Em tempos de uso exacerbado da tecnologia, um projeto lança mão dela para divulgar uma cultura originária do século 13, ameaçada de extinção. Já no ar, via aplicativo de celular e um site, o projeto Som dos Sinos (www.somdossinos.com.br) será oficialmente lançado neste sábado, em Tiradentes, na região das Vertentes, com a exibição de um vídeo.
Outras oito cidades também receberão projeções. Cada vídeo conta a história do local onde é exibido, com depoimentos de moradores e sineiros. “A ideia é valorizar não só a cultura da linguagem dos sinos, mas também a figura do sineiro, que muitas vezes não é reconhecido”, avalia a documentarista carioca Marcia Mansur, de 35 anos, uma das idealizadoras do projeto. As projeções serão realizadas em paredes externas de igrejas. A última parte do projeto consiste na produção de um documentário de longa-metragem.
As oito cidades mineiras selecionadas pelo Som dos Sinos têm em comum o fato de manter essa cultura viva. O objetivo do projeto de Marcia, em parceria com a também documentarista Marina Thomé, paulista, de 34, é difundir a cultura do toque dos sinos, reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), assim como a atividade de sineiro.
Em visita às nove cidades do estado (São João del-Rei, Congonhas, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Serro, Diamantina e Sabará, além de Tiradentes), onde o sino se tornou presença quase indelével, as documentaristas descobriram personagens curiosos, como a sineira Maria, de Mariana, na região Central, que, apesar de manter o exercício quase diário da atividade, confessa não gostar dela.
“Tudo porque a avó, figura querida na comunidade, morreu e, cada vez que ia tocar o sino, o som remetia à perda”, conta Marcia Mansur. Além da religiosa, os toques de sino têm finalidade social e de defesa civil nessas cidades. A presença de mulheres na atividade de sineira, lembra Marcia, não se resume a Mariana – estende-se a Congonhas, na região Central, na figura de Conceição, e a Diamantina, por meio de Valéria.
Na cidade reconhecida como o portal do Vale do Jequitinhonha, ela diz também ter conhecido o sineiro que mais lhe chamou a atenção. Trata-se de Antonio Maria, que a documentarista considera um instrumentista, tal é a exploração que ele alcança das possibilidades harmônica e rítmica dos sinos.
Já em São João del-Rei, também nas Vertentes, ela garante que o universo mais fascinante reside no campanário – a parte aberta da torre das igrejas, que abriga os sinos. “Nas festas, ele costuma abrigar até 20 meninos para tocar o sino”, diz.
Outro aspecto que atraiu Marcia em São João del-Rei foi o fato de os sinos dobrarem. “São duas pessoas tocando, fazendo com que eles girem em uma velocidade incrível”, diz ela, que associa o movimento corporal dos jovens sineiros à roda de capoeira. “Parece uma dança. Além de lindo, é vigoroso”, elogia.
MARACATU
Parceira de Marcia Mansur no projeto, a documentarista paulista Marina Thomé diz que o que mais a impressionou neste universo foi o próprio som do sino. “Em São João del-Rei, por exemplo, ele chega a ter algo meio africano. Parece um maracatu”, compara Marina, lembrando que o movimento turístico das cidades históricas mineiras acaba contribuindo para o objetivo do projeto, que é o de aproximar a tradição das novas tecnologias. “Ali, todo mundo grava, filma e fotografa tudo”, constata.
Multiplataforma, o projeto Som dos Sinos já disponibilizou para download gratuito um aplicativo que funciona como um audioguia, no qual o usuário pode escutar diversos toques de sinos, com GPS de localização das igrejas em nove cidades mineiras.
“Embora ele possa ser usado pela comunidade sineira, vejo-o como uma ferramenta para turismo. Lá estão não só toques de sino, mas depoimentos de sineiros, trechos de entrevistas com eles. Pode-se navegar por cidades ou igrejas”, diz Marcia.
Já o site, com recursos de narrativa multimídia, irá apresentar sessões como Sons, reunindo mais de 100 áudios com toques de sinos. Na sessão Videocartas, que funciona de maneira interativa, o usuário poderá escolher uma sequência de vídeo e um trilha sonora.
As opções serão processadas junto a uma história contada em texto pelo usuário. Ao fim, o site gera um vídeo de 30 segundos que pode ser compartilhado pelo internauta. Uma das sessões mais singulares da plataforma é a Micro-histórias, e será inaugurada no final do mês. Um webdocumentário, no qual o internauta define a sequência da história a cada clique, está sendo montado pelas documentaristas.
Sinos na tela
Confira o calendário de projeções dos vídeos do projeto
Dia 2 – Tiradentes
Dia 4 – São João del-Rei
Dia 5 – Congonhas
Dia 7 – Ouro Preto
Dia 8 – Mariana
Dia 9 – Catas Altas
Dia 12 – Serro
Dia 14 – Diamantina
Dia 16 – Sabará