Cinema

Trilogia de 'O Hobbit' chega ao fim sem alcançar o sucesso de 'O senhor dos anéis'

'A batalha dos cinco exércitos' estreia nesta quarta-feira no Brasil

Carolina Braga

Com visual deslumbrante e grandiosas cenas de batalhas, terceiro filme sobre os hobbits não economiza em efeitos especiais
O diretor Peter Jackson já afirmou ser adepto do ditado “nunca diga nunca”. Um consolo para aqueles que se sentirão órfãos a partir de hoje. Em tese, a estreia de 'O hobbit – A batalha dos cinco exércitos' coloca fim à trilogia protagonizada por Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) na Terra Média. Ao que tudo indica, é mesmo a última vez que a obra de J. R. R. Tolkien será transposta para as telas. Pelo menos por Jackson. Isso porque os tempos já foram mais promissores.

 

De acordo com pesquisas realizadas pelo site Box Office Mojo, uma das principais referências em dados para a indústria do cinema, apesar de todo o sucesso do passado, a franquia está em decadência. 'O hobbit – Uma jornada inesperada' (2012) lucrou 20% a menos nos Estados Unidos do que o último episódio de O senhor dos anéis (2003), enquanto 'O hobbit – A desolação de Smaug' (2013) caiu mais 15% também em território americano. No Brasil, segundo dados da Agência Nacional do Cinema, a queda do número de espectadores do primeiro para o segundo episódio é de cerca de 300 mil pessoas.


O problema é que 'O hobbit' custou duas vezes mais que 'O senhor dos anéis'. É por isso que os especialistas não têm grandes apostas para o encerramento da trilogia. A previsão do Box Office Mojo é de que a bilheteria do longa nos Estados Unidos não ultrapasse US$ 235 milhões. O valor é US$ 50 milhões inferior ao da primeira parte do último capítulo de 'Jogos vorazes' e ainda US$ 30 milhões menor do que 'Interestelar'.


'O hobbit – A batalha dos cinco exércitos' foge à regra de todos os anteriores e tem cerca de 20 minutos a menos do que as outras aventuras. O que se mantém frequente em todos os longas adaptados é o protagonismo dado aos efeitos especiais. Sinal disso é que tanto 'Uma jornada inesperada' (2012) como 'A desolação de Smaug' (2013) apareceram nas principais premiações do cinema somente em categorias técnicas.


Eis a grande aposta e inovação da trilogia 'O hobbit'. Peter Jackson fez história ao inaugurar a filmagem a 48 quadros por segundo (fps) associada ao 3D. O normal é rodar em 24 quadros por segundo. Quando o número de quadros dobra, aumenta o grau de realismo na telona. Tanto que nas experiências com os dois primeiros longas da trilogia teve gente que sentiu náuseas e tontura na sala de exibição.


É esse o ponto nevrálgico em que bateu o ator Viggo Mortensen. Para o intérprete de Aragorn de 'O senhor dos anéis', como Peter Jackson sempre foi aficionado por efeitos especiais, quando conseguiu os meios para fazê-los, se embriagou. “Em 'A sociedade do anel', temos Rivendell e Mordor, claro, mas há qualidade orgânica nos filmes, atores interagindo uns com os outros e cenários reais. O segundo filme já começou a exagerar, na minha opinião, e o terceiro tinha efeitos demais. Era grandioso e tudo o mais, mas a sutileza do primeiro filme se perdeu nas sequências. Em 'O hobbit', então, tudo isso está elevado à décima potência”, criticou Viggo em entrevista a um site americano. Coube ao criador de Bilbo Bolseiro a defesa do diretor. Martin Freeman concorda que há muita tecnologia em cena, mas avalia que isso não tirou o interesse de Peter Jackson pela história.

 

Crítica

 

O projeto original da adaptação de 'O hobbit' previa dois longas. Com a decisão de estender por mais um ano o fim da saga, os dois roteiros previamente produzidos se transformaram. 'A desolação de Smaug' (2013), a segunda parte da trilogia, tem o fim original do primeiro e o início do terceiro. O mesmo se repete em 'A batalha dos cinco exércitos', o que soa um pouco estranho.


O terceiro filme começa no gás da perseguição do dragão Smaug. A sequência brilhante é a que justifica o uso da tecnologia 3D. São as melhores cenas, mais emocionantes, já que depois o cansaço toma conta não apenas de anões, elfos, humanos e Bilbo Bolseiro, o único hobbit desta saga. Depois dos 30 minutos iniciais, as irregularidades no ritmo da narrativa tornam-se frequentes.


De fato embriagado pela tecnologia, o negócio de Peter Jackson é traduzir da forma mais real possível toda a fantasia de J. R. R. Tolkien. É batalha, batalha, batalha. Ok, muito bem filmadas. Mas batalha, batalha, batalha. Não à toa, o longa está na lista das 10 produções pré-selecionadas à categoria de melhores efeitos especiais para o Oscar 2015. Por mais que as imagens sejam fascinantes e os monstros, assustadores, o último filme fica devendo ao não explorar os personagens e os conflito que surgem no decorrer da narrativa.

 

PARA LEMBRAR 

 

'O hobbit – Uma jornada inesperada' (2012)
Sessenta anos antes do início da saga de O senhor dos anéis, Bilbo Bolseiro é escolhido pelo mago Gandalf para uma importante expedição. O longa estreou em 14 de dezembro de 2012. Recebeu três indicações ao Oscar, todas no quesito efeitos visuais.


'O hobbit – A desolação de Smaug' (2013)
Mais sombrio que o primeiro. Bilbo Bolseiro, mesmo inseguro, demonstrava encantamento pelo que estava por vir. Agora não. Os personagens estão cansados, machucados, mas perseverantes. Bilbo Bolseiro se apodera do cobiçado anel, objeto chave na trilogia de O senhor dos anéis.


'O senhor dos anéis' (2001, 2002 e 2003)
A trilogia dirigida por Peter Jackson acumulou 17 estatuetas do Oscar (quatro para o primeiro, duas para o segundo e 11 para o terceiro). Narra as aventuras de Frodo, sobrinho de Bilbo Bolseiro, na saga para destruir o poderoso anel roubado pelo tio.

 

Assista ao trailer de 'O hobbit - A batalha dos cinco exércitos':