

“Pelo Facebook, deu para perceber que a classe está unida de modo absolutamente unânime. A repercussão está sendo impressionante. Mostra que é de fato um pensamento comum em relação aos festivais”, comenta Thiago Macêdo Correia, produtor da Filmes de Plástico, coletivo de Contagem. Ele foi o porta-voz dos colegas na leitura da carta que informou a decisão dos representantes dos seis longas selecionados para competição em dividir em partes iguais o montante destinado ao vencedor de 2014, no caso, 'Branco sai. Preto fica', de Adirley Queiroz.
No documento lido em público, os signatários ressaltam que de maneira alguma questionam o caráter competitivo do evento e muito menos a decisão do júri, sempre soberano. O grande vencedor do festival, com 11 prêmios, é realmente o filme de Adirley. O que eles consideram desequilibrado é a destinação de R$ 250 mil apenas para o vencedor na categoria de melhor longa. O segundo maior valor entregue é de R$ 50 mil, na categoria de melhor longa do júri popular, ou seja, a diferença é de R$ 200 mil.
A divisão do prêmio não gerou qualquer desconforto entre os organizadores do evento. Pelo contrário. “Para mim, foi uma gratíssima surpresa. Esse espírito de amizade, de partilhamento mostra a sintonia fina que houve. Foi um ano realmente de congraçamento”, afirmou Sara Rocha, coordenadora-geral do festival. De acordo com Thiago, a discussão em torno do tema movimentou os bastidores dessa edição.
Como 'Ela volta na quinta', que inclusive sagrou-se campeão nas categorias de ator coadjuvante (Renato de Novais de Oliveira) e de atriz coadjuvante (Élida Silpe), longa produzido pelos mineiros da Filmes de Plástico, foi exibido apenas na segunda-feira, quando o produtor chegou a Brasília foi procurado por representantes de outros candidatos para conversar sobre o tema. A ideia de rachar o prêmio já tinha força. Os integrantes do coletivo apoiaram a iniciativa, não pela questão do valor financeiro, mas pelo seu significado.
Nova postura
“Decidimos sentar para redigir uma carta. Não bastaria simplesmente dividir o dinheiro, tinha que ser um ato político, uma tentativa de mudança de visão na concentração de recursos em apenas uma categoria”, conta Thiago. O documento propõe, em seis tópicos, reflexões sobre a dinâmica do evento, que se aplica a outros do gênero realizados no Brasil.
Os cineastas argumentam na carta que a participação em mostras se justifica principalmente pela troca de experiências. “O cultivo de um terreno assim favorável à circulação de ideias deve ser, no nosso entendimento, horizonte para qualquer evento destinado a promover o avanço do cinema e seu diálogo com o público no país”, salientam. Como também ressaltam no documento, o objetivo é levantar discussão sobre uma partilha futura dos recursos hoje concentrados no prêmio de melhor longa.
“Entendemos que uma distribuição da verba entre os filmes, a título de pagamento de direitos de exibição, associada a um prêmio em dinheiro para o melhor filme, representaria uma forma mais isonômica de emprego do valor”, defendem. No Brasil, principalmente nos festivais competitivos, a regra é distribuir a verba apenas aos vencedores dos prêmios. “Pagar por exibição é um tipo de postura que achamos muito importante e, como tem um recurso grande, ele poderia ser entregue de outra maneira”, completa Thiago.
Realidade
Embora concorde que o montante oferecido ao melhor longa-metragem seja realmente desproporcional, principalmente se pensarmos na realidade do cinema brasileiro independente, Sara Rocha acredita ser difícil retroagir no valor. Segundo ela, com a profusão de festivais no Brasil, muitos deles competitivos, o aporte financeiro é que muitas vezes conta na decisão final do diretor ao escolher entre um e outro. Em outras palavras: há uma concorrência entre os festivais e o prêmio para o melhor longa é critério de desempate.
Para Sara Rocha, de tudo o que ocorreu em Brasília em 2014, o importante foi ver o festival, que é um dos mais antigos do país, resgatar seu perfil tradicional. “Foi uma curadoria superarrojada e que trouxe uma reflexão mais profunda acerca desse Brasil. Tudo corroborou”, conclui.
Destaques entre os vencedores
» LONGA-METRAGEM
. Filme (R$ 250 mil) – 'Branco sai. Preto fica', de Adirley Queirós
. Júri popular (R$ 50 mil) – 'Sem pena', de Eugenio Puppo
. Direção (R$ 30 mil) – Marcelo Pedroso, por 'Brasil S/A'
. Ator (R$ 15 mil) – Marquim do Tropa, por 'Branco sai. Preto fica'
. Atriz (R$ 15 mil) – Dandara de Morais, por 'Ventos de Agosto'
. Ator coadjuvante (R$ 10 mil) – Renato Novais de Oliveira, por 'Ela volta na quinta'
. Atriz coadjuvante (R$ 10 mil) – Élida Silpe, por 'Ela volta na quinta'
. Roteiro (R$ 15 mil) – Marcelo Pedroso, por 'Brasil S/A'
» CURTA-METRAGEM
. Filme (R$ 35 mil) – 'Sem coração', de Nara Normande e Tião
. Júri popular (R$ 25 mil) – 'Crônicas de uma cidade inventada', de Luísa Caetano
. Direção (R$ 15 mil) – Nara Normande e Tião, por 'Sem coração'
. Ator (R$ 10 mil) – Zé Dias, por 'Geru'
Veja a relação completa em no site do Festival de Brasília.
. Atriz (R$ 15 mil) – Dandara de Morais, por 'Ventos de Agosto'
. Ator coadjuvante (R$ 10 mil) – Renato Novais de Oliveira, por 'Ela volta na quinta'
. Atriz coadjuvante (R$ 10 mil) – Élida Silpe, por 'Ela volta na quinta'
. Roteiro (R$ 15 mil) – Marcelo Pedroso, por 'Brasil S/A'
» CURTA-METRAGEM
. Filme (R$ 35 mil) – 'Sem coração', de Nara Normande e Tião
. Júri popular (R$ 25 mil) – 'Crônicas de uma cidade inventada', de Luísa Caetano
. Direção (R$ 15 mil) – Nara Normande e Tião, por 'Sem coração'
. Ator (R$ 10 mil) – Zé Dias, por 'Geru'
Veja a relação completa em no site do Festival de Brasília.