'Sopro', filmado em Minas, mexe com o imaginário de povos do mundo

Longa de Marcos Pimentel mostra a simbiose do homem com a natureza

por Ana Clara Brant 04/12/2014 08:00

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Indie/Divulgação
(foto: Indie/Divulgação)
Crianças brincam. Um cavalo sobe a montanha. Um menino contempla a cachoeira. Um urubu devora a carniça. Uma senhora cozinha angu enquanto um homem serra a madeira. Cenas corriqueiras; momentos de introspeção diária filmados no interior de Minas, mais precisamente num vilarejo nada turístico, próximo ao Parque do Ibitipoca, na Zona da Mata.

Assim é 'Sopro', primeiro longa do documentarista de Juiz de Fora  Marcos Pimentel, que estreia hoje em Belo Horizonte, às 19h30. O cineasta participa de debate com o público no espaço Oi Futuro, logo após a exibição do filme. A produção de 73 minutos também entra em cartaz no Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Luís e Aracaju.



Distribuído pela Lume Filmes, o documentário já chega aos cinemas com bagagem de cinco prêmios e a participação em 16 festivais e mostras nacionais e internacionais. Sem falar nos vários elogios de crítica e público. “O que achei mais interessante é que pessoas de todos os cantos gostaram e perguntaram se havia sido filmado perto da casa delas. Ouvi muito: ‘Foi feito na Itália? Na Tailândia? Numa vila da Sérvia ou num lugarejo do Irã?’. Acredito que pela ausência de diálogos essa questão de não localizar geograficamente e a própria maneira como o filme é estruturado fazem com que as pessoas se identifiquem com seus baús afetivos. Para mim, é muito gratificante ver gente do mundo inteiro se reconhecer no meu projeto”, celebra.

'Sopro' é um documentário existencialista que aborda o mistério da vida e da morte. A experiência anterior de Pimentel tinha sido algo urbano contemporâneo e, por isso, ele ficou um pouco saturado do tema e quis fazer uma coisa completamente oposta. “Fui para o meio do mato, do nada, e me aproximei da condição humana. Então, meio por intuição descobri essa pequena vila com apenas cinco casinhas, bem isoladas de pessoas que precisam do mínimo necessário para existir”, conta.

OBSERVAÇÃO

Realizado sem diálogos e sem entrevistas ou locução, o longa – que tem roteiro do próprio Marcos e de Ivan Morales Jr. e fotografia de Matheus Rocha – observa o cotidiano desse microcosmo e tem como matéria-prima a essência da condição humana em simbiose com a natureza. Aliás, o silêncio é uma marca no trabalho de Marcos Pimentel. Esse processo se deu com ele próprio, que sempre foi falador, mas que, ao longo da vida, foi se calando. “E o mesmo se deu com os documentários. A palavra sempre foi muito presente nos meus filmes, mas ela foi se esvaindo ao longo da minha trajetória”, explica.

No caso de 'Sopro', Marcos chegou e começou a filmar e, entre junho de 2010 e novembro de 2011, a equipe visitou a região diversas vezes para registrar os poucos moradores do local em suas rotinas silenciosas e reservadas. “Não perguntava nada. Eles estavam lá em contato com eles mesmos, pensando na vida, e se acostumaram com a nossa presença. Houve um pacto silencioso. É interessante que, apesar dessa identificação com pessoas do mundo inteiro, considero o meu filme o mais mineiro que já fiz, justamente por essa introspeção, esse jeito que é bem típico nosso”, avalia.

O NOME

O sopro tem várias leituras possíveis no filme, segundo o diretor Marcos Pimentel. O vento é um elemento extremamente importante e aparece o tempo todo, seja brincando com as coisas do lugar como a chama das velas, as roupas das pessoas, as folhas das árvores, o pó típico da região. “Sem falar que tem essa coisa do sopro da vida, que é importante também”, ele frisa.

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