Brett Ratner é o que na Hollywood de outrora se chamava de ‘artesão’. É um diretor que salta de um gênero a outro sem elaborar nada parecido com um estilo. Adapta-se às histórias que quer contar, e se existe alguma coerência em seu trabalho é temática - Ratner gosta 1) de fantasia e 2) de personagens atormentados. Dragão Vermelho e X-Men - O Confronto Final são dois de seus filmes mais pessoais. O conceito aplica-se agora a Hércules 3-D.
Existem momentos muito belos, intensos no novo filme de Brett Ratner. Toda a ligação do herói, que não é mais um jovem, mas um homem amargurado, corroído pelo tormento interior, com o menino que ele resgatou do campo de batalha e que cresceu para se tornar um adulto introvertido, murado em seu silêncio. Durante todo o tempo, o espectador espera que Tideu diga alguma coisa. A fala vem, ao cabo de um sacrifício como só os heróis míticos fazem.
Veja trailer de 'Hércules':
O cinema contou muitas vezes a história dos 12 trabalhos de Hércules. Filho de Zeus e Alcmena, de um deus e uma mortal, o herói reinou no cinema mitológico italiano por volta de 1960. Inspirou até mesmo uma obra-prima de Vittorio Cottafavi - Hércules na Conquista da Atlântida. Em Hollywood, virou animação da Disney. O novo Hércules ganha o físico de Dwayne ‘The Rock’ Johnson. Sua origem não está tanto na mitologia, mas nos quadrinhos. Especialista em cultura grega, Cristina Franciscato dá algumas dicas para que o cinéfilo não se estresse.
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Rapidamente, no começo, os 12 trabalhos são resumidos por Iolau, e o relato do sobrinho do herói deixa o espectador em dúvida se aconteceram de fato ou se são histórias aumentadas pelo jovem para incentivar a fama do tio como filho de Zeus. Os trabalhos exigem efeitos, e eles são bons. O filme tem humor, e Anfiarau, o vidente que antecipa a própria morte, vive sendo salvo, in extremis, por Hércules. Tudo isso diverte, mas o que mais deve ter interessado a Ratner foi a loucura do herói, que o faz matar mulher e filhos.
Essa visão trágica que rouba o sono de Hércules já inspirou Eurípedes e agora é encampada pelos roteiristas de Hollywood para mostrar como mesmo um semideus pode ser enganado - e manipulado. Ao descobrir a verdade sobre o assassinato de sua família e também para o que está sendo usado, Hércules só precisa reassumir sua lendária força para se libertar da angústia que o consome - e combater a opressão e a injustiça, restaurando a ordem no mundo. Não o faz sozinho, e o bando de mercenários renuncia ao ouro para agir com a grandeza que se espera deles.
Dois detalhes que podem parecer supérfluos. Rufus Sewell tinha aquele problema no olho que muitas vezes o condicionou ao papel de vilão (contra Antonio Banderas, na série Zorro). Ele deve ter feito uma cirurgia corretiva, porque está com novo look. Ótimo ato inglês de teatro, faz um Autólico conforme à lenda - o mais ladino dos homens, que roubou o próprio Zeus. É o único amigo do herói que deserta Hércules na hora da necessidade. Deserta? Piteu é interpretado pelo norueguês Aksel Hennie, de Headhunters. Ator, roteirista, diretor, Hennie virou um caso da Noruega ao se envolver, muito jovem, com a polícia. Tornou-se um delator premiado e foi hostilizado em sua comunidade, mas deu a volta por cima.
No palco, foi Hamlet, o mais atormentado dos grandes personagens shakespearianos. Como diretor, inspirou-se na própria história em Uno e ganhou o Amanda, o Oscar norueguês, de melhor diretor. Como gosta de dizer, foi errando que se tornou um homem melhor. A ideia anima o Hércules de Brett Ratner.