg e Jeremy Davies) para procurar paraquedista - James Francis Ryan (Matt Damon) - que é o último sobrevivente de quatro irmãos militares. A missão é perigosa, suicida. O grupo avança com risco da própria vida, mas é o alto comando que exige que o soldado Ryan seja encontrado e devolvido à mãe. A vida de um homem vale todas as demais? Há um foco crítico muito intenso em O Resgate do Soldado Ryan. O batalhão de Miller/Hanks é sacrificado e sua última fala para Ryan/Damon é uma daquelas réplicas que um espectador carrega pela vida. 'James, earn this, earn it./Faça por merecer.' A poderosa descarga emocional ganhou o público e, com quase US$ 500 milhões, Soldado Ryan teve a maior arrecadação do ano. Em São Paulo, estreou em 11 de setembro de 1998, apenas três anos antes do ataque às torres gêmeas, que virariam, sem referência direta, o ponto de reflexão da melhor e mais madura fase de Spielberg como criador.