Nada impede uma pessoa de ser jovem mesmo que ela tenha 80 anos: essa é a mensagem do cineasta italiano Paolo Sorrentino em 'Youth (Juventude)', uma ode à vida e à passagem do tempo, exibido ontem no Festival de Cannes.
Fred, um renomado diretor de orquestra e compositor aposentado que não deseja voltar a pisar nos palcos após a ausência da mulher (que depois de ser diagnosticada com Alzheimer passa a viver em um asilo); Mick, um cineasta em crise criativa, que tenta concluir um roteiro para seu último filme; e Brenda, que o abandona pela séries de TV, que pagam mais que o cinema.
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No cenário idílico e calmo, o tempo parece congelado, como quando Fred faz do silêncio uma orquestra imaginária, formada pelas vacas do local.
“Na vida, todos somos figurantes”, afirma um dos personagens de 'Youth', rodado em inglês.
Com sua particular visão estética do cinema, Sorrentino, diretor do aclamado 'A grande beleza', une música e imagens como se estivesse em um balé visual que faz, a partir da velhice e da decadência, uma homenagem à juventude.
Ambientado no antigo sanatório para tuberculosos de Davos (Suíça) onde o escritor alemão Thomas Mann escreveu sua obra-prima, 'A montanha mágica', Sorrentino faz uma pequena menção a Maradona, que está hospedado no mesmo local.
O filme também mostra Hitler isolado, vestido com uniforme militar e que manca. Ou o casal elegante que, noite após noite, não troca uma palavra ou um olhar durante o jantar, marcado pela passagem do tempo e tédio.
“Com a idade, tudo o que você faz é pior”, afirma um dos personagens do filme do diretor italiano, que perdeu os pais aos 17 anos em um acidente com gás e que, aos 25, há quase duas décadas, abandonou os estudos de economia para começar a criar sua visão pessoal da sétima arte.
Para Sorrentino, o filme é “muito otimista e uma excelente oportunidade para exorcizar o medo” da passagem do tempo, do envelhecimento, da morte física e mental.
“A idade é uma questão de atitude. Quando você tem uma paixão na vida, permanece jovem”, disse, na entrevista sobre o filme, uma elegante Jane Fonda.
Para Michael Caine, de 80 anos, a única alternativa a interpretar velhos “é interpretar mortos”. O sempre sarcástico ator resiste no filme a viver seu último grande momento de glória: aceitar um convite da rainha Elizabeth II da Inglaterra, que, na vida real, lhe deu a insígnia de Sir.
“O futuro é uma grande oportunidade de liberdade, e a liberdade é uma grande oportunidade da juventude”, afirmou Sorrentino. Youth não deixou ninguém indiferente: o filme recebeu aplausos, mas também algumas vaias. Mas boa parte da crítica considera Sorrentino um candidato sério para a premiação de Cannes, que será anunciada no próximo domingo.
O italiano é presença frequente no festival, onde recebeu o prêmio do júri em 2008 por Il divo. Na edição de 2013, 'A grande beleza', aclamado pela crítica e que recebeu o Oscar de filme em língua estrangeira, deixou Cannes sem prêmios.