Antonio Banderas estrela 'Autómata', ficção científica que discute a mortalidade

Ator espanhol diz que pretende usar fama conquistada em Hollywood para sustentar produções no país natal

por Agência Estado 06/10/2014 21:07

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A história de Antonio Banderas no cinema começou a ser escrita com sua parceria com Pedro Almodóvar, iniciada em Labirinto de Paixões (1982). Depois viriam Matador (1986), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) e Áta-me (1989). A ida a Hollywood o transformou no herói latino de A Balada do Pistoleiro (1995) e A Máscara do Zorro (1998), mesmo que também tenha feito coisas muito diferentes, como Filadélfia (1993) e Entrevista com o Vampiro (1994).

Nos últimos tempos, o espanhol tem procurado diversificar, sendo dirigido por Woody Allen (Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos) e Steven Soderbergh (À Toda Prova) e voltando a trabalhar com Almodóvar no terror A Pele Que Habito (2011). Mas é possível dizer que inaugura nova fase com a ficção científica Autómata, de Gabe Ibañez, exibida no 10º Festival de Zurique, que inaugura seu engajamento maior com a produção de longas-metragens.

No filme, ele é Jacq Vaucan, investigador da companhia de seguros da fabricante dos robôs que assumiram diversas tarefas numa sociedade à beira do colapso e que podem ou não estar desenvolvendo sua própria consciência. Banderas conversou com o jornal O Estado de S.Paulo em Zurique.
Divulgação
(foto: Divulgação)

O filme mostra uma visão muito pessimista da nossa vida."O problema é que a televisão mostra uma visão bem mais pessimista de como o mundo está funcionando. Você se senta para comer e precisa desligar a televisão, porque chega a dar dor de estômago."

O que este filme fala sobre inteligência artificial que produções como Eu, Robô e Blade Runner não discutiram? "O interessante é que não fazemos tantas referências no nosso filme. Conversamos muito mais sobre Planeta dos Macacos. Mas é interessante como as pessoas tentam imediatamente rotular de alguma maneira. Na verdade, se há chuva e hologramas, as pessoas gritam: Blade Runner! (risos). Acontece em 20 segundos do filme. É a mesma coisa que se visse uma arma e dissesse: Pulp Fiction! Ou visse um camelo e gritasse: Lawrence da Arábia! Mas para apontar uma diferença: algumas das pessoas com quem falamos, possíveis investidores, possíveis distribuidores, que no fim não embarcaram no projeto, sempre perguntavam quando os robôs iam começar a matar as pessoas. Foi difícil de explicar que nossos robôs não matavam ninguém. Esta é uma grande diferença. Os robôs são caras legais. Respeitam os protocolos, coisa que nós humanos jamais fizemos".

No filme, discute-se mortalidade - os robôs, afinal, não morrem. "Sim, sou andaluz. Perguntam por que os andaluzes estão sempre felizes. Porque temos a morte muito presente nas obras de todo artista da Andaluzia, de Picasso a Federico García Lorca."

Ficção científica é uma tentativa corajosa de especular sobre o futuro. Você foi bem-sucedido em suas previsões? "Não! De maneira nenhuma! Quando saí de Málaga em 1980, meu sonho era apenas ser um profissional. Mesmo que eu fosse apenas o cara que segurava a lança na quinta fileira numa ópera. Queria ficar perto de atores. E fazer parte do ritual pelo qual ficava fascinado quando, muito pequeno, ia ao teatro com meus pais. Que eu ia para Hollywood e ia ganhar uma estrela na calçada da fama? Impossível! Nunca previ isso. A única coisa que podia prever era que ia morrer um dia."

Hollywood como indústria atendeu às suas expectativas? "Houve uma desmitificação em relação a certas coisas que eu pensava. Mas sou muito grato a Hollywood, que me ofereceu uma projeção internacional que jamais imaginei. Vi como podia usar essa projeção internacional, porque há certo poder envolvido. Por exemplo, para fazer um filme como Autómata e para ajudar um cara como Gabe Ibañez, em quem acreditei desde o início."

O ator disse que vai fazer mais coisas na Espanha a partir de agora. É um novo começo? "Bom, existe uma marca chamada Hollywood que você carrega nas costas. Se eu fizer um filme com a Cameron Diaz, mesmo que seja na Nova Zelândia, é Hollywood. Porque é a marca, não é mais um lugar."

Segundo ele, o que espera ter na Espanha "a liberdade para criar o que quero. As pessoas podem ou não gostar do que fizemos. O que você vê não é uma Coca-Cola. É um vinho, mesmo que você não goste. Estamos procurando nossa própria personalidade."

Não é livre em Hollywood? "Se há muito dinheiro envolvido, não existe liberdade. Não só em Hollywood, em qualquer lugar. O dinheiro contamina a arte. Não estou criticando. Mas o cinema são duas coisas: arte e indústria. Alguns cuidam da indústria, outros da arte. Às vezes, os dois se misturam. Mas, quando há dinheiro no meio, 20 executivos dizem o que deve fazer: “Corte isso, coloque mais cenas românticas, mais explosões, mais velocidade!”. No fim, não é mais seu filme, é um bando de gente com medo de perder US$ 200 milhões."

Acho que as pessoas sentiram sua falta na Europa desde A Pele que Habito, que teve uma distribuição maior no continente. "O que acontece na Europa é muito diferente dos EUA, que têm 300 milhões de potenciais consumidores, falando a mesma língua. De Madri a Moscou, temos dezenas de idiomas diferentes. Um filme alemão ou romeno pode ter uma realidade mais distante da espanhola do que a de uma produção americana. É muito difícil ter uma indústria como a americana porque na Europa não temos a mesma língua nem a mesma cultura. É mais interessante, mas ao mesmo tempo não temos o poder de Hollywood. E, se continuarmos assim, nunca teremos."

Vê alguma solução? "É interessante porque, se a economia crescer um pouco mais na América Latina, poderíamos conseguir. São 500 milhões de pessoas falando a mesma língua. Gostaria de roubar Hollywood de Hollywood. Usar a marca Hollywood. Televisão precisa de conteúdo. Seria possível levantar dinheiro para produzir 20 filmes por ano, com a marca Hollywood, mas em espanhol. Esses filmes seriam lançados pelas grandes distribuidoras americanas no cinema, mas depois seriam comercializados nas televisões da América Latina, com venda de publicidade e tudo. É um bom investimento!"

 

Confira trailer de 'Autómata':

 

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