A proposta era a seguinte: eles forneceriam 52 episódios de um anime baseado nos mangás de Masami Kurumada lançados nos anos 1980 no Japão e que estava estourando na Europa. Em contrapartida, o canal cederia espaço para exibição de propagandas dos bonecos relacionados à série. A empresa já tinha tentado um acordo com outros canais – como a Globo e o SBT – e a Manchete era a última esperança na TV.
Miranda assistiu aos 15 minutos de um trailer promocional da atração. “O vídeo tinha sangue, violência, autoflagelação, cara furando os olhos. Eu não podia colocar aquilo num bloco de programação infantil”, contou a fãs num encontro de cultura japonesa em São Paulo. Dias depois, pressionado pelo departamento comercial, topou conferir os cinco primeiros capítulos e acabou com opinião diferente. Com o parecer positivo, 'Os Cavaleiros do Zodíaco' foi ao ar em 1º de setembro de 1994.
Mas ninguém – nem a Manchete, nem a Samtoy – estava preparado para o sucesso que os defensores da deusa Athena teriam no país. A audiência do canal cresceu consideravelmente, com picos de 15 pontos no Ibope, como no desfecho da saga do Santuário (a primeira e mais famosa da série), que deixou a emissora na liderança do horário. “O Brasil estava carente de um desenho sequencial, como uma novela, em que um episódio dependia do outro e prendia o fã. Como sucesso, as empresas entenderam que havia um mercado para isso e investiu alto”, analisa Eduardo Vilarinho, do site CavZodíaco, o principal do país.
Nas lojas, a empresa de brinquedos esperava vender 90 mil unidades do primeiro lote de bonecos com armaduras e acabou com 400 mil. Em 1995, o Dia das Crianças e o Natal juntos venderam mais de um milhão de bonecos: faturamento de mais de R$ 50 milhões para a Samtoy.
Portas abertas
A Manchete já era conhecida por exibir séries de heróis japoneses, como Jaspion, Jiban, Jiraya, Black Kamen Ryder e Changeman, mas nada semelhante ao fenômeno do cavaleiro de Pégasus e companheiros. Os mangás, revistas, álbuns de figurinhas e até o disco com a trilha sonora vendiam feito água. A dupla infantil Larissa e William, que cantava o tema principal, alcançou programas de outros canais, como o Xuxa Hits, da Globo.
Foi a deixa que o mercado dos desenhos japoneses precisava para invadir a TV brasileira. A Manchete investiu ainda em 'Yu Yu Hakusho', 'Sailor Moon', 'Shurato', 'Samurai Warriors' e 'Supercampeões', o SBT apostou em 'Dragon Ball' e 'Guerreiras mágicas', a Globo, em 'Sakura Card Captors', 'Super Pig' e 'Digimon' e a Record ficou com os monstrinhos de 'Pokémon', sucesso mundial até hoje. Na TV fechada, culminaram 'Naruto' e 'One piece'.
Novos produtos
'Os Cavaleiros do Zodíaco' foi exibido pela Manchete, Band, pelo Cartoon Network e por várias emissoras. Atualmente, pode ser visto no Netflix, além de sites piratas. A série Ômega também está fora das grades. Kurumada dá continuidade à saga no mangá Next dimension, com periodicidade indefinida e apenas nove edições desde 2006. “O próximo sonho de consumo dos fãs é o anime, mas não há previsão. Nossa esperança é que o sucesso do filme estimule a adaptação”, torce Vilarinho. Paralelamente, outros artistas também lançam histórias oficiais. O único com versão brasileira é 'The lost canvas'. Já os bonecos colecionáveis dos cavaleiros chegam às lojas mensalmente e custam entre R$ 250 e R$ 400.
NÚMEROS
113 episódios da série original, dividida nas sagas 'Santuário', 'Asgard' e 'Poseidon'
31 episódios da saga de Hades ('Santuário', 'Inferno' e 'Elíseos'), lançada em 2002 no Japão
6 filmes de animação
3 longas-metragens no cinema: 'A lenda dos defensores de Atena', 'Prólogo do Céu' e 'A lenda do Santuário', que estreará nesta quinta
700 mil unidades de CDs da trilha sonora vendidos em 1995 no país
1 milhão de bonecos vendidos no Dia das Crianças e Natal de 1995 no Brasil
Assista ao trailer de Os Cavaleiros do Zodíaco - A lenda do Santuário: