Até o título é de difícil comunicação: 'Entre abelhas', que chega aos cinemas no próximo dia 30. Porchat, que protagoniza, produz e divide o roteiro com o diretor da empreitada, Ian SBF, teve a ideia da história de Bruno há quase uma década.
Em poucas linhas, Bruno é um cara que está chegando aos 30 anos e tem que voltar para a casa da mãe (Irene Ravache) quando sua mulher (Giovanna Lancellotti) decide terminar o casamento. De mal com a vida e com a carreira de editor de vídeo, ele começa a perceber que as pessoas ao seu redor estão, aos poucos, desaparecendo. Mas somente ele não as enxerga. Começa, com a ajuda da mãe, a tentar viver da maneira que é possível.
“Quando tive essa ideia, sabia que era impossível pensar num filme (na época). Gostava tanto da história que pensei: ‘Se alguém quiser comprar, não vou vender’. Até que veio o Porta dos Fundos, em que temos total liberdade. Então conseguimos fazer exatamente o filme que queríamos”, afirma o ator.
E não dá para falar em 'Entre abelhas' sem falar da produtora de vídeos de comédia que está completando três anos como a iniciativa mais bem-sucedida do gênero no país. Pois quatro outros integrantes do Porta dos Fundos participam da empreitada: além do diretor e roteirista Ian SBF, o elenco traz os atores Luis Lobianco, Letícia Lima e Marcos Veras (este licenciado por causa de um contrato com a Globo).
PERFIL A despeito da presença do quinteto, 'Entre abelhas' não é um filme do Porta dos Fundos, afirma Porchat. O elenco foi escolhido, de acordo com ele, porque os atores cabiam no perfil.
Além de apresentar uma história estranha para os padrões convencionais, 'Entre abelhas' ainda foge de alguns lugares-comuns. O cenário da narrativa é o Rio de Janeiro, mas poderia ser qualquer outro grande centro. Não há uma única cena que mostre a praia ou o Cristo Redentor. Os personagens que somem do olhar de Bruno não o fazem por meio de efeitos especiais. E o cartaz que já está em destaque nos cinemas, com uma imagem de Bruno/Porchat tristonho, em tons de cinza-azulado, transmite bem toda a cor do filme, que fica entre verde, cinza e azul, sempre frios. O fim da trama é bem aberto, deixando para que o espectador feche sozinho a história.
“Sou formado como ator, consigo realizar projetos diferentes não só como comediante. É mais fácil a gente rotular, colocar as pessoas em prateleiras. Funciona melhor para o público entender. Mas este filme não é um grito meu de querer mostrar que sou um ator sério. Nunca me incomodou acharem que sou comediante. Gosto de surpreender as pessoas. Tomara que este seja apenas o primeiro passo para eu fazer o que quiser. Se quisesse, faria Hamlet amanhã”, diz Porchat.
Mas há alívios cômicos na narrativa, que pode ser rotulada como uma tragicomédia. Lobianco interpreta um entregador de pizza que serve como cobaia para tentar ajudar Bruno a voltar a enxergar e Veras é o melhor amigo do protagonista, um machão narcisista que só vê o que lhe é conveniente. Mas pertencem a Irene Ravache os momentos mais engraçados do filme. Não é o riso fácil e forçado das comédias que ela suscita, mas um riso mais espontâneo, em que se acha graça mais do absurdo de cada situação do que de uma piada pronta.
'Entre abelhas' vai ter lançamento de porte médio – o filme será lançado entre 300 e 400 salas. Para Porchat, a recepção do público é uma incógnita. “Nosso problema não é as pessoas acharem que é o filme do Porta, mas o filme do navio (referência à comédia 'Meu passado me condena', ambientada num cruzeiro). Há cinco anos faço o show de stand up 'Fora do normal'. Ele também está no Netflix, com o mesmo nome. Aí, alguém vai ao show e no final me diz: ‘É igual ao da Netflix!’. Aí eu digo: ‘Mas é o mesmo título, estou com a mesma roupa, é claro que é o mesmo’.”
Para o ator, “as pessoas costumam achar o que querem. Não estamos vendendo 'Entre abelhas' como uma comédia. Você pode até rir mais com o filme do navio, mas esse filme tem uma história legal, estranha, diferente. É bom também quebrar essa ideia (de fazer sempre comédia). Daí, no meu próximo filme, ninguém vai saber o que vai vir.”
Diretor conheceu sucesso com site
'Entre abelhas' é o primeiro longa-metragem do fundador do Porta dos Fundos pouco (ou nada) conhecido do grande público: Ian SBF (de Samarão Brandão Fernandes) criou a produtora de humor a partir de uma experiência anterior no gênero.
Até os 29 anos, tinha emplacado apenas um curta-metragem, 'O lobinho nunca mente' (2007). Sua experiência em audiovisual ainda havia resultado em algumas tentativas frustradas e engavetadas. Até que criou o site de vídeos Anões em Chamas. A repercussão da iniciativa no YouTube lhe valeu uma série de convites, inclusive a estreia na televisão – como roteirista do humorístico global Junto e misturado. Amigo de Porchat há muitos anos, conhece, por causa do Anões em Chamas, os outros nomes que viriam a formar com ele o Porta dos Fundos.
Nesse meio tempo, a experiência com cinema nunca foi deixada de lado. Escreveu e dirigiu outros dois longas-metragens: 'Podia ser pior' (2010), projeto que foi todo filmado mas cuja montagem parou no meio. “O tempo dele acabou passando, e o filme acabou morrendo”, afirma. O outro filme, 'Teste de elenco' (2011), acabou sendo lançado, mas somente na internet. A mesma geração de humoristas esteve no elenco dos projetos: além de Porchat, participaram dos dois filmes Tatá Werneck e Letícia Lima.
“A ideia de Entre abelhas existe desde a época em que estreei com Lobinho (o curta, com Porchat mais uma vez como protagonista, mostra a história de um jovem que acorda paralisado no chão após um acidente doméstico e repensa sua vida durante os três dias em que espera ajuda). Na minha cabeça, queria um filme barato, criativo e diferente. Tanto que este filme é muito daquela época, coisa bem diferente do filme do Porta dos Fundos. Este não tem nada de barato e fácil”, afirma Ian. O longa assumidamente Porta dos Fundos terá todo o elenco do canal de humor. A previsão é que Ian dirija o projeto em junho deste ano, para lançamento em dezembro.
A repórter viajou a convite da Imagem Filmes