Cinema

'Brincante' chega às telonas misturando elementos do teatro e do cinema

Filme é o sexto longa-metragem do cineasta Walter Carvalho

Mariana Peixoto

Ao assistir pela primeira vez a um espetáculo de Antônio Nóbrega, o fotógrafo e cineasta Walter Carvalho viajou no tempo. “O universo do Nóbrega é o universo de onde venho, dos folguedos populares, aos quais meu pai me levava quando criança”, afirma. Já naquela incursão, realizada mais de 20 anos atrás, Carvalho decidiu que no futuro gostaria de fazer um trabalho com o multi-artista pernambucano. E até que chegasse ao longa-metragem 'Brincante', que estreia hoje nos cinemas, Carvalho realizou o desejo algumas vezes.


O ponto de partida foi um auto para capítulo da novela 'Pedra sobre pedra' (1992), em que Nóbrega e Carvalho trabalharam juntos. A partir dessa incursão, o fotógrafo dirigiu os três DVDs do artista, 'Naturalmente', 'Lunário perpétuo' e 'Nove de frevereiro'. “Quando veio a ideia de fazer um filme, pensava em alguma coisa de ficção. Só que acabei desistindo. Ele não é documentário, não é ficção, mas é as duas coisas. Ou melhor, é um filme com Antônio Nóbrega.”

Dois personagens do universo dos espetáculos de Nóbrega, João Sidurino e Rosalina, conduzem a narrativa. “Nóbrega é um artista: ator, cantor, instrumentista, compositor. O filme traz essas multifacetas. Para que inventar mais um personagem se ele já tem tantos?”, acrescenta Carvalho.

Por causa do trabalho realizado com o artista em DVDs, o diretor pôde experimentar bastante. “O filme usa do truque do teatro no cinema. Há uma parede que anda. Ou seja, você está assistindo um teatro, mas aquilo é cinema. É essa a brincadeira, por isso, o filme fica no nível ficcional. Quero com a história provocar emoção nas pessoas por meio da imaginação, criar mistério com o simples.”

LIVRO

'Brincante' é o sexto longa-metragem dirigido por Carvalho, que também está lançado agora o livro 'Contrastes simultâneos' (Cosac Naify). Na publicação, seu trabalho no cinema não está em foco. Com quatro décadas dedicadas à fotografia, Carvalho selecionou 200 imagens em preto e branco realizadas no Brasil. Há fotos do carnaval, partidas de futebol, crianças, detentos em prisões, entre vários outros cenários. “Sou um fotógrafo que dirige, mas no fundo mesmo sou um fotógrafo. A cada dia que passa tenho mais vontade de trabalhar com a imagem”, finaliza.